Por Miguel Arcanjo Prado
Quando chego ao café em frente à entrada de serviço do Teatro Frei Caneca, onde está em cartaz com o musical Hair, Carol Puntel já me espera.
Cabelos ruivos, encaracolados e soltos, sorriso no rosto, olhar doce.
A conversa começa ainda sem muita intimidade. Demora um pouco, mas logo flui.
Ela me conta que estudou balé clássico no Teatro Municipal do Rio, que tinha bisavô maestro e que canta em casa desde pequena. Até na Índia já se apresentou, numa espécie de turismo cultural feito em família. E na Itália também, com o musical Francisco de Assis, dirigido por Ciro Barcellos, no qual era Santa Clara.
O público dos musicais já percebeu que Carol tem bagagem. Não é à toa que integrou os mais importantes musicais feitos no País, como My Fair Lady, A Noviça Rebelde (era a filha mais velha do Capitão Von Trapp, Liesl, aquela que só tinha 16 anos) e Cats, no qual substituiu Paula Lima como a gata Grizabella e arrasava cantando Memory.
O primeiro grande musical foi O Fantasma da Ópera. Veio de ônibus do Rio a São Paulo para fazer o teste. Quase morreu de susto quando passou. Seria a primeira vez longe de casa, da família, de tudo. Mas cada vez mais perto de seu sonho.
Carol é “caxias”. Estuda canto todos os dias. É um pouco sozinha no Brasil, porque os pais, Carlos e Suely, que são dentistas e pianistas, vivem em Portugal há seis anos. Lá também estão suas duas irmãs, a bailarina Joana e a também pianista Renata.
Mas o coração não está de todo só: é ocupado, no momento, pelo também ator André Saporetti. É um namoro só de começo de semana. Já que ela só pode vê-lo de segunda a quarta, por conta do musical em São Paulo.
Em Hair, vive Sheila, a militante esquerdista da comunidade hippie do espetáculo.
Por canta da personagem, anda lendo muito. Os livros vão do existencialismo de Jean-Paul Sartre ao pacifismo de Mahatma Gandhi. “Adoro estar numa peça que prega a humanidade, o amor, o fim da guerra”, filosofa.
Quando olha para trás, mal acredita em tudo que já fez e guarda com carinho especial o dia em que Fernanda Monteengro visitou o camarim de Hair. Tremeu nas bases.
Apesar de gostar de conjugar canto, dança e interpretação em cena, também sonha em fazer outras coisas, como cinema e TV. “Não sou só atriz de musical, temos de quebrar com esse preconceito”, diz, incorporando a coragem de Sheila.
É fã do novelista Manoel Carlos, que a colocou para cantar em Páginas da Vida. Sempre que se esbarra com ele nas livrarias cariocas, fica paralisada.
Quando questiono onde quer estar daqui a 20 anos, pensa e responde, com a voz doce e serena. “Penso continuar minha carreira, crescendo, aos poucos. Sou uma pessoa muito positiva”.
Já quando pergunto se ela percebeu que é nossa atual princesinha dos musicais, Carol cora, modesta, e faz piada. “Princesinha?… Acho que não, hein. Como sou princesinha, se interpretei a Grizabella, a gata velha de Cats [risos]?”