Nara Lofego Leão, se estivesse viva, teria completado 70 anos no último dia 19 de janeiro. Contudo, independentemente de sua precoce morte, ela revive, a cada fim de semana, no palco do Teatro Jaraguá na pele de Fernanda Couto, no musical Nara.
A montagem volta a São Paulo, após turnê de sucesso, para comemorar a data. E retorna melhor ainda, se é que isso é possível.
Nara Leão foi muito mais do que a musa da bossa nova ou a moça que tinha os mais belos joelhos da MPB. Apesar de sua meiguice evidente em cada canção ou entrevista, Nara tinha força, presença e, antes de tudo, opinião. A famosa opinião de Nara.
O musical que leva o nome da artista, em São Paulo, tem o mérito de reavivar a memória da cantora, em tempos cada vez mais desmemoriados.
A atriz Fernanda Couto, que vive a artista no palco e é responsável pela gestão do espetáculo, surge despretensiosamente no corredor do teatro ao som de Diz que Fui por Aí. O público olha para trás em busca da dona daquela voz e, a partir daí, a música de Nara se faz.
Sob direção de Márcio Araújo e direção musical de Pedro Paulo Bogossian, Fernanda é acompanhada no palco por três excelentes músicos: Rodrigo Sanches, William Guedes e Guilherme Terra.
Além de tocar e fazer coro, eles fazem às vezes de atores, interpretando os homens que passaram pela vida de Nara. E que homens: Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Vinícius de Moraes e Cacá Diegues são apenas alguns de uma extensa lista que engloba boa parte da cultura nacional na segunda metade do século 20.
E o trio de músicos tem a graça e virilidade necessárias para contrabalancear a meiguice de Nara. Com açúcar e com afeto, Fernanda – que tem a mesma beleza simples da cantora – ora vive a própria Nara ora fala dela na terceira pessoa, como uma artista em busca de outra tão semelhante de si.
Há momentos de extrema consternação, quando a plateia vira o público dos famosos festivais da Record nos anos 1960 e canta em uníssono A Banda junto do elenco. E ainda emocionantes, como quando o público percebe que Nara já sente reflexos do tumor cerebral, que a matou em 7 de junho de 1989 com apenas 47 anos de idade, mas que jamais conseguiu calar a voz da menina mais doce que já existiu em nossa música.
O mérito do musical Nara é, em tempos de cenários mirabolantes e elencos grandiosos de produções importadas da Broadway, mostrar que a beleza pode estar escondida em um tipo de arte que só existe por aqui, arte da qual Nara foi e é porta-bandeira.
Nara
Avaliação: ótimo
Quando: sábado, às 21h; domingo, às 19h. Até 18/3/2012
Onde: Teatro Jaraguá (r. Martins Fontes, 71, Bela Vista, São Paulo, tel. 0/xx/11 3255-4380)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Classificação: 8 anos
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