Por Miguel Arcanjo Prado
Assim como o Rio, São Paulo já é de Tiago Abravanel. Ou seria de Tim Maia?
A sinergia entre o ator e o personagem é tanta que fica uma dúvida gostosa na plateia de Tim Maia – Vale Tudo, o Musical, em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, após temporada carioca vista por 100 mil pessoas.
O Brasil sempre teve uma relação de amor e ódio com o cantor. Ódio por ele não comparecer aos shows ou, nervoso, partir para cima de sua plateia quando aparecia. Mas a raiva sempre era suplantada pelo amor tão presente em suas canções que fazem parte da vida de todos nós. E porque, tal qual mulher de malandro, a gente apanhava de Tim e gostava.
É a ligação afetiva que o brasileiro tem com a obra deste gênio de nossa música o forte do musical dirigido por João Fonseca e escrito por Nelson Motta. E é dominado por tal passionalidade que o espectador comum assiste ao musical, ávido por rever um amigo que deixou aquela saudade gigante com sua partida.
No papel título, Tiago Abravanel deixou de ser apenas o neto de Silvio Santos para se tornar um dos nomes mais comentados de nosso teatro aos 24 anos.
Parece coisa do destino mesmo. Quem vê a obra entende que o papel tinha de ser dele. O garoto se entrega a Tim com humor, carisma e um vozeirão que faz tremer tudo. Conquista o espectador tal qual o charme de Tim Maia.
Sabiamente, Fonseca deu peso também à participação dos outros dez atores, não deixando a turma só fazendo coro. Apesar das caricaturas, cada um tem seu solo no espetáculo ao lado de Tim.
Reiner Tenente faz a plateia morrer de rir com sua interpretação de Roberto Carlos. Izabella Bicalho também conquista com sua versão da Pimentinha Elis Regina. Dona de uma voz arrasa-quarteirao, Lilian Valeska dá charme e simpatia à Janete, primeiro amor de Tim.
Pedro Lima também não faz feio quando tem a deixa para mostrar sua voz grave de um baixo profundo. Com bom tempo de comédia, Elelyn Castro tem presença inquestionável quando o diretor lhe dá um espaço maior. Completam o time Pablo Áscoli, Bernardo La Rocque, Andreh Viéri, Aline Wirley e Letícia Pedroza.
Destaque ainda na produção de Sandro Chaim para os ajustados figurinos de Rui Cortez, que retratam a moda dos anos 50 até os 90. E a iluminação de show feita por Paulo César Medeiros. Nello Marrese também econtrou soluções poéticas para a simplória a cenografia, como quando a beleza do Rio de Janeiro surge aos olhos do menino Tim ao som de Do Leme ao Pontal.
Em se falando do perfeccionista Tim, a banda não poderia dever. Com assistência de Carol Futuro, o diretor musical Alexandre Elias escolheu uma competente banda para o musical. A nova versão da Vitória Régia, formada por Claudemir Alves, no trompete, Marcelo Manfra, no saxofone, TottyBone, no trombone, Alexandre Elias, na guitarra, Alexandre Vianna, nos teclados, Decko Telles, no baixo, e Kiko Andrioli, na bateria, deixaria o patrão Tim Maia satisfeito com sua competente mistura de ritmos.
E é o arrepio que a plateia sente ao fim do espetáculo que dá a real sensação de que Tim Maia está, sim, lá em cima, feliz de ter caído, outra vez, na boca do povo.
Tim Maia – Vale Tudo, o Musical
Avaliação: muito bom
Quando: quinta, às 21h; sexta, às 21h30; sábado, às 21h; e domingo, às 18h. Até 24/6/2012
Onde: Teatro Procópio Ferreira (r. Augusta, 2.823, Jardins, São Paulo, tel. 0/xx/11 3083-4475)
Quanto: R$ 50 a R$ 150
Classificação: 14 anos