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Priscilla, Rainha do Deserto é o melhor musical de São Paulo

André Torquato, Ruben Gabira e Luciano Andrey: o competente trio de Priscilla - Foto: Caio Gallucci

Por Miguel Arcanjo Prado

Na última década, o teatro musical brasileiro voa em velocidade estonteante. Tal fôlego transformou São Paulo na Broadway brasileira e culmina em um espetáculo à altura da nova alcunha da cidade.

Nos últimos dias, estrearam quatro grandes produções: A Família Addams, O Violinista no Telhado, Tim Maia, Vale Tudo e, por último, Priscilla, Rainha do Deserto, na última sexta (16). Como na frase bíblica, o último já é o primeiro da lista.

A história criada pelo australiano Stephan Elliot em apenas 12 dias, em 1993, tornou-se, no ano seguinte, o filme Priscilla, Rainha do Deserto, vencedor do Oscar de melhor figurino e um dos grandes sucessos de todos os tempos do cinema australiano.

Em 2006, Elliot resolveu o que parecia óbvio: aquela história daria um musical. Para tanto, uniu-se a Allan Scott e estreou a obra naquele ano nos palcos de Sidney.

O sucesso foi imediato e, desde então, Priscilla foi visto por 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo Nova York, onde está em cartaz há um ano na Broadway e foi visto por 300 mil pessoas.

A versão brasileira é assinada por Flávio Marinho. Mas a tradução se concentrou nos diálogos, já que a maior parte das canções foram mantidas em inglês. Afinal, hits como It’s Raining Men, Material Girl, True Colors e I Will Survive dispensam apresentações.

Em conversa com o blog logo após a estreia da última sexta (16), o simpático Elliot, que é casado com um brasileiro, contou que ficou impressionado com o elenco paulistano.

Revelou que, “enquanto em outros países via atores olhando para o relógio quando os ensaios demoravam, os brasileiros demonstraram garra e disposição para fazer sempre o melhor, levasse o tempo que fosse”.

Tal compromisso é perceptível no palco. Luciano Andrey, Ruben Gabira e André Torquato, o trio que dá vida às drag queens que viajam pelo interior da Austrália em um ônibus performático, apresentam construção minuciosa de cada personagem, coisa não muito comum em musicais.

Em Priscilla, interpretação e diálogos não foram postos de lado diante dos números musicais. Demonstram igual força e cuidado.

O talentoso Andrey, que já havia chamado a atenção ao interpretar outro gay confuso em Mambo Italiano, empresta força cênica a Mitzi, o drag queen que tem medo de não ser aceito pelo filho que deixou no interior do país, agora com seis anos.

Gabira dá charme e carisma à transexual Bernadette, a veterana do trio. Já o jovem Torquato exibe invejável técnica corporal aliada a um timing cômico em seus ousados números.

O elenco traz nomes conhecidos: Saulo Vasconcelos, nosso primeiro grande ator de musicais, abraça o caipira Bob, Lissah Martins, que protagonizou Miss Saigon, faz uma engraçada participação como a fogosa mulher deste, Cynthia.

Simone Gutierrez incorpora o time de divas, ao lado das também ótimas cantoras Priscila Borges e Lívia Graciano, e causa impacto no número de Girls Just Wanna Have Fun, de Cyndi Lauper.

São 28 nomes no elenco, incluindo três crianças que se dividem para interpretar Benji, o filho de Mitzi. Todos num mesmo registro. Ponto para a direção.

Entretanto, Priscilla não conquista apenas por sua grandiosidade. Tudo bem, são 500 figurinos de cair o queixo, 200 perucas espalhafatosas e 23 toneladas de cenário, somando-se aí o impressionante ônibus de oito toneladas e 30 mil pontos de LED. Mas o que realmente pega o público é a história bem contada e interpretada.

A inventiva direção de Simon Phillips, com direção musical de Stephen “Spud” Murphy (em parceria com a diretora residente Tania Nardini e o diretor musical residente Miguel Briamonte), mantém o espectador dentro da história.

O luxo dos figurinos de Tim Chappel e Lizzy Gardiner, a luz de tirar o fôlego de Nick Schlieper ou as verdadeiras obras de arte das maquiagens e perucas de Ben Moir não concorrem com o texto. Muito pelo contrário, aliam-se a ele para tornar o musical impactante.

Isto faz o público de Priscilla deixar os preconceitos do lado de fora do teatro. Não são apenas drags exuberantes e engraçadas no palco. Apesar do bom humor mantido, há vida humana, com o drama dos sucessos e fracassos.

Como disse Elliot ao blog, qualquer um que assistir à obra, seja gay ou heterossexual, sairá do teatro com menos preconceito e com uma lição aprendida: a de que, apesar das perucas, saltos e maquiagem em excesso de alguns, todos nos igualamos em sermos simplesmente humanos.

O desenho de sentimentos caros ao homem como o amor e a amizade é a força deste belíssimo espetáculo, sem dúvida alguma, o melhor musical de São Paulo e, por isso, é imperdível.

Priscilla, Rainha do Deserto
Avaliação: ótimo
Quando: quinta e sexta, 21h; sábado, 17h e 21h; e domingo, 16h e 20h; Até dez/2012
Onde: Teatro Bradesco (av. Turiassú, 2.100, Pompeia, Shopping Bourbon, São Paulo, tel. 0/xx/11 3670-4141)
Quanto: R$ 40 a R$ 250
Classificação: 12 anos (mas menores desta faixa etária podem entrar com os pais)

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