Prêt-à-Porter 10 reproduz vida medíocre
Por Miguel Arcanjo Prado
Assim como seu mestre, os pupilos de Antunes Filho sempre trazem contribuições ao teatro brasileiro. Ou pelo menos tentativas.
A cada edição do projeto Prêt-à-Porter, na qual incentiva seus atores a criarem pequenas cenas desde 1998, surgem talentos e propostas.
Em sua décima edição, o projeto está de volta ao Sesc Consolação, onde já ficou em cartaz, com sucesso, em 2011. É lá que fica o Centro de Pesquisa Teatral, o CPT, comandado por Antunes a mão de ferro.
Composto de três cenas distintas, o espetáculo busca sempre a falta de afetação e a sobriedade dos elementos cênicos e interpretativos que constroem a cena. Tudo em nome do “naturalismo” proposto por Antunes em contraponto às interpretações afetadas que ele enxerga no teatro contemporâneo.
O diretor tenta fazer com que os atores “conversem” com a plateia. Numa tentativa obsessiva de limar a “interpretação” de seus profissionais. É um esforço e tanto. Porque a vida real também é cheia de caricaturas, mesmo que Antunes não pareça acreditar nelas.
A primeira cena é Adorável Callas. Ela trata do convívio de uma enfermeira (Nara Chaib) que cuida da renomada cantora (Patrícia Carvalho), já velha e com esplendor em xeque. Enquanto a jovem personagem de Nara abusa da verborragia, a diva vivida Patrícia faz do silêncio maduro seu trunfo e seu brilho maior. Sem palavras, a atriz demonstra trabalho árduo cênico ao segurar o público com olhares e gestos.
O Homem das Viagens é a segunda cena. Apresenta o encontro entre um soturno homem (Marcos de Andrade) e uma moça com problemas motores (Natalie Pascoal), que, ciente de suas limitações físicas, tenta conquistá-lo com inúmeros quitutes que prepara. No desenrolar da conversa, que começa de forma inocente, ele acaba por revelar hábitos repugnantes. Ao contrário do que pede a cartilha de Antunes, Andrade aparece em alguns momentos por demais afetado em seu discurso. Mais uma vez, ganha o mínimo representado pelo comedimento de Natalie.
Contudo , a melhor cena é a terceira, Cruzamentos. Nela, um rico judeu oprime seu funcionário negro. Marcelo Szpektor dá vida ao patrão cheio de taras obscuras. Faz o personagem de forma correta, mas é Geraldo Mário quem se sobressai, dando ao subalterno que interpreta uma subserviência amedrontada, mas com palpável resistência.
No conjunto, a décima edição do Prêt-à-Porter não quebra paradigmas. Muito pelo contrário, reforça o medíocre do mundo.
A dramaturgia que poderia provocar certa ruptura com o vigente vai atrás da cartilha do lugar-comum. A velha famosa decadente é humilhada pela vida em polvorosa da jovem enfermeira. A moça deficiente é desesperada para conquistar um pouco de carinho daquele que a despreza. O negro pobre é subjugado pelo rico patrão judeu.
Se a vida é tão óbvia de fato, o teatro seria um bom lugar para subverter a ordem das coisas.
Prê-à-Porter 10
Avaliação: Bom
Quando: Sábados, às 18h. Até 28/7/2012.
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, SP; tel. 0/xx/11 3234-3000)
Quanto: R$ 10 (inteira); R$ 5 (usuário do Sesc) e R$ 2,50 (comerciário)
Classificação: 16 anos
O fotógrafo Bob Sousa registrou uma das apresentações de Prêt-à-Porter 10. Veja as três cenas da obra pela lente do nosso competente moço:
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