Satyros’ Satyricon faz túnel sexual no submundo
Por Miguel Arcanjo Prado
A praça Roosevelt, no centro de São Paulo, é o cenário underground por excelência da cidade, com seus bares e teatros repletos de artistas e gente alternativa.
O espetáculo Satyros’ Satyricon, da Cia. Os Satyros, instalada no local, dialoga exatamente com este entorno.
O diretor Rodolfo García Vázquez é praticamente especialista em submundo. Dessa vez, dividiu a montagem, que conta com numeroso e jovem elenco de quase 40 atores, em três partes distintas, que podem ser vistas juntas ou não.
A primeira é Trincha, um túnel subterrâneo repleto de personagens marginais, seguida de Satyricon, adaptação da peça tradicional do romano Petrônio agora recheada de referências aos garotos de programa do centro, e, por último, Suburra, uma espécie de festa final que tenta congregar personagens e público.
A primeira parte é a mais provocativa da encenação. Praticamente uma instalação melhor do que a de muitos artistas plásticos da atualidade, faz o espectador percorrer labirintos onde lascívia, orgia e perversão estão presentes a cada curva e a cada cheiro.
É possível, por exemplo, encontrar-se com uma vidente, interpretada com entrega desmedida pela atriz Brenda Oliver, ou uma prostituta que apresenta a seus clientes seu currículo adequado aos novos tempos de alta competitividade no mercado profissional. Daniela Bomtempi constrói esta personagem longe da caricatura e traz ares tão verossímeis que estabelece um diálogo que deixa o espectador desconcertado.
Os figurinos de Camasi Guimarães e Daíse Neves e a iluminação de Flávio Duarte e Vázquez ajudam a compor o ambiente de ilusão momentânea, assim como a inventiva cenografia proposta pelo diretor, que ocupa e transforma cada canto do espaço.
A segunda parte, a peça tradicional, tenta a todo custo manter a excitação do público vindo dos túneis. Evaldo Morcazel, o autor, faz o texto escrito no ano 60 da Era Cristã se misturar com o linguajar coloquial da metrópole.
Davi Tostes, na pele do sedutor romano Gitão, usa a crença em sua juventude e corpo perfeito na construção libidinosa da relação com Ascilto (um raivoso Marcelo Jacob) e Encólpio (um soturno Breno da Matta). Eles formam um triângulo amoroso gay cheio de conflitos.
O foco nas situações sexuais que surgem é grande, com elenco embarcando de cabeça na proposta. Talvez um pouco de ironia por parte dos intérpretes nas cenas fosse mais verossímil.
Satyricon faz recordar outras montagens recentes do grupo, como a trilogia do Marquês de Sade. Os marinheiros de primeira viagem podem até se impactar com a libido em riste dos Satyros, mas quem acompanha o trabalho da companhia há algum tempo já não consegue tamanho deslumbre.
No elenco ainda estão Fabrício Castro, Dyl Pires, Katia Calsavara, Alexandre Magno de Castro, Mariana França, Deborah Graça, Rafael Mendes, Renata Admiral, Lino Reis, Samira Lochter, Antonio Revuelta, Elias Felix, Julia Ornelas, Marcio Pellegrini, Camasi Guimarães e Thadeo Ibarra.
A última parte, a festa Suburra, é a menos impactante. Afinal, é complicado se divertir de fato quando limites parecem ter caído por terra, mas ainda existem. Na sessão vista pelo R7, por exemplo, houve um espectador que, imerso na interação proposta, quis beijar um ator do elenco. Este preferiu, prudentemente, recusar tamanho encontro.
Apesar desses desencontros pontuais, os Satyros continuam provocativos ao fazer de seu teatro um espaço para personagens que a cidade esconde e despreza. Vázquez prende e agoniza o espectador em seu submundo realçado pela verdade da entrega de seu elenco, que ele mantém nas mãos em um conjunto que amedronta e seduz.
Satyros’ Satyricon
Avaliação: Bom
Quando: quinta e sexta, às 21h; sábado e domingo, às 20h. Até 22/7/2012
Onde: Espaço dos Satyros 2 (praça Franklin Roosevelt, 132, Consolação, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-6345)
Quanto: R$ 20
Classificação: 18 anos
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Não acho que um ator se recusar a beijar uma pessoa do público torne a peça limitada. Francamente, em uma balada qualquer, não são todas as pessoas que beijam qualquer um. Limitada foi sua observação. E achei a Suburra a melhor parte, mais inovadora como estética e texto.