Cristiano Kunitake, o bravo samurai do teatro
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Eduardo Enomoto
O ator curitibano Cristiano Kunitake corre atrás do que quer. Aos 21 anos, conquista, a cada dia, São Paulo.
Integrante do do elogiado espetáculo Barafonda, da Cia. São Jorge de Variedades, se destacou no numeroso elenco e foi eleito muso do teatro pelos internautas do R7.
A montagem conta a história do bairro da Barra Funda, na zona oeste paulistana, onde ele conversou e posou para o Atores & Bastidores.
Filho de mãe brasileira, Vera, que morreu quando ele ainda era pequeno, e pai japonês, o também Cristiano Kunitake, chegou a morar no Japão com um tio por dois anos, no fim da infância. Mas, logo voltou aos cuidados da avó paterna no Paraná, Hideko Kunitake, de quem “sente muita saudade”.
Na adolescência, veio o interesse pelo teatro. Foi Andréa Pavelski, uma amiga desde a pré-escola, quem lhe apresentou novas possibilidades.
— Ela virou modelo e me disse que iria se mudar para São Paulo. Fiquei com vontade de fazer algo que não sabia bem o que seria. Mas queria ser alguma coisa, mesmo desse tamaninho.
Do alto de seu 1,60 metro e 55 quilos, Cristiano buscou cursos de interpretação na capital paranaense. Logo, se apaixonou pelo teatro. A busca pelo novo em cada cena lhe trouxe possibilidade profissional. A família japonesa não gostou da história. Mas não desistiu, mesmo diante do que diziam.
— Sempre me falaram que ia ser difícil, porque eu sou baixinho, japonês…
Deixou para a cabeça alheia os preconceitos. Correu atrás. Sua primeira peça foi Não É Mais um Dramalhão Mexicano, que agitou o Teatro Odelair Rodrigues durante o Festival de Curitiba de 2008.
Com os trabalhos, conseguiu seu sonhado registro de ator. Era o que faltava para dar um passo ainda maior: tentar a carreira em São Paulo.
Mesmo com a família contra, juntou R$ 500 e partiu rumo à metrópole, mesmo sem conhecer ninguém. Foi para um pensionato. Sobreviveu nem sabe como. Buscou emprego em todos os lugares. E o mais importante: não desistiu.
—Minha avó ficou preocupada, mas sempre acreditou na minha força de vontade. Lembro que no primeiro dia pensei: o que eu vou fazer, meu Deus? Fui procurar uma agência de atores. Nem dinheiro para fazer o book eu tinha. Eles foram legais e falaram que eu poderia pagar com o primeiro cachê.
Quando pensou que nada daria certo, conseguiu fazer um bom comercial, para a Coca-Cola Zero. Jamais vai se esquecer.
— Estava pronto para desistir e voltar para Curitiba. Aí fiz o teste e passei. Pensei: ou eu largo tudo de uma vez ou vou me doar por completo.
Resolveu investir a grana em seu aperfeiçoamento. Foi fazer o curso de interpretação para cinema da renomada Fátima Toledo – preparadora do elenco do filme Tropa de Elite. Lá, conheceu o amigo Anderson D’ Kássio, ator e cantor, que lhe falou que podiam dividir um apartamento e que havia uma tal companhia São Jorge de Variedades que estava selecionando elenco.
Foi bater à porta do grupo, na Barra Funda, com a cara e a coragem.
— Fui frequentando e, quando vi, estava completamente tomado pelo processo do espetáculo Barafonda. Este momento que estou vivendo hoje, com a São Jorge de Variedades, é o mais importante da minha carreira até o momento.
Cristiano acaba de rodar o seriado Vida de República, para o canal Futura, dirigido por Janaína Fischer e Marcio Schoenardie, na Casa de Cinema de Porto Alegre. E ainda sonha fazer cinema e outros projetos na TV. Mas não pretende largar o teatro. Muito pelo contrário.
— Eu deixo rolar, mas sou trabalhador. Apanhei muito aqui em São Paulo, mas só me fez crescer. Quero viver experiências que só o teatro proporciona. Como vou dar vazão a tudo que quero comunicar às pessoas? Acho que o teatro é uma boa ferramenta.
Sem medo de trabalhar duro, Cristiano Kunitake mostra que tem tudo para chegar aonde quiser.
— Acho que tenho essa coisa de japonês, de querer fazer sempre bem feito, para ser o melhor. Meu plano é evoluir com a maior verdade que eu puder passar. Penso todos os dias por que faço isso… Estou tentando ainda descobrir. Mas uma certeza eu tenho: eu amo ser ator.
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