Cleyde Yáconis lê Nelson Rodrigues em noite de tensão e aplausos no Auditório Ibirapuera
Por Miguel Arcanjo Prado
Cleyde Yáconis é um dos maiores nomes de nossos palcos. Não cabe questionamento. E é por isso que uma apresentação dela, sobretudo aos 88 anos, é obrigatória.
No último fim de semana, ela apresentou o espetáculo Elas Não Gostam de Apanhar, integrante das homenagens do Itaú Cultural ao centenário de Nelson Rodrigues. Na verdade, tratava-se de uma leitura de uma compilação de textos do autor sobre o mundo feminino, fazendo trocadilho com a célebre frase de nosso dramaturgo, sob direção de Marco Antônio Braz, especialista no mestre.
Cleyde teve a companhia de Denise Fraga na leitura dos textos. Na estreia, na última sexta (27), à qual o R7 assistiu, ambas estavam nervosas diante do Auditório Ibirapuera.
Foi Cleyde quem explicou o motivo do nervosismo ao público, após os aplausos finais: tiveram apenas dois dias para ensaiar.
Com o carinho da plateia, Cleyde roubou a cena a cada frase dita, mesmo diante da dificuldade em ler a letra miúda no calhamaço de papel que se desmanchava em suas mãos. Poderiam ter encadernado o texto, o que teria facilitado a vida da atriz veterana.
Apesar do acerto com as projeções, que ajudavam a quebrar o clima de uma leitura, a longa duração não colaborou. Não teria sido nada mau se o diretor tivesse cortado um pouco o texto.
Mas Cleyde Yáconis demonstrou que pode tudo. Tanto que, quando um trecho não lhe saía a contento, não titubeava em recomeçar. Parceira, Denise Fraga serviu de ajuda fundamental, ajudando-a no acompanhamento do texto, quando ela se perdia com a letra pequenina.
Ao fim, Cleyde Yáconis foi ovacionada, claro. Educada, agradeceu. Apenas se assustou com o vaso de flores pesadíssimo trazido pelo diretor. Preferiu nem pegar.
Ciente da gafe, Marco Antônio Braz depositou o vaso no chão. Ao fim, Cleyde, elegantíssima, fez questão de se desculpar com o público e jogou a culpa pelas falhas no diretor. O público, mais uma vez, a aplaudiu de pé.
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