Peça mostra Plínio Marcos apaixonado por futebol
Por Miguel Arcanjo Prado
Graça Berman – Sim. Optamos por começar com o Plínio, de como ele via o futebol. São sete atores no palco vivendo e contando as histórias dele.
R7 – Você era amiga do Plínio Marcos?
Graça Berman – Eu era amiga dele. Era meu irmão. Convivemos muito do início da década de 1980 até o fim da vida dele [em 1999]. Então, é mais simples falar de uma pessoa que eu conheço.
R7 – Como era o Plínio?
Graça Berman – O Plínio era muito brincalhão. Adorava tirar sarro das pessoas. Eu participei do movimento estudantil, fui uma das fundadoras do PT [partido com o qual não tem mais ligação], mas nunca fui presa. Só fui detida em uma passeata. O Plínio conhecia minha mãe de encontros no Gigetto [restaurante paulistano frequentado por jornalistas e classe teatral]. Um dia, a minha mãe atendeu o telefone e alguém do outro lado da linha disse: “Onde está a camarada Graça?”. Como minha mãe disse que eu não estava, ele ordenou: “Então, a senhora anote aí: vovô viu a uva”. Minha mãe não entendeu. Ele explicou: “É um código, minha senhora”. Quando voltei para casa, minha mãe queria saber em que eu estava metida. Mas ela não acreditou e me deu a maior dura. E tudo foi culpa do Plínio, que passou aquele trote. Quando fui reclamar com ele, ele ria muito. Ele adorava fazer brincadeiras assim.
R7 – O Plínio foi marcado por ser uma pessoa muito idealista e fiel a seus princípios…
Graça Berman – Sim, o Plínio era uma pessoa muito coerente. É uma das poucas pessoas coerentes que conheci. E ele cobrava isso das pessoas. Dizia que você não pode falar uma coisa e fazer outra. Uma vez ele me repreendeu: “Você é de esquerda, mas faz comercial na TV para banco, incentivando o povo a consumir uma coisa em que você não acredita”. São reflexões como essa que colocamos na peça de alguma maneira.
R7 – O Plínio é de um tipo de antes da queda das ideologias. Hoje somos todos iguais ao Cazuza, cantando “ideologia, eu quero uma pra viver”…
Graça Berman – Eu não acredito em mais ninguém. Quem pode ser meu ídolo hoje? Ninguém. Recuperar Plínio nesta peça é recuperar um artista de outra época. Mas será que essa época era legal? Eu fico também me preguntando.
R7 – Acho que o Plínio ainda mexe com você.
Graça Berman – Sim. Eu fiz muita campanha para o PT e fazia também a propaganda do Banco Real. Ele achava uma puta contradição e estava certo. Mas quando ele descobriu que estava com diabetes, ele me contou e falou que ia comprar a merda da insulina. Eu descolei com o médico a insulina e ele falou que tinha de ter geladeira. No outro dia, eu fui lá e comprei o frigobar e mandei entregar no apartamento que ele vivia, na Teodoro Baima, ali perto do Teatro de Arena. Eu falei para ele: “Eu comprei com o dinheiro dos comerciais”.
R7 – E essa história de trazer amigos do Plínio para a peça?
Graça Berman – Toda quinta feira vai ter bate-papo depois do espetáculo. É bom lembrar que quem for com camisa de time de futebol para ingresso com desconto. Nesta quinta vamos ter o Cléber Machado, o Beluso, que é ex-presidente do Palmeiras e amigo do Plínio no Gigetto, e o Oswaldo Mendes… Vamos montar uma biografia dele no palco.
R7 – Mexer com esse amigo do seu passado lhe deu saudade?
Graça Berman – Eu estou com 53 anos. E sinto que a vivência do tempo esta cada vez mais rápida. O cara de 30 já se acha de meia-idade. Nessa época, a gente era jovem. A gente acreditava. Hoje, as coisas são mais aceleradas e, infelizmente, há um excesso de informação, mas a memória está mais fragmentada. As pessoas perderam as referências. Por isso, elas acham difícil situar um cara que já morreu, como o Plínio. Mas a gente tem de lembrar desse cara. Estamos apresentando um cara do bem ao público, chamado Plínio Marcos.

Elenco do espetáculo A Bola da Vez: Plínio Marcos, em cartaz no Teatro Maria Della Costa - Divulgação
Adorei a ideia de relembrar dos caras legais que já passaram por aqui. Estamos acelerados mesmo?! O mundo nos trava e nos envelhece… acaba conosco.
É isso mesmo, Gabi. Mas é preciso estar atento e forte, como cantava a Gal.