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Rodolfo García Vázquez vive frenesi com Os Satyros

Três montagems simultâneas: Rodolfo García Vázquez está em tempos de agitação nos Satyros - Fotos: Bob Sousa

Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos Bob Sousa

A reportagem procura pelo diretor Rodolfo García Vázquez na praça Roosevelt, seu habitat natural, no centro paulistano. A porta do Espaço 1 de seu grupo, Os Satyros, está fechada.

Resolvemos tocar o interfone. Logo, Bruno Motta Mello, assessor da companhia, avisa do outro lado que ele está almoçando no restaurante ao lado, o La Barca. Corremos para lá, o fotógrafo Bob Sousa e eu.

Encontramos um Rodolfo bem servido de um prato de nhoque com salada, em uma mesa no canto direito do pequeno salão. Ao nos ver, pergunta se queremos acompanhá-lo. Arados de fome, aceitamos de pronto.

O segundo semestre começou com tudo para Vázquez. Afinal, Os Satyros continuam com seu ritmo frenético. Além de fazerem Vestido de Noiva, a partir desta quinta (16), no Teatro Cacilda Becker, em homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues, voltam com Cabaret Stravaganza em 15 de setembro e retomaram no último fim de semana o sucesso do primeiro semestre, Satyros’ Satyricon, a adaptação de Evaldo Mocarzel para o clássico do romano Petrônio.

Nesta última, além da peça em si, o frenesi fica por conta de outras duas partes do projeto, a Trincha, uma verdadeira instalação nos corredores subterrâneos do Espaço dos Satyros 2, também na Roosevelt, cheia de lascívia que antecede a montagem, e a festa Suburra, que junta público e obra após o aplauso final.

— A ideia dessa montagem surgiu de um espectador do Rio, que viu a Trilogia Libertina dos Satyros e sugeriu o Satyricon. Trouxemos questões do Império Romano para o mundo de hoje. Como a nova escravidão e a visão da homossexualidade.

Rodolfo gosta das histórias dos atores - Foto: Bob Sousa

Os Satyros transitam bem no mundo dito marginal. Marquês de Sade e Oscar Wilde já foram visitados pela trupe, que inaugurou o vaivém cultural na praça Roosevelt, cuja reforma será finalizada em setembro.

— A questão sexual é sempre um grande tema para Os Satyros. Basta você ver as transex que sempre trabalham conosco. Essa é uma questão política ímpar nossa.

Provocativos como sempre, em Vestido de Noiva, Os Satyros desconstruíram um estilo de se montar Nelson Rodrigues.

— Nossa montagem quebra muito com a tradição. É um Rio ao som de Björk. Ou seja, o Vestido de Noiva dos Satyros não é nada carioca. O Nelson era muito louco. Então quisemos ser loucos que nem ele.

A peça foi aclamada no começo do mês no Teatro Dulcina, no Rio, e causou fuzuê no Festival de Curitiba de 2008, quando trazia Norma Bengell, agora substituída por Helena Ignez como Madame Clessy.

— A Clessy da Helena é muito hippie. Parece que ela veio direto da década de 60 para o palco. Já a Clessy da Norma era mais clássica. Estamos muito tristes com a situação dela hoje [Norma sofre com problemas financeiros e está em cadeira de rodas]. Foi um grande orgulho trabalhar com ela, que já havia feito a mesma personagem com o [diretor] Ziembinski e com o próprio Nelson [Rodrigues] vivo. A presença dela no começo deste trabalho foi política, pelo que ela representava.

Vázquez se caracteriza por inundar seu palco com um grande número de atores jovens, muitos dos quais ainda crus no mundo da representação. Ele justifica.

— Uma das questões fundamentais nossas é democratizar o teatro como experiência de vida e não só estética. O que me interessa não é só o treinamento do ator, mas sua biografia. A história da Brenda Oliver [trans que faz Satyricon] como pessoa me interessa muito mais. Tem muito ator por aí que, de tanto treinamento, não tem mais identidade.

A mistura de elementos biográficos que acabam se confundindo com os personagens produz “um teatro da vida”, diz o diretor.

— Queremos experiências performáticas. Não queremos apenas teatro. Queremos uma outra linguagem e a recepção sempre foi incrível ao que propomos. É claro que tínhamos medo no começo, afinal a Trincha coloca o espectador em uma relação sinestésica com os atores e a Suburra é um happening coletivo. Era tudo muito arriscado. Não sabíamos no que ia dar. Podem gostar ou não, mas trata-se de um trabalho ousado.

Três Satyros (em sentido horário): Vestido de Noiva, Satyros'Satyricon e Cabaret Stravaganza - Fotos: André Stéfano

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