Godspell reúne jovens cheios de amor e utopia
Por Miguel Arcanjo Prado
Gente jovem reunida em torno da mensagem que mais produziu seguidores nos últimos 2.000 anos. Assim é o musical Godspell, cuja chegada na off-Broadway, há 40 anos, provocou rebuliço.
Afinal de contas, em tempos de contracultura, a produção buscava no surgimento do cristianismo as premissas daquela geração que bradava “faça amor, não faça guerra” pelas ruas de Nova York.
A obra de John-Michael Tebelak e Stephen Schwartz pode parecer datada, mas a nova montagem do musical nos palcos paulistanos prova que Godspell sobrevive intacto à vitória do capitalismo de mercado.
A corajosa produção da atriz Janaína Lince em parceria com o editor de livros Evandro Martins Fontes tem direção de Kleber di Lázzare, experiente em musicais. Ela ocupa a pequena sala do Teatro Commune, na rua da Consolação, onde público e elenco ficam bem próximos.
Assim que entra no espaço, o espectador dá de cara com o grupo de jovens urbanos desgarrados que será atraído pela pregação de Cristo. Se os jovens originais tinham ares de nova-iorquinos do Central Park dos anos 1970, agora se parecem com personagens que podem ser vistos nas avenidas Paulista ou São João. Vão de viciados em crack a executivos com seus celulares modernos.
A peça é uma espécie de roteiro “pop-rock” baseado no Evangelho Segundo São Mateus, indo desde a profecia de João Batista – interpretado por Arthur Berges, que também vive Judas –, até a chegada de Cristo, sua pregação e sua crucificação – o Messias é interpretado por Igor Miranda, que em vez da camisa de Super-Homem do filme homônimo de 1973 veste uma camisa dez da seleção brasileira.
Um dos acertos da direção é a construção de jogos teatrais para contar parábolas e ensinamentos de Cristo. Nestes momentos, o elenco surge sintonizado, apesar de heterogêneo, funcionando como um todo coeso e atrativo.
No grupo de jovens, quem mais de destacam são Davi Tápias e Pier Marchi, com interpretações singelas e ao mesmo tempo tocantes. Louise Helene Schlemm também se sobressai com sua entrega desmedida (e jamais freada pela direção).
O elenco ainda traz Aline Leite, Anna Toledo, Janaína Lince, Carlos Sanmartin, Mariana Elisabetsky, Guilherme Lazary e Renata Versolato. Mesmo que haja algumas derrapagens, todos possuem, no mínimo, dedicação evidente a seus personagens.
O ponto forte é a direção musical, assinada por Afonjah e Gilvan Gomes – também responsável pela tradução das músicas. A dupla consegue unir o som roqueiro da banda formada por eles na companhia de Marcos Uzun e Rafael Marão ao elenco, que canta afinado, fruto da direção vocal de Eduardo Berton. Democrático, o diretor dividiu os solos com os 12 atores do elenco.
Se a iluminação irregular não ajuda, bem como a cenografia simplória de Kleber di Lazzare e Celso Ohi, os sofisticados figurinos assinados pelo último não só sustentam a composição dos personagens como também preenchem os vazios do cenário com sua beleza diversa.
O maior mérito da nova montagem é conseguir passar ao público, mais uma vez, uma mensagem conhecida de muitos, mas por tantos ignorada propositadamente, sob o pretexto de ser careta e ultrapassada. Com verdade e brilho no olhar, a batalhadora turma de Godspell prova que é possível, sim, a vitória do amor. Pelo menos no plano do sonho, do palco. E o que seria de nós se a utopia não fosse ainda possível nestes tempos tão tenebrosos?
Godspell
Avaliação: Muito bom
Quando: Sexta, às 21h30; sábado, às 21h; e domingo, às 20h. Até 30/9/2012
Onde: Teatro Commune (r. da Consolação, 1.218, Higienópolis, São Paulo, tel. 0/xx/11 3476-0792)
Quanto: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada)
Classificação: 10 anos
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Lindo espetáculo, muito fiel a essência das escrituras, numa linguagem atual e envolvente,atores maravilhosos, vale muito a pena assistir.