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Humano e sensível, 1 Torto do Grupo Magiluth mostra força cênica do ator Giordano Castro

Um grande ator: público fica sem saber se Giordano Castro conversa ou atua – Foto: Juliana Galvão

Por Miguel Arcanjo Prado

Aquilo que Meu Olhar Guardou para Você foi a primeira obra que vi do Grupo Magiluth, que se apresentou no Festival de Curitiba, no começo deste ano. Naquele momento, não gostei.

Aquele monte de rapazes tentando fazer confidências à plateia, puxando o público até o centro do palco do Teatro Paiol, me soou demasiado. Foi o que escrevi.

Meses mais tarde, eis que o Magiluth aporta em São Paulo. Trazem não só Aquilo, como outros dois espetáculos, 1 Torto e O Canto de Gregório. Fiz questão de conhecê-los, apelidá-los de Novos Pernambucanos do Teatro e ver, é claro, os outros espetáculos. Gregóriofoi criticado aqui, mas ainda faltava descrever o que me significou ver 1 Torto.

Demorei, porque foi difícil encontrar um formato de escrita para uma experiência tão humana. Talvez, por isso, escrevo em primeira pessoa.

O monólogo é interpretado por Giordano Castro, o mais cativante cenicamente dos seis rapazes de Pernambuco. Giordano tem a magia que só os grandes atores têm. É engraçado, misterioso, vago e complexo. Faz a gente querer olhar para ele. Descobrí-lo.

No desenrolar do espetáculo, expõe coisas que passam em sua cabeça, olhando direto nos olhos do público, que fica desconcertado muitas vezes, sem saber se o ator conversa realmente ou atua.

Eis aí o grande mérito da montagem. Giordano se sente tão à vontade na obra – e no tablado – que seduz o espectador como quem não quer nada. E convida este a definir com ele o cenário, a posição dos objetos cênicos, o desenrolar da história, numa mais que acertada opção da direção sensível de Pedro Wagner.

No dia em que vi o espetáculo, havia pouco público. Para falar a verdade, quando cheguei, havia quase nenhum. Apenas eu e uma moça. Giordano e Pedro Wagner, à porta, espiavam para ver se chegaria mais alguém. Até que surgiu um casal. E a sessão foi feita.

O que poderia ser um fator de desânimo a qualquer um, serviu de inspiração ainda maior para o ator em seu fazer artístico. O espetáculo, de proposta já intimista, ficou ainda mais próximo, mais perto.

Foi como uma inconfidência feita num canto qualquer, sem que os outros escutassem. Algo íntimo, para ficar registrado apenas na memória.

Apesar de tão parecida com a proposta de Aquilo que Meu Olhar Guardou para Você, a proposta de 1 Torto chega mais forte. Porque é mais densa. Mais intensa. Condensada na figura de Giordano. Não há dispersão. Apenas há um ator que tenta abrir seu coração vermelho e brilhante à plateia, que se vê hipnotizada pela verdade ou mentira visceralmente interpretada.

PS. Não bastasse o clima personalista, ao fim, Giordano ofereceu a sessão “a um jornalista que falou mal da gente, mas que depois nos conhecemos e ficamos amigos”. Uma frase tão simples, bela e verdadeira como aquilo que havia acabado de ver no palco daquela pequena sala da Funarte paulistana.

1 Torto
Avaliação: Ótimo

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