O Retrato do Bob: François Kahn, o discípulo de Grotowski
Por Miguel Arcanjo Prado
Foto de Bob Sousa
François Kahn acha os atores brasileiros cheios de “frescor e energia”. Essa é a análise que o ator e diretor francês faz à reportagem poucos minutos depois de estrear seu monólogo, Moloc, na SP Escola de Teatro, em São Paulo, no último dia 27.
Nesta segunda (3), ele sobe ao palco para a segunda e última apresentação na cidade. Na peça, mergulha no julgamento do poeta beat Allen Ginsberg, em 1969. Interpreta o artista e seu acusador, que utiliza a religião budista e a homossexualidade do poeta para colocá-lo na berlinda.
Apesar de 40 anos terem se passado desde então, Kahn diz que “no fundo as coisas são as mesmas”. E afirma que ator bom tem de gostar de desafio. Sempre.
O artista foi recebido com pompa por aqui. Afinal, foi discípulo de ninguém menos que o lendário diretor polonês Jerzy Grotowski (1933-1999), uma das figuras mais importantes do teatro do século 20, entre 1975 e 1981.
O francês conta que fica surpreso de perceber que no Brasil muita gente só enxerga a profissão de ator como “ator de TV”. Não concorda nem um pouco. Muito pelo contrário, fica espantado.
No último mês, ministrou aulas aos aprendizes de atuação da instituição paulistana. Diz que seus alunos “têm a capacidade de se meter em jogos e se divertir”.
— Porque ator que não se diverte é muito triste.
A primeira vez que esteve no Brasil foi em 1989. Veio apresentar um espetáculo no Rio. Achou tudo “espantoso” e não ficou livre da violência carioca.
— Fui agredido na praia. Enfim, passei por todas as aventuras de um turista.
Depois, ainda se apresentou em Londrina, no Paraná. Com o tempo e mais visitas, ganhou um novo idioma, o português, que utiliza com propriedade para dar a entrevista. Já viajou o Brasil todo. De Belém do Pará a Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
— Viajo para trabalhar e encontrar as pessoas.
Já em clima de despedida, tenta avaliar o período que esteve entre os artistas paulistanos.
— Posso falar que as pessoas me acolheram com grande calor, gentileza e atenção. Foi tudo muito bom.
Questionado por que segue no fazer teatral, profissão tão difícil, não titubeia.
— Não sei claramente. Mas acho que é porque gosto de fazer isso. Gosto do papel do ator, do diretor, do professor. Tenho 62 anos e ainda tenho a pretensão de transformar as pessoas com arte.
Moloc, com François Kahn
Avaliação: Bom
Quando: Segunda-feira (3), às 20h (última apresentação)
Onde: Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco (praça Roosevelt, 210, Consolação, São Paulo, SP, tel. 0/xx/11 3151-5132)
Quanto: grátis (retirar ingresso uma hora antes)
Classificação: 18 anos
Crítica – Moloc, com François Kahn
Em um palco que conta apenas com uma mesinha, com uma luminária e uma cadeira ao lado, no que chama de “teatro de câmara”, o ator e diretor francês François Kahn tenta reproduzir o julgamento do poeta beat norte-americano Allen Ginsberg, acusado de ser “arruaceiro”, em 1969.
François apresenta o monólogo em português. Contudo, em determinados momentos a insegurança com o idioma atrapalha a interpretação. François faz três personagens: o narrador, o artista, e o promotor de acusação.
Enquanto o narrador surge mais neutro, e o artista é construído como um intelectual calmo e seguro de suas posições, o acusador é apresentado de forma mais caricata a cada colocada de óculos do ator. É um velho moribundo e quase demoníaco que ataca a postura religiosa, sexual e artística do poeta beat.
Verborrágico, o espetáculo teria a ganhar se fosse um pouco mais curto do que sua 1 hora e 15 minutos. Mas, como lembra Khan, seu mestre no teatro Grotowski não via problema algum em bocejos ou cochilos na plateia.
Veja outras personalidades do teatro na coluna O Retrato do Bob
Em 1989, François Kahn apresentou o solo de sua autoriais “K. L’ultima ora di Franz Kafka” numa Mostra de peça internacionais, no Teatro João Caetano. Eu era funcionária da Prefeitura de São Paulo é produzi está apresentaçào.
Em 1989, François Kahn apresentou o solo de sua autoriais “K. L’ultima ora di Franz Kafka” numa Mostra de peça internacionais, no Teatro João Caetano. Eu era funcionária da Prefeitura de São Paulo é produzi está apresentaçào.