Peça mórbida de Nelson Rodrigues, Valsa nº 6 ganha frescor com boneca da Cia. Teatro Portátil no Rio

Boneca manipulada por três atores dá vida a personagem emblemática de Nelson Rodrigues - Divulgação

Por Átila Moreno, no Rio
Especial para o Atores & Bastidores*

Há várias maneiras de se contar a mesma história. No caso de uma obra escrita por Nelson Rodrigues, o risco se torna iminente em relação à tamanha responsabilidade, sobretudo no ano de centenário do dramaturgo.

A Companhia Teatro Portátil foi deliciosamente atrevida. O grupo resolveu remontar, mergulhando no teatro de animação, a peça Valsa nº 6. Aliás, depois de Vestido de Noiva (1943), essa é uma das mais emblemáticas na carreira do Anjo Pornográfico.

O texto é o primeiro monólogo do escritor, encenado pela primeira vez por meio do teatro de bonecos. A história gira em torno de uma paranoica personagem, que se depara com a árdua tarefa de ir decifrando um intrigante quebra-cabeça existencial.

Mais uma vez, Nelson Rodrigues inclui loucura, intrigas, crime e traição, só que num universo de uma adolescente.

A garota de 15 anos, obcecada pela Valsa nº6 de Chopin, tenta achar respostas diante de um assassinato. Mal sabe ela que ali vão surgir conflitos sobre sua identidade e personalidade.

Da montagem original sai de cena Dulce Rodrigues, irmã de Nelson, que em 1951 atuou como protagonista, e entra uma boneca incrivelmente personificada nas mãos dos atores-manipuladores Flávia Reis, Julia Schaeffer e Guilherme Miranda.

Muitas características continuam latentes nessa remontagem, como por exemplo, o roteiro com forte carga psicológica, que despeja reflexões aleatórias na cabeça do espectador.

Ninguém consegue sair ileso nesse misterioso terreno movediço nelsonrodrigueano, onde a dualidade humana é colocada em xeque.

O grande trunfo dessa equipe, em comparação com outras remontagens, foi utilizar o teatro de animação e as inserções audiovisuais para contar uma tragédia poética.

Trabalho tão impecavelmente bem produzido que se tornou um espetáculo à parte, dando um frescor contemporâneo.

De certa forma, tais elementos cenográficos e sonoros oferecem um clima singelo e encantador, que brinca com a vertente cômica, sem desmerecer a essência policial contida na história.

Além do mais, o diretor Alexandre Boccanera conseguiu suavizar na medida certa o drama excessivo, tão comum no estilo inconfundível e exagerado de Nelson Rodrigues.

*O jornalista Átila Moreno escreveu a convite do blog.

Valsa Nº6
Avaliação: Bom
Quando: quarta a domingo, às 19h30. Até 21/10/2012
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil – Rio – Teatro 1 (r. Primeiro de Março 66, Centro, Rio, tel. 0/xx/21 3808-2020)
Quanto: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada)
Classificação: 14 anos

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