Por Miguel Arcanjo Prado
Ricardo é na dele. Observa mais do que fala. Prefere escrever que falar. Afinal, é escritor.
Nesta semana tem motivo de sobra para ficar feliz. Estreou na TV nesta segunda (1º) no time de roteiristas da série Sessão de Terapia, dirigida por Selton Mello no canal pago GNT.
Não bastasse, seu primeiro espetáculo encenado em São Paulo, Mormaço, encerra temporada de sucesso no Teatro do Núcleo Experimental, sob direção de Zé Henrique de Paula.
Conquistas que começam a mostrar que foi acertada a decisão desse mineiro de rumar para São Paulo. Cheio de dúvidas e medos, o caminho não foi fácil.
Segundo dos três filhos de Maria Isabel e José Cândido, passou a infância na terra natal, a pequenina Guaxupé, no sul de Minas, hoje com 50 mil habitantes. E não tem nenhum problema com a origem.
— Sou “capial” mesmo.
Menino, gostava de jogar bola – torce para o Cruzeiro – e ver filmes. Logo se meteu em artes. Com amigos, criou os grupos de teatro 14 Bis e Saco de Pão, que faziam apresentações para generosas plateias familiares. Mas o que queria mesmo “era ser escritor de ficção”.
Como curtia filmes – era fã de Steven Spielberg num primeiro momento, e depois aumentou a cartilha com Stanley Kubrick e Igmar Bergman – resolveu que prestaria vestibular para cinema, na Universidade Federal de Minas Gerais.
Passou e se mudou para Belo Horizonte, já que Guaxupé começava a “ficar sufocante”. Como o curso era mais direcionado para animação, decidiu que “aquilo não era para ele”. Queria mesmo era fazer roteiro.
Mergulhou em uma crise, após se formar, em 2008. Voltou para Guaxupé e viu tudo voltar à estaca zero.
Na dúvida, achou que o caminho seria outro curso. Fez vestibular para letras em uma faculdade de Franca, no interior paulista, mas não passou do primeiro semestre de aulas.
Frieza paulistana
Tudo porque descobriu o Núcleo de Artes Cênicas do Sesi, onde ficou sabendo de um curso de dramaturgia na sede paulistana. Largou tudo e se mudou para São Paulo no segundo semestre de 2009. Daí, foi só deixar a vida seguir seu curso.
Logo, seu texto chamou a atenção de gente como a dramaturga Marici Salomão, e os diretores Yara de Novaes e Zé Henrique de Paula.
No começo, sofreu um bocado com a frieza paulistana. Os amigos artistas da república em que foi morar em Santo André, no ABC, bem que tentaram amenizar. Mas foi barra.
— Queria voltar para Guaxupé e me enterrar em um buraco por lá.
Nome no cartaz
Aos poucos, foi criando vínculos. Viu que gente importante começava a elogiar seus “textos esquisitos”. Até que Zé Henrique de Paula resolveu levar Mormaço aos palcos. Gostou do resultado.
— O Zé arrisca. É provocador.
Ainda se assusta em ver seu nome no cartaz. Fica encabulado. Em 2013, outro texto seu vai para os palcos, sob direção de Mariana Vaz: Tão Pesado Quanto o Céu. E vem mais peças por aí: Vanitas, Amores de Playground e Enquanto o X-Burguer Não Vem.
No mundo dos roteiros, tem uma madrinha importante, a novelista Jaqueline Vargas, que gostou do seu trabalho e deu aquela força. Sabe da responsabilidade de começar na TV em uma série dirigida por Selton Mello.
— A TV é mais difícil que dramaturgia. TV é um belo estudo. Tem que escrever 30 páginas por dia.
Quando escreve para o palco, prefere o caos.
— No teatro, eu acredito no inferno. É nele que algo surge.
Comemora pagar as contas com o texto que surge de suas mãos. E concluiu o inevitável.
— Estava perdido e agora estou me encontrando. Fico feliz que tudo esteja dando certo. Mas me assusta ainda…
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