Barco de Papel, de Maria Mariana, navega sem rumo

Maria Mariana passa a vida a limpo mais uma vez nos palcos em Barco de Papel - Foto: André Valentim

Por Átila Moreno, no Rio
Especial para o Atores & Bastidores*

Vinte anos depois de estrear Confissões de Adolescentes no porão da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, no Rio, Maria Mariana volta ao mesmo palco. O monólogo Barco de Papel é a mais nova empreitada autobiográfica dessa pós-balzaquiana. Mas neste barco os ventos não parecem soprar mais como antes.

É difícil para quem é fã de Maria Mariana, criança ou jovem lá do início da década de 1990, não esperar dela aquela revolução causada por Confissões de Adolescente. A peça foi escrita no auge dos seus 19 anos, baseada nos próprios diários, e se tornou sucesso de crítica e de público.

Acabou virando livro e depois série na TV Cultura em 1994, com uma equipe consagrada na direção, incluindo Daniel Filho, Euclydes Marinho, Patrícia Perrone, Maria Mariana (também como atriz) e seu pai, o cineasta Domingos Oliveira (que também assina a supervisão do texto em Barco de Papel).

Esse parece ter sido encalço de uma das últimas jovens atrizes que marcou uma geração. Maria Mariana até ironiza essa expectativa sobre si mesma. O monólogo é um desabafo que conta a sua chegada aos 40 anos (que serão completados no ano que vem).

Uma trajetória que parece levar um fardo: como voltar à ativa depois de se distanciar um pouco da fama (ela chegou a colaborar em algumas séries de TV e outras peças de teatro). Pelo visto, parece ser um problema tentar tirar essas amarras. Uma âncora tão pesada que não deixa o barco seguir o próprio rumo.

A atriz utiliza de uma metáfora fácil para tratar dos seus principais dilemas. Desvira seus demônios e seus personagens mais íntimos e os expurga em vários barcos de papel que vão sendo rasgados e amassados pelo palco.

Ela aflora seus alter egos, que se desdobram em várias nuances como Maria Rita (espiritualidade), Vera (sensualidade), Maria Gilda (intelectualidade) e Diana (maternidade). E ainda na figura de um marujo (será o pai?) que se fortalece o choque de realidade.

Por mais que a peça tenha fôlego e paixão, no que se propõe a mostrar, ainda falta substância visceral. Maria Mariana só pincela suas crises existenciais e não mergulha fundo. Fala de muita coisa e acaba ficando à beira-mar. Talvez o fato de dirigir, escrever e atuar num monólogo, ainda por cima tão confessional, também tenha causado certa desarmonia. Um olhar de fora ajudaria.

Além do mais é uma peça que se dispõe a explorar muito pouco outros elementos como figurino, cenário, maquiagem, embora só um tenha um singelo destaque para a iluminação e a trilha sonora. Essa falta não é preenchida, pois a carga de dramaticidade até se mostra comprometida emocionalmente.

Parece que esse Barco de Papel ficou a ver navios.

*Átila Moreno é jornalista e escreveu esta crítica a convite do blog.

Barco de Papel
Avaliação: Regular
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 19h. Até 28/10/2012
Onde: Espaço Rogério Cardoso – Casa de Cultura Laura Alvim (av. Vieira Souto, 176, Ipanema, Rio, tel. 0/xx11 2332-2015)
Quanto: R$30 / R$15 (meia-entrada)
Classificação: 12 anos

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