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Inventivo e cosmopolita, Máquina de Dar Certo reforça o talento da Cia. Bruta de Arte

Espetáculo dirigido por Roberto Audio mostra grupo trancado em um cômodo - Foto: Giorgio D’Onofrio

Por Miguel Arcanjo Prado

Um grupo trancafiado tende a se comportar mediante regras propostas por um ser externo ou mesmo por algumas surgidas do convívio diário intenso. Isso todos nós já vimos nos realities shows da TV.

O espetáculo Máquina de Dar Certo, dirigido por Roberto Audio com a Cia. Bruta de Arte, responsável pela criação coletiva da dramaturgia, se propõe a exatamente isso: mostrar, ao vivo, a força do condicionamento humano. E o faz muito bem no teatro do Tusp, em São Paulo.

Com base nos experimentos do psicólogo norte-americano Frederic Skinner (1904-1990), que estudou a fundo como o homem é fruto dos estímulos de seu entorno, os dez personagens presos em um cômodo são submetidos a extenuantes coreografias e regras bizarras, que surgem no decorrer dos 80 minutos do espetáculo, ditadas por uma voz fria e impessoal, como a do livro 1984, de George Orwell.

A peça extrapola os limites do teatro convencional, flertando de forma explícita com a dança contemporânea. O grande charme é que os atores não tentam parecer bailarinos, mas executam com verdade de cada personagem as coreografias propostas pela tal voz.

Ana Lúcia Felippe, Angela Ribeiro, Dagoberto Macedo, Marba Goicochea, Paulo Maeda, Ricardo Socalschi, Taiguara Chagas, Teka Romualdo, Thammy Alonso e Wanderley Salgado surgem intensos e vigorosos diante do espectador.

Mesmo diante da coesão do grupo, alguns conseguem se destacar. Dona de carisma absurdo, Marba Goicochea chama o olhar do público para si, mesmo quando não é o foco. E faz da cena na qual dá uma simples receita de ceviche seu grande momento.

Outra que é dona de força descomunal cênica é Angela Ribeiro. Diante de uma cena na qual a humilhação de sua personagem é algo concreto, ela consegue provocar um misto de riso e comoção.

Ricardo Socalschi, por sua vez, leva o público para a aflição de seu personagem, perdido em um mórbido jogo da memória. Outro destaque é Paulo Maeda, com uma interpretação desengonçada e cativante.

Colaboram para o clima intenso a luz de Mário Spatziani e a ótima trilha sonora assinada pelo grupo, com hits mundiais editados por Thammy Alonso e Diego Rodda, além da trilha original composta por Helder da Rocha.

Quando se tem em mente que são atores, e não bailarinos, o diretor de movimento Fabiano Benigno também consegue resultado impressionante. Outro achado são os figurinos cheios de personalidade assinados por Angela Ribeiro e Melissa Campagnolli.

Ao flertar com outras expressões artísticas, como a dança, o cinema e as artes plásticas, o diretor Roberto Audio consegue com seu espetáculo quase sem texto um resultado de traços fortes, personalidade intensa e assustadoramente convincente. Cosmopolita, Máquina de Dar Certo é um espetáculo inventivo e sem fronteiras que reforça o talento da jovem Cia. Bruta de Arte.

NOVA TEMPORADA
Máquina de Dar Certo

Avaliação:
Ótimo
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 19h. 70 min. Até 16/12/2012
Onde: Teatro Cacilda Becker (rua Tito, 295, Lapa, São Paulo, tel. 0/xx/11 3864-4513)
Quanto: R$ 10
Classificação: 10 anos

Máquina de Dar Certo
Avaliação: Ótimo
Quando: Sexta e sábado, 21h. 80 min. Domingo, às 20h. Até 28/10/2012
Onde: Tusp (rua Maria Antônia, 294, Consolação, São Paulo, tel. 0/xx/11 3123-5233)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação: 16 anos

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