Breno da Matta, o farmacêutico baiano que virou ator e conquistou os palcos de São Paulo
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Eduardo Enomoto
O baiano de Itabuna Breno da Matta por pouco não foi cientista ou jogador de futebol. Eram seus sonhos de menino. Mas acabou no palco, como protagonista da peça Satyros’ Satyricon, que fica em cartaz no Espaço dos Satyros 2, em São Paulo, até 8 de dezembro, sempre aos sábados, às 21h.
Mas atuar profissionalmente foi um acaso na vida de Breno, apesar do sucesso que fazia nas festas de família, imitando o Pato Donald. Na hora do vestibular, escolheu farmácia, na Universidade Federal da Bahia, curso que concluiu e ainda fez pós-graduação.
Filho dos engenheiros agrônomos Agripino Rodrigues e Vandira da Matta, foi criado no interior baiano com o irmão, Bruno, em cidades como Boa Nova e Itaberaba, na Chapada Diamantina.
Salvador sempre foi destino nas férias escolares, onde se encontrava com a numerosa família de dona Vanda, a avó materna que teve 13 filhos. De origem humilde, conseguiu formar 12 deles na universidade – mesmo com um marido preso político no auge da repressão da ditadura militar.
Com uma família que valoriza tanto o estudo, natural que ele se empenhasse nos livros e cadernos. Estudioso, passou no vestibular com apenas 16 anos. Após se formar, entrou em crise e resolveu, em janeiro de 2005, apostar numa velha e imprevisível possibilidade: trabalhar como modelo em São Paulo.
Gente louca e diploma na gaveta
Foi na grande metrópole que conheceu o teatro. Resolveu ver um grupo baiano que apresentava o espetáculo 1,99. “O engraçado é que essa peça ficava em cartaz em frente a minha casa em Salvador e fui vê-la em São Paulo”.
Enquanto descobria uma nova vida repleta de “gente louca”, a carreira de modelo não deu muito certo. “Nunca ganhei dinheiro como modelo, mas também nunca voltei para a Bahia. O sofrimento por um lado foi bom, porque me deu vivência. Cheguei a dividir apartamento pequeno com quatro pessoas”.
Essa postura foi resposta aos ensinamentos da mãe, que o “criou para o mundo e não para ela”. Dia desses, a própria mãe lhe disse: “Breno, engraçado, mas não te vejo voltando para Salvador”.
No perrengue, aprendeu a se virar. Foi barman em baladas até que resolveu tirar o diploma da gaveta e arrumou emprego de farmacêutico em uma renomada drogaria paulistana, onde ficou dois anos e meio.
Nesse meio tempo, os amigos insistiam que ele deveria procurar um curso de teatro. Sem conhecer muita coisa, entrou na Escola de Atores Wolf Maya. Mas não durou quatro meses por lá. “A escola tem ótimos professores, mas não me identifiquei muito com os colegas, mas o bichinho do teatro me pegou de alguma forma”.
Depois foi para a tradicional Escola de Teatro Célia Helena, onde se sentiu mais à vontade. Em 2010, veio a reviravolta. Inscreveu-se no processo seletivo da primeira turma da SP Escola de Teatro. Passou. “Foi importantíssimo, porque lá comecei a ter contato com gente que realmente fazia teatro. Era uma troca diária”.
Dono de beleza que é fruto da mistura entre negros e índios de seus antepassados, logo chamou a atenção do diretor dos Satyros, Rodolfo García Vázquez que o chamou para fazer uma substituição na peça 120 Dias de Sodoma. Ele, que já havia visto os espetáculos Divinas Palavras e Roberto Zucco, da companhia sediada na praça Roosevelt, aceitou de cara.
Em 2012, veio novo convite: protagonizar Satyros’ Satyricon. “O processo foi longo e doloroso. Durou nove meses. O Evaldo [Mocarzel, dramaturgo] ia escrevendo a partir de nossos ensaios. Mergulhamos em um mundo gay pesado, fizemos laboratório frequentando os cinemões do centro e conversando com garotos de programa, era uma energia bem pesada”.
Um muso na pista, à deriva
Travou algumas vezes no processo do espetáculo sobre o mundo gay. Heterossexual, não se sentia muito à vontade em uma cena de amor ao lado do colega Davi Tostes. “A cena da dança com o Davi no começo era bem complicada. Mas depois, rolou”.
Após cada apresentação, sempre rola uma festa com elenco e público, a Suburra. Mas ele jura que ninguém passa dos limites: “Aprendi a me proteger, fico de boa e ninguém mexe comigo. Não me exponho muito”.
Na vida amorosa, diz que está “na pista, sempre à deriva”. E avisa: “mas, eu sou seletivo”.
Sabe da responsabilidade de representar o negro. E não gosta quando algumas pessoas, com racismo velado, dizem que ele não é negro: “As pessoas falam: ‘você é moreninho’, pensando que estão me agradando. Sempre soube me colocar. Não vou deixar me chamar de ‘negão’ se não é meu amigo”.
Futuro de possibilidades
Depois do sucesso logo na primeira peça – tanto que foi eleito Muso do Teatro R7 no mês de outubro –, Breno já consegue admitir para si mesmo sua nova profissão.
“Antes quando me perguntavam o que eu fazia, respondia que era farmacêutico. Agora, digo que sou ator. Outro dia, minha mãe veio me visitar e fomos fazer compras na rua José Paulino. As atendentes ficaram interessadas em mim e ela falou: ‘É meu filho e ele é ator’ [risos]”.
Breno, agora, vê um futuro cheio de possibilidades. “Tenho um perfil de beleza negra que está começando a ser valorizado tanto no teatro, como também na TV e no cinema. Sou dedicado, estudo, corro atrás. Não quero ser só bonito, mas, sim, ser um bom ator. Então, espero que as coisas aconteçam”.
Satyros’ Satyricon
Avaliação: Bom
Quando: Sábado, 21h. Até 8/12/2012
Onde: Espaço dos Satyros 2 (praça Franklin Roosevelt, 132, Consolação, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-6345)
Quanto: R$ 30
Classificação: 18 anos
Conheço Breno desde pequeno. Foi colega do meu filho Ary Júnior e Marinho, aluno do meu esposo Prof. Ary e desde cedo víamos que ele seria uma pessoa de grande sucesso e isso que está acontecendo com ele não vai parar por aí. Um ser humano de caráter tem a responsabilidade focada em tudo que ele faz. Uma pessoa maravilhosa. Desejo a Breno toda felicidade do mundo e todo sucesso, porque o sucesso é daqueles que batalham, e com certeza você é um dos merecedores desse sucesso. Parabéns! deus te abençoe grandemente sua vida sempre. Beijo no seu coração.