Por Miguel Arcanjo Prado
Nesta semana só se falou em uma coisa no mundo teatral: o anúncio de que o grupo teatral Os Satyros vai deixar a praça Roosevelt. Afinal de contas, o grupo é praticamente sinônimo do lugar e, justiça seja feita, foi o grande responsável pela revitalização do local, antes um fétido e violento ponto de tráfico de drogas e prostituição.
Rodolfo García Vázquez, diretor dos Satyros, acusa a “classe média medíocre” e a especulação imobiliária pela “expulsão” do grupo do local. Em entrevista à Folha de S.Paulo desta semana, Ivam Cabral, o outro fundador dos Satyros, disse que o grupo pode ir para a Luz, onde atualmente está a região da Cracolândia.
Vázquez resolveu usar a internet para explicitar os motivos do anúncio de que os Satyros deixam a Roosevelt em 2013.
Com vocês, as palavras do diretor:
“A especulação imobiliária tem duas consequências. A primeira é visível e numérica: são os aluguéis exorbitantes. Depois de seis meses de alugueis atrasados, estamos, enfim, regularizando as contas. Meses e meses os artistas sem receber nada, pois tínhamos só contas em atraso. Dificuldades mil.
Mas nunca tivemos medo da falta de dinheiro. Isso não nos impede de ter vontade de lutar pelo espaço. Mas há outra coisa ainda pior. A crise de identidade que a Praça enfrenta hoje.
Os novos moradores, aliados aos antigos vingadores, sonham que a Praça se transforme no Itaim Bibi do centro. Mas isso não tem nada a ver com o histórico dela vindo lá dos anos 50 e 60, nem com a chegada dos skatistas, nem com o que os teatros fizeram para sua recuperação. Alguns querem que a Praça seja um local tranquilo para a moradia, algo como uma Perdizes controlada, com bares cult para bons moços frequentar até certa hora e boas instalações para novas padarias badaladas com nome afrancesado…
Até algumas pessoas que se dizem de esquerda estão caindo nesse jogo também. Estamos isolados. O que a Praça Roosevelt quer ser para a cidade e qual é o nosso papel nisso? Essa é a questão principal. Nós contribuimos para uma transformação radical de uma das regiões mais deterioradas da cidade e agora a classe média-medíocre quer transformar esse espaço no seu quintal, mais preocupados com o cachorródromo do que com a força cultural que ela pode trazer para a cidade…
Isso nos inquieta de verdade. Estas pessoas tão bem educadas são muito mais difíceis do que os traficantes que tivemos que enfrentar quando chegamos à Praça, na época em que éramos ameaçados de morte, e não de morte espiritual.”
Vídeo faz sucesso com a classe teatral ironizando situação dos Satyros
Como brasileiro é um ser cheio de bom humor, faz sucesso na internet, sobretudo entre a classe teatral, um vídeo que parodia toda essa situação usando aquela clássica cena do filme A Queda, subido na rede por Alex Gruli.
Já foi visto até o momento por quase 6.000 pessoas. Você pode vê-lo também aqui. É rir para não chorar.
Leia também:
Fique por dentro do que os atores fazem nos bastidores