Especial para o Atores & Bastidores
Dizem que as nossas vidas ao ciclo de cinco anos aparecem completamente renovadas. O amor já não é mais o mesmo, o trabalho é outro, os sonhos e os ideais também se deslocariam à nossa revelia neste prazo. E então bastaria este ciclo para que fossemos sempre o esboço renovado, a matéria em movimento, o homem que não poderia entrar no mesmo rio…
Posso dizer que neste sentido o teatro tem sido honesto comigo. Em 2013 completo 7 anos desde a primeira vez que pronunciei “faço” e “teatro” na mesma frase. Estou lucrando dois anos! Ou talvez o teatro esteja na contramão do que dizem sobre os ciclos. O teatro inscreve-se no tempo da real transformação de um povo, não existe um ciclo para isso.
Quem sabe se o mundo inteiro sofresse radicais mudanças a cada cinco anos, quem sabe então o teatro e também eu preenchêssemos nossas famigeradas fichas no “Banco do Brasil” e encontrássemos nosso novo lugar na sociedade.
Quando criança sonhava em ser diplomata e assim ir mudando o mundo aos pouco, ao ciclo de 5 anos,descobri que o Itamaraty é um lugar distante. Então aos 15 tive o impulso de filiar-me a algum partido e começar carreira política, minha vida então seria pública e talvez eu tivesse que mentir para realizar algumas coisas que julgasse justas, importantes, mas, sabemos que a máquina do poder não é fácil e eu não aceitaria que algum bem fosse proveniente do mal.
Não com 15 anos, é claro… Na verdade, ninguém com 15 anos deveria aceitar este tipo de coisa.
Só então as coisas tomaram corpo e encontrei o único meio que me permitiria mentir ser público e de fato começar a modelar o mundo que me inspira, sem condenar meus princípios mais básicos, é claro. Eu poderia então assistir o jornal e imediatamente responder no palco.
O teatro que eu acredito vem da curiosidade pela cabeça do outro, ele quer formular as perguntas que imersos vivemos sem formular, meu teatro quer formular buscas, dar voz ao outro, perspectivar o mundo com a lente do cidadão, que pasmo, vem assistindo as radicais transformações que nossas sociedades tem passado.
Quem sabe se ao ciclo de cinco (cinquenta?) anos não teremos fechado todas as salas? Já ouviram falar que a sociedade perfeita não terá teatro? Não sei se acredito, mas o termo “sociedade perfeita” amolece meu coração e até preparo as malas para a nova profissão. Sei que em 2013 teremos teatro, muito teatro, com certeza.
Na verdade não sei se teremos, mas precisaríamos ter. Muito teatro. Muito público. Muitos temas. Os novos e os velhos, o ciborgue, a luta de classes, o novo humano, o sexo hoje, o amor hoje, o que é trair, o que é amar, o que é o bem, quem é o mal? Que possamos “resolver” todos estes temas para que em 2050 as salas estejam vazias, desejo que em 2050 não tenhamos do que reclamar, não quero continuar participando de atos públicos (chamados de teatro) em busca do humano que se perdeu, ou que tenta ainda se encontrar…
Espero que ninguém precise de nós em um futuro chamado amanhã. Encontraremos o que fazer, amigos, eu prometo. Quem sabe você e eu, atores, diretores e dramaturgos desempregados não tenhamos uma carreira política neste mundo utópico que sonhei para nós?
Bom, posso intuir que viveremos o medo e o prazer e a dor e a delícia de fazer Teatro por mais algumas Eras. E espero que juntos.
Mas quem sabe se ao ciclo de 5 anos…
Feliz 2050.
*Marcio Tito Pellegrini é ator e dramaturgo.
Leia também:
Fique por dentro do que os atores fazem nos bastidores