Crítica: Peça do Coletivo Teatro Dodecafônico, ¡Salta! aposta no não dito para criar significados
Por Miguel Arcanjo Prado
A peça ¡Salta! dialoga com o público desde o começo. Pouco antes de a função do Coletivo Teatro Dodecafônico ter início no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, o espectador é convidado a ouvir a apresentação de um dos personagens em fones de ouvido – cada pessoa ouve a de um personagem diferente.
Enquanto as palavras são ditas no ouvido de cada um, os personagens desfilam em silêncio sob o olhar de todos em espaço aberto, antes do convidarem o público a entrar na sala de teatro convencional, onde a história, já cheia de expectativa, promete se desenrolar.
Mas, logo, o espectador acaba por perceber que o que não está dito será fundamental para a significação da obra.
A cidade de Salta, no norte da Argentina, empresta seu nome à peça. Mas está longe do enredo querer ser um típico retrato do lugar. A proposta é outra: ser um retrato cênico da arte cinematográfica de uma saltenha, a cineasta argentina Lucrécia Martel, que deu ao lugar uma visão estética e poética com seu olhar artístico.
A encenadora Verônica Veloso, em parceria com seus atores, se inspirou em três longas de Martel, A Mulher Sem Cabeça, O Pântano e A Menina Santa, para a criação do espetáculo. O Dodecafônico assumiu a difícil tarefa de recriar uma atmosfera pensada por outro artista para uma outra linguagem. E obtiveram sucesso. O conhecedor do cinema de Martel percebe no palco a atmosfera delicada e cheia de silêncios que a diretora argentina imprimiu em seus filmes.
A peça, como os filmes, convida o público a preencher de significado as lacunas dessa poética. Assim, a visão da obra depende da sensibilidade de cada espectador.
Com pensamento aberto à cultura alheia, no caso a de nossos hermanos argentinos, os atores Beatriz Cruz, Gabriela Cordaro, Joaquim Lino, Katia Lazarini e Miriam Rinaldi conseguiram uma argentinidade que surpreende. Sobretudo, porque a trupe é brasileira. Pulsa na obra aquela mistura de pose europeia e decadência latino-americana que os argentinos sabem mesclar tão bem.
A peça, com dramaturgia de Veronica Stigger, expressa nos corpos o que não é dito pela palavra. E ajudam nesta composição estética os simples e refinados figurinos de Jorge Wakabara, bem como os objetos da delicada cenografia proposta Vânia Medeiros e a sensível luz assinada por Taty Kanter.
Coeso e à vontade, o elenco traz um destaque: Miriam Rinaldi. A atriz, com sua evidente experiência de palco, consegue dar peso necessário à proposta cênica desta obra.
¡Salta!
Avaliação: Muito bom
Quando: Sexta, às 20h. Sábado, domingo e feriado, às 19h. Até 3/3/2012
Onde: Sesc Santo Amaro (r. Amador Bueno, 505, Metrô Largo 13, São Paulo, tel. 0/xx/11 5541-4000)
Quanto: R$ 12 (inteira); R$ 3 (usuário do Sesc) e R$ 3 (comerciário e dependentes)
Classificação etária: 18 anos
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Essa foto lembra a coreografia de PIECE OF ME, de Britney Spears (embora eu deteste essa cantora)… Mas entendi a cor Almodovariana dessa peça, até porque é um texto latino.
Felipe, acho que a peça não tem a ver com Almodóvar. Tem a ver com outra cineasta, a argentina Lucrécia Martel. Mas é seu olhar… Aquele abraço!