Com violência escancarada, espetáculo brasiliense Cru quer conquistar público paulistano
Por Miguel Arcanjo Prado
O ser humano é ruim de nascença? Com esta pergunta provocativa começa a entrevista do Atores & Bastidores do R7 com a brasiliense Cia. Plágio de Teatro, realizada na noite da última quinta (14), após a forte tempestade que castigou São Paulo.
O elenco está cansado, mas feliz, depois do último ensaio antes da estreia tão aguardada, feito enquanto o aguaceiro inundava a cidade.
Eles chegam para apresentar a peça Cru, que estreou nesta sexta (15) e fica em cartaz até 14 de março, em corajosa temporada de terça a domingo, no Teatro Ivo 60, após percorrer 50 cidades Brasil afora e até Milão, na Itália, e acumular 13 prêmios.
Quem resolve responder o questionamento é Alexandre Ribondi, autor da peça e co-diretor do espetáculo, ao lado de Sergio Sartório, que também compõe o elenco com Chico Sant’Anna e Vinícius Ferreira.
— Ruim de nascença, não… Mas o homem se torna violento em algum momento. Em qual? Por que alguns viramos monstros? Não sei se uma obra de arte tem de ter estas respostas, mas apontamos caminhos em Cru.
Leia a crítica: Forte e seco como um soco, espetáculo Cru sufoca espectador com violência e tormento
O espetáculo conta a história de um encontro entre um forasteiro, um travesti e um matador de aluguel, em um açougue de beira de estrada nos confins do Brasil, como revela o dramaturgo.
— São personagens sem eira nem beira. Não têm para onde correr.
O grupo conta que a temporada em São Paulo foi uma aposta deles, com recursos próprios e do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. Conta que fazer teatro em Brasília é tão difícil quanto em qualquer outro lugar.
Sobre homens
Ribondi diz que sua peça “é sobre homens”. E faz questão de ressaltar seu elenco.
— Estamos diante de três grandes atores. São artistas da melhor qualidade.
Sérgio Sartório, que vive Cunha, o “vértice do encontro mostrado na peça”, diz que o espetáculo “combina com São Paulo”.
— Todo mundo está muito preocupado o tempo todo com a violência. Além disso, São Paulo é uma cidade onde as pessoas estão muito sozinhas. Mas, no fundo, a peça tem uma linguagem universal, porque toca em questões muito humanas.
Sartório define Cunha, o matador de aluguel, como “um cara que já está no fim da linha, com dignidade zero, que nunca recebeu uma gota de amor”.
O enredo é desenrolado quando o personagem de Chico Sant’Anna, o forasteiro Zé, resolve contratar os serviços de Cunha, sempre assessorado pelo travesti Frutinha (Vinícius Ferreira). Chico diz que buscou seu personagem soturno e misterioso “em algum lugar dentro de mim”. Paulista de Penápolis, conta que vive há 40 anos em Brasília, “uma capital cercada de Goiás por todos os lados”.
— Os interiores do Brasil são distintos e iguais ao mesmo tempo. O Zé é um arremedo de ser humano, solitário, tentando se redimir de um erro no passado. É um cara que sofre pra caramba.
“Feios e violentos”
Vinícius Ferreira, que defende sua Frutinha em cena com unhas, dentes, facas e giletes, diz que a personagem é “uma criatura extremamente perigosa, mas que carrega um amor maternal pelo Cunha muito grande”.
— A Frutinha é o oráculo. É aquela que revela o que vai acontecer. Ela antevê o tempo todo o futuro e diz, sem sombra de dúvida: “Isso vai dar merda”.
Ribondi reconhece que seus personagens “são escatologicamente feios e violentos”, mas contrabalança.
— No fundo, eles são pessoas que pedem amor o tempo inteiro.
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É, realmente é uma violência escancarada mesmo! Confesso que não faz muito o meu estilo, mas entendo a proposta de expor uma faceta mais transgressora. Excelente sábado, Miguelito! Devo ser seu fã nº 1!
Felipe, obrigado pelo carinho. Volte sempre por aqui. Você já viu a peça? Abraços!
Miguel, eles tem previsão de vêm com a peça para o Rio?