Crítica: Réquiem para um Rapaz Triste – 10 Anos consagra Rodolfo Lima como máquina de acreditar
Por Miguel Arcanjo Prado
O ator Rodolfo Lima é uma máquina de acreditar. Tanto que fez acontecer com muita determinação a Mostra Réquiem para um Rapaz Triste – 10 anos, que chegou ao fim neste sábado (23), com casa lotada, na Casa Contemporânea, em São Paulo.
Ele se despediu do embalado projeto e agora parte rumo ao mestrado na Unicamp. Nas últimas semanas, entregou-se por completo aos espetáculos. Até taquicardia teve. Mas já passou.
O carro-chefe da mostra foi o emblemático espetáculo Réquiem para um Rapaz Triste, o que tem uma década de vida e que ganhou a sequência inédita Cerimônia do Adeus. Ambos monólogos.
Lima também apresentou outro projeto, Bicha Oca, que fez furor no ano passado no Festival de Curitiba e no qual atua ao lado do ator baiano João Pedro Matos.
Em Réquiem para um Rapaz Triste, Rodolfo Lima vive Alice, mulher triste e solitária baseada nas personagens femininas criadas pelo escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, de quem o ator é fã confesso.
Nesta obra, Lima assume a energia feminina sem subterfúgios ou afetações, criando uma personagem surpreendentemente real e tocante.
Carismática, Alice envolve a plateia com seu relato cru e abandonado, provocando uma miscelânea de sentimentos em quem assiste ao monólogo que percorreu o País em seus dez anos de vida. A atuação na peça lhe rendeu indicação a Melhor Ator R7 em 2012.
Já em Cerimônia do Adeus, o mais novo e controverso espetáculo de Rodolfo Lima, ele apresenta a mesma personagem Alice dez anos depois de Réquiem para um Rapaz Triste, mostrando o que aconteceu com aquela mulher abandonada.
Em Bicha Oca, por sua vez, Lima se transforma e assume o papel de seu Alceu, um homossexual já em idade avançada e que vê o mundo atual com olhos severos e repreensivos, sobretudo a liberdade com a qual os gays da atualidade lidam com sua sexualidade em público. O texto é de Marcelino Freire.
Apesar de condenar a exibição do amor entre dois homens, Alceu mantém um jovem rapaz em casa, interpretado pelo despido e provocantemente belo João Pedro Matos, com quem mantém uma relação cheia de libido.
Rodolfo Lima vai fundo no underground nesta encenação, entregando-se e também conseguindo uma entrega desmedida de Matos. Ambos se despem da vaidade em prol da encenação realista proposta por Rodolfo Lima, que chega a deixar a plateia boquiaberta em alguns momentos.
Assim como em Réquiem para um Rapaz Triste, Lima surge um ator ciente do efeito que provoca no palco e que usa e abusa deste seu talento para provocar e fazer refletir. Como é missão de um grande artista.
E Rodolfo Lima é um grande artista da cena teatral brasileira. Autodidata, vai fundo naquilo que acredita sem receio algum. Máquina de acreditar, faz tudo com tanta verdade que a nós só resta acreditar com ele.
Mostra Réquiem para um Rapaz Triste – 10 Anos
Avaliação: Muito bom
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É, realmente este é um blog eclético. Ao mesmo tempo que mostra peças dóceis, como O MÁGICO DE OZ, vem com peças chocantes como CRU e RÉQUIEM PARA UM RAPAZ TRISTE – 10 anos. A impressão que tive é que o Rodolfo pratica o chamado “apoderamento”, como quando ela usa um termo pejorativo como “bicha oca” para de repente mostrar algo paradoxalmente bastante profundo. Confesso que o “underground” (qualquer que seja) não me agrada muito, mas entendo como legítima a voz de quem se levanta para afirmar que a vida não é um comercial de margarina.
Apenas uma observação: particularmente, prefiro a palavra “apoderamento” ao termo anglicizado “empoderamento”, embora o último seja mais frequente.
Apenas acrescento que prefiro o termo “apoderamento” ao termo anglicizado “empoderamento”, embora o último seja o usual.