“Faltou sensibilidade”, diz Gloria Perez sobre peça inspirada em Isabella Nardoni; Marcilio Moares defende encenação do grupo Os Satyros

 

Cena do espetáculo Edifício London, impedido de estrear: censura provoca polêmica na sociedade – Foto: Bob Sousa

Por Miguel Arcanjo Prado 

A censura judicial à peça Edifício London gera polêmica não só na sociedade como também no meio artístico (saiba aqui o que aconteceu). O texto foi escrito pelo dramaturgo Lucas Arantes e seria encenado pelo grupo teatral paulistano Os Satyros, com direção de Fabricio Castro, como antecipou o R7 em dezembro de 2012.

O espetáculo teve como inspiração o assassinato da menina Isabella Nardoni, jogada da janela pelo próprio pai e a madrasta, que permanecem presos após serem condenados pelo crime.

Uma liminar conseguida pelos advogados da mãe da garota, Ana Carolina Oliveira, impediu a estreia do espetáculo na noite deste sábado (2).

Gloria Perez: “Faltou sensibilidade”

Procurada pelo Atores & Bastidores do R7, a escritora Gloria Perez, autora da novela Salve Jorge (Globo), deu sua opinião sobre o caso. Na época em que a menina Isabella Nardoni foi assassinada, quase cinco anos atrás, Gloria, que também teve a filha Daniella Perez assassinada, deu apoio à mãe da garota, Ana Carolina Oliveira.

Gloria falou que a liberdade de expressão é tão importante quanto os direitos individuais.

– É um assunto muito delicado [o cancelamento da peça pela Justiça]; dou razão à mãe da Isabella: a liberdade de expressão é um direito muito caro a todos nós e duramente conquistado, mas os direitos individuais não são menos importantes e também estão resguardados pela Constituição.

Gloria ainda explicou o porquê de seu apoio à mãe de Isabella.

– Deve ser muito doloroso para a família de Isabella ver aquela tragédia transformada numa encenação teatral, que como todo espetáculo, não terá compromisso em se ater à verdade dos fatos. Faltou sensibilidade. É o que eu penso.

Marcilio Moraes: “Em plena ditadura houve espetáculo semelhante e não houve censura”

Já o novelista da Record Marcílio Moraes é favorável ao espetáculo. Em texto escrito por meio da Associação de Roteiristas, entidade da qual é conselheiro, o autor lembrou que escreveu, em 1979, um espetáculo baseado em um crime semelhante ao de Isabella Nardoni, O Último Dia de Aracelli, que contou com Aracy Balabanian no elenco.

– Como esta [peça] do grupo Satyros, [a minha também] baseava-se num caso policial, de uma menina assassinada anos antes, no Espírito Santo. Escrevi a peça a partir de um romance de José Louzeiro, reportagens e documentos judiciais. Naquela época, ainda existia a censura e, além dela, tivemos medo de alguma ação contra o espetáculo, porque a sórdida história envolvia gente poderosa.

Mas, segundo Moraes, não houve censura ao seu espetáculo.

– Mas nada aconteceu. O espetáculo fez carreira, teve boas críticas e indicações para prêmios. Não sei se é o caso, mas o pessoal dos Satyros poderia usar este exemplo. Mostrar que em plena ditadura houve um espetáculo semelhante ao deles que não sofreu cerceamentos.

Multa é de R$ 10 mil; Satyros vão recorrer

Em sua página oficial, o grupo Os Satyros, comandado pelos artistas Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, publicou nota dizendo que irá respeitar a Justiça, mas que recorreria da liminar. Caso a obra seja encenada, a multa é de R$ 10 mil.

Leia o comunicado oficial dos Satyros:

“A Cia de Teatro Os Satyros informa que, em respeito a decisão proferida pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Dr. Fortes Barbosa, da 6a. Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, a estreia da peça teatral ‘Edifício London’, escrita pelo talentoso dramaturgo Lucas Arantes e que teve como ponto de partida e inspiração as peças teatrais Macbeth, de William Shakespeare, Medéia, de Eurípedes, e o caso policial brasileiro que abalou o país e ficou conhecido como Caso Isabella, foi cancelada.

Informamos que serão adotadas todas as medidas necessárias fazer valer o que prescreve o inciso IX, do artigo 5o., da Constituição Federal brasileira, que diz, de forma clara e precisa, que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.”

E você, o que pensa dessa polêmica? Opine!

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Cartaz do espetáculo Edifício London, impedido de estrear por conta de uma liminar judicial

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7 Resultados

  1. Felipe disse:

    Ei! Tenho crédito para falar sobre o caso Araceli porque ele aconteceu em meu Estado. Primeiramente, desejo que Aracelli e Isabella descansem em paz! Foram duas vidas ceifadas muito cedo, de uma forma brutal. A história do caso Aracelli foi uma teatralização dos fatos, algo que funcionou como uma espécie de denúncia. Aliás, o Caso Aracelli foi algo tão sério que a data de sua morte hoje é o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”, para quem não sabe (por aí se vê a repercussão do caso). Há até um livro, “ARACELLI, MEU AMOR”. Talvez se EDIFÍCIO LONDON fosse a reconstituição teatral do caso Isabella não acontecesse a proibição, pois serveria de denúncia. Entretanto, misturar realidade com ficção explorando uns recursos visuais de gosto duvidoso, como aquelas bonecas sem cabeça, realmente soam ofensivos, ao menos para mim em minha modesta opinião. Lamento por tudo e o que a justiça determinar deverá ser acatado.

  2. Dante disse:

    Se fosse um filme com a Deborah secco queria ver proibição…
    Ridícula a proibição!

  3. ANÍBAL DOS SANTOS FILHO disse:

    Concordo com a proibição! Falta de respeito à família! Será que este dramaturgo, teria coragem de fazer uma peça, caso fosse alguém de sua Sagrada Família? Desculpe! Esta é minha opinião!

  4. Felipe disse:

    Concordo parcialmente com Aníbal. Quando a vítima é algo próximo a nós, reviver o caso é tormentoso. A não ser que a família opte por abordar o tema, o que é algo diferente, mas não é o caso. Creio que seria mais interessante ter consultado a mãe da menina falecida (que descanse em paz!). Todo o caso é muito triste e bem delicado, até porque envolve a memória de uma pessoa que nem está mais aqui. Repito: sou um ferrenho defensor da liberdade de expressão, porém acho que tudo tem limite e o caso me parece esbarrar no respeito à memória de uma criança morta de modo brutal. Tudo é realmente lamentável e reitero que sinto pena da mãe da criança falecida. Vou além: não desejo o que essa senhora passou nem para meu pior inimigo. Portanto, em respeito à memória da criança e à dor da sua mãe (obrigada a conviver com a ausência de sua filha amada), desta vez especificamente vou concordar que a proibição foi necessária. Talvez se revisassem o texto, suprimindo a parte do caso policial e enveredando para uma situação hipotética a questão se resolvesse de forma melhor, pois aí não haveria o uso de referência a essa terrível tragédia brasileira.

  5. Paulo Ribeiro disse:

    Sou contra a censura,mas também não é bom encenar uma história contra a vontade da parte sobre a qual a peça foi escrita.c Incentivamos o bom. teatro através de nosso site.

  6. Renata disse:

    Miguel, se puder compartilhar o nosso movimento: https://www.facebook.com/events/539945026049589/

  7. Alba Valéria disse:

    Infelizmente, hoje em dia, falta sensibilidade e sobra sensacionalismos e é por estes que a mídia tem sobrevivido, com jornais, revistas e peças de teatro, que fazem, de tudo, para terem audiência e bilheteria, conforme o caso, e esquecem que por trás de cada notícia existe uma família enlutada, e neste caso especificamente, podemos lembrar que a mãe da menina, sempre, foi discreta e elegante durante e pós investigação do fato, por isso, minha opinião é que não se dilacere, ainda mais o coração dessa mãe, que como uma rocha enfrentou tudo, perdendo sua filha amada, e que não merece reviver o fato, diariamente, enquanto a peça ficasse em cartaz.

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