Entrevista de Quinta – Diretor do Festival de Curitiba, Leandro Knopfholz diz que é aberto a todos: “Quem tem crítica vem falar comigo”
Aos 39 anos, o empresário curitibano Leandro Knopfholz é um dos homens mais poderosos da cultura nacional. Afinal, é ele quem dirige por duas décadas o maior festival de teatro do Brasil, o Festival de Curitiba. O evento começa no próximo dia 26 de março e vai até 7 de abril, voltando todos os olhares artísticos para os palcos da capital paranaense.
Às vésperas de a 22ª edição começar, com mais de 400 espetáculos na programação – dos quais 32 estão na mostra principal –, Leandro não para. Resolve problemas o tempo inteiro, para que tudo dê certo. E ainda precisa lidar com críticas ao festival surgidas no próprio meio teatral.
Entre um problema e outro, parou para dar esta Entrevista de Quinta ao Atores & Bastidores do R7. Bacharel em administração pela Universidade Federal do Paraná (UFRP), pós-graduado em gestão de negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mestre em gestão de artes pela City University de Londres, Leandro falou de polêmicas e novidades.
Leia com toda a calma do mundo:
Miguel Arcanjo Prado – Como é o momento que antecede o começo do Festival de Curitiba para você?
Leandro Knopfholz – O pré-evento é a maior ansiedade. Fazemos um grande encontro. A característica do Festival de Curitiba é ser um festival de teatro feito por gente, dentro de fora do palco. É a hora de preparar a casa para receber as pessoas. Reunir 400 e tantos espetáculos exige combinação de vários fatores. Cada espetáculo tem sua característica, cada ator tem sua agenda. Então, a gente cuida para receber todo mundo bem.
É um grande trabalho de logística?
Exatamente. Fazer esse grande mosaico harmonioso é nosso grande desafio. E nos espetáculos que convidamos, que são os da Mostra, o desafio é ainda maior. Tudo que foi combinado precisa ser cumprido. E é por isso que as pessoas continuam vindo.
Leandro, algumas pessoas do teatro sempre criticam o Festival de Curitiba. A Cooperativa Paulista de Teatro, por exemplo, publicou recentemente um texto criticando o evento. Por que este tipo de crítica surge?
A gente convive com muita gente. Estamos suscetíveis a todos os tipos de comentários. É claro que me incomoda a crítica desse modo. Se alguém quiser debater, estou sempre disponível. Falar mal de mim não tem problema nenhum. Mas fala comigo na frente.
Você tenta trazer ao festival o teatro alternativo?
Claro. Neste ano, temos um espetáculo feito para 14 pessoas, do grupo OPOVOEMPÉ. No ano passado, trouxemos O Idiota, da mundana companhia. Temos a visão de olhar para a pesquisa, para a tendência, para o experimental, para o risco. Sempre apostamos no diferente.
Então, por que tem gente que fala mal do festival?
As pessoas falam. Mas acho que quando falam mal deveriam argumentar comigo. Acho que cada um tem o direito de falar o que quiser. A nossa fila não anda, a nossa roda aumenta. Apesar das críticas feitas, o festival estimula o carinho pela proximidade, e a proximidade permite também a crítica. Em especial às criticas da Cooperativa, eu tenho argumentos para responder, mas não vou responder aqui nesta entrevista. Se eles quiserem ouvir, deveriam vir falar comigo.
Você acha que algumas pessoas criticam o Festival de Curitiba por que não são convidadas a participar dele?
O Festival tem restrições orçamentárias. Não dá para convidar todo mundo. Tem o Fringe, que é aberto a todo mundo participar… Existe uma cultura no teatro que é a de criticar. A cultura do manifesto. Quem trabalha nesta área sabe que isso é comum. Ter declarações conjuntas assinadas por um grupo. Eu não gosto muito disso. Acho que cada um tem de ter sua opinião e assumi-la. Esse consenso externado por representantes sempre é distorcido. Acho ótimo que as pessoas critiquem e se manifestem. Mas também digo que elas são sempre bem-vindas para vir conversar e reclamar comigo. Sou aberto às reclamações pertinentes e procuro responder com uma ação que faça melhorar os pontos apontados neste tipo de crítica construtiva.
Você acha que falam mal do festival porque ele se tornou o maior do País? Sabe aquela história do ninguém bate em cachorro morto…?
A gente quer ser vitrine. E ser vitrine é estar exposto a qualquer um ter o direito de opinar sobre isso. Eu realmente fico feliz de sermos o centro de alguns debates, porque mostra que a gente está fazendo um bom trabalho.
O que haverá de novo na 22ª edição do Festival de Curitiba?
Os curadores sempre se reúnem comigo para criar um parâmetro curatorial. Nesta edição, procuramos companhias estáveis, dramaturgia nacional, fusão de linguagens, espetáculos de grupo. Foi o que aconteceu num primeiro momento. Num segundo, veio a importância da música como parte da cena. Outra dúvida que surgiu foi que algumas coisas não iriam acontecer se não empurrássemos. Veio a questão: mas a gente não faz um retrato? Mas tinha coisas que não estavam acontecendo. Aí, junto com o Itaú Cultural, a gente propôs um desafio, como para o Parlapatões misturar Angeli e Titãs. Fazer a coisa acontecer. O retrato disso é um festival que busca entender o momento e, além disso, propõe possibilidades novas. Estamos apresentando um festival coerente com sua proposta.
Vai ter lugar para as pessoas se encontrarem fora dos espetáculos?
Para quem está na Mostra tem o restaurante, onde todos almoçam e jantam juntos. Além disso, todos ficam praticamente nos mesmos hotéis. Também teremos neste ano duas festas agendadas: a Cafeína, no Bar do Simão, no sábado, dia 30, e a Fanfarra, no Espaço Cult, no dia 6, o último sábado do festival.
Você acha que os grandes nomes da TV que participam do festival geram ciúme nos artistas que só fazem testro?
Não procuramos espetáculos pelo potencial comercial. A gente não vende mais o espetáculo que tem gente da TV do que os que não têm. Todos são trabalhados do mesmo jeito. O Marco Nanini esteve aqui nos anos 90 e está voltando agora. É bom lembrar também que a Renata Sorrah, que é uma atriz consagrada tanto na TV quanto no teatro – ela acabou de ganhar o Prêmio Shell de melhor atriz -, é uma personagem importante na história do festival. Quando estávamos começando, ela gravou um vídeo dando apoio para a gente. Além disso, muita gente esteve aqui antes da fama. Não são situações oportunistas trazer estes grandes nomes. Como escreveu Shakespeare, rei que é rei não usa coroa. Me dá orgulho saber que essas pessoas vêm aceitando as condições do festival. Se isso gera ciúme, eu não posso dizer. Só sei que ciúme é sentimento mesquinho. Não sei o que se passa na cabeça dos outros. O que posso dizer é que todos são bem-vindos. Ninguém não é chamado por questão pessoal, é que não dá para chamar todos.
O que você vai fazer quando o furacão do Festival de Curitiba passar?
Eu vou continuar fazendo isso. No final das contas, eu gosto. É claro que tem este momento ápice. Mas, quando todo mundo vai embora, tem um rescaldo. E, depois, em maio, vou viajar para a Europa por duas semanas para tomar cerveja.
Conheça a programação do Festival de Curitiba
Veja o Festival de Curitiba na Agenda Cultural da Record News:
[r7video http://noticias.r7.com/videos/festival-de-teatro-agita-curitiba-pr-veja-a-agenda-cultural-do-fim-de-semana/idmedia/514c7bd56b7157e9309c1288.html]
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A crítica, quando construtiva, pode ser uma oportunidade de melhoria. O problema é quando se critica simplesmente por criticar. Não sei se foi o caso, entretanto, pois desconheço maiores detalhes e só fiquei sabendo dessa notícia pelo blog.
o leandro está certo. esse povo de teatro só sabe reclamar e falar mal uns dos outros. ninguém merece. se chama eles ficam felizes em ganhar viagem e hotel para se apresentar. e se nao chamam, eles comecam a descer a lenha no festival. eu acho que o festival nao tem de fazer beneficência para ninguém.