Com peça sobre velhice, Maitê Proença mostra para juventude atual que ninguém é eterno
Por Átila Moreno, no Rio
Especial para o Atores & Bastidores*
Envelhecer é um meio prematuro de driblar as rugas, não as físicas, que insistem em abrir caminho sobre a pele. Mas as rugas da vida. Aquelas que se formam nos corações e na alma. Talvez esse seja o veredicto (se existir algum) da peça À Beira do Abismo me Cresceram as Asas.
É com esse título forte e reflexivo que Maitê Proença faz sua estreia na codireção. A atriz abusa da capacidade de se comunicar com a massa, para trazer algo simples e sofisticado.
Diante de um jornalista, duas velhinhas, Valdina e Terezinha, de personalidades destoantes, trocam confidências em um asilo. Maitê Proença e Clarisse Derziê Luz (a Fatma da novela Salve Jorge) vão incumbir o público a uma viagem destemida, com pitadas de devaneios, inseguranças, alegrias, nostalgias e divagações.
A união de forças, com alguns parceiros, talvez tenha sido primordial, para que a peça não caísse num recorrente egocentrismo desmiolado. Aquela mania de ator que quer repassar a vida nos palcos… Lógico, que se tiver algo de pessoal, ele foi inserido de forma muito perspicaz pela própria atriz.
Baseado no texto original de Fernando Duarte (que colheu depoimentos em asilos) e supervisão de Amir Haddad, Maitê Proença também traz a ajuda da diretora Clarice Niskier (ambas trabalharam juntas em Buda, de 2002).
Uma das características exploradas é a coragem em dizer o que se pensa, sem rodeios e cerimônias, quando a velhice bate à porta. A direção encaminhou esse processo, sem cair no clichê, transitando entre o cômico e a acidez.
Por outro lado, vários elementos impecáveis contribuem para dar vigor à encenação: cenário, figurino, maquiagem, trilha sonora e a química entre as duas atrizes (“dobradinha” já realizada em Achadas e Perdidas, de 2005).
Vale ressaltar a ambientação criada por Cristina Novaes, na escolha dos tons pastéis, e no figurino caótico e certeiro de Beth Filipeck, que amenizam os momentos mais ásperos deste conclave filosófico.
À Beira do Abismo me Cresceram as Asas não vai mudar o mundo, não é subversiva, não é vanguardista e ganha pontos por não ser pedante. Esse é o seu “barato”, um espetáculo que acerta por ser despretensioso, e inclusive, por não se atar ao cárcere de uma velhice ranzinza.
Além do mais, é algo admirável de se ver, principalmente, quando se assiste com amigos de longa data.
Carinhosamente, Maitê Proença toca num tema tão abandonado, que vem se distanciando dos olhos de uma juventude que acredita que vai ser sempre eterna.
*Átila Moreno é jornalista.
À Beira do Abismo me Cresceram as Asas
Avaliação: Bom
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 20h. 75 min. Até 28/4/2013
Onde: Teatro Leblon (Rua Conde Bernadotte, 26, Leblon, Rio)
Quanto: R$ 60 (qui e sex); R$ 80 (sáb); R$ 70 (dom)
Classificação etária: 12 anos
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parabéns pela crítica, átila. a maite faz um servico ao país que nao sabe respeitar os idosos!
Peça que não é pedante já começa ganhando pontos…