Entrevista de Quinta: Filha de candangos e Fiona de Shrek, Sara Sarres diz como virou estrela de musical
Por Miguel Arcanjo Prado
Sara Sarres atualmente interpreta Fiona no musical Shrek, em cartaz no Teatro João Caetano, no Rio. É sua 13ª produção do gênero, o que a torna uma das grandes estrelas do teatro musical brasileiro.
Para citar alguns exemplos, ela carrega no currículo atuações em obras de peso, como O Fantasma da Ópera, Les Miserables, Cats, West Side Story e Godspell.
Brasiliense, filha de candangos, com pai carioca e mãe baiana, diz que é feita de boa mistura. E tal tempero genético é sentido no carisma que carrega consigo em todas as produções que participa.
Nesta Entrevista de Quinta, Sara fala um pouco mais sobre sua carreira, dá conselhos a quem deseja trilhar um caminho de sucesso profissional como o dela e aponta aspectos positivos e negativos dessa febre de musicais que o País vive.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi a tomada da decisão de ser artista? Você teve apoio?
Sara Sarres – Meu pai diz que nasci artista e reconheceu que a minha paixão era séria muito cedo. Aos sete anos de idade já estudava na Escola de Música de Brasilia e na Academia Usha de Balet. Minha família sempre foi meu maior apoio, incentivo e porto seguro. Devo tudo a eles.
Você é da primeira geração dessa retomada de musicais. Foi difícil no começo?
Nada! Foi só alegria. Tinha me preparado muito, estudado feito louca até aquele momento e passei justamente para interpretar Cosette em Les Miserables, que era o meu musical favorito. Agradecia aos céus todos os dias por estar ali fazendo parte de tudo aquilo. Era um grande sonho se realizando. Quando entrei na sala de ensaio, no primeiro dia, e vi um palco giratório oficial queria ajoelhar e beijar o chão. E quando anunciaram o término da temporada ia chorando para o teatro o último mês inteiro. Não queria que acabasse.
O que mudou para melhor e o que mudou para pior desde então?
Para melhor: Finalmente temos uma aceitação incrível do público brasileiro, que abraçou os musicais, e hoje temos um mercado mais amplo, novas produtoras e vários títulos em cartaz ao mesmo tempo. Para pior: é que alguns dos novos produtores só visam lucro e se preocupam pouco em manter a qualidade e nível de exigência e excelência que batalhamos tanto para manter nos espetáculos. Deixando muitas vezes artistas e equipe desprotegidos ou buscando gente despreparada para exercer funções de extrema importância ou ferramentas fundamentais para a realização do espetáculo por valores e qualidade bem abaixo do normal. Aí, o barato sai caro. Isso reflete no palco e no público.
Qual o personagem que fez em musicais que você guarda com maior carinho?
Christine, de O Fantasma da Ópera.
Vamos falar agora de Shrek. Onde você foi buscar sua Fiona?
Em mim. Na minha infância, nas animações que cresci assistindo, os sonhos que construía, nas frustrações de crescer e entender que nem sempre as coisas acontecem do seu jeito. Mas ainda assim acreditar que o final feliz acontece para todos.
Qual a maior lição do musical Shrek?
Que o amor transforma.
Como está viver entre Rio e São Paulo, já que você mora aqui e faz o musical no Rio?
Cansativo, mas delicioso. A gente pensa que não, mas enfrentar aeroporto, trânsito e todos os pormenores de dois QG’s, duas vezes por semana, cansa de verdade. Queria poder estar tendo mais tempo para estudar, dar aulas, fazer aulas. Mas o corpo pede arrego com tudo isso mais sete sessões de Shrek por semana.
Você gosta do Rio?
Fora isso, a correria, o Rio de Janeiro continua lindo. Estou apaixonada pela terra do meu paizão e o público incrível do Shrek. Sem deixar de amar São Paulo, claro. A cidade que não dorme é perfeita pra mim. Com garoa e tudo. … Ok, sem a garoa [risos].
A TV ainda tem aproveitado pouco os artistas de musicais. Acha que deveria ter um maior intercâmbio?
Acho que sim. Mas é natural que aconteça aos poucos. Assim como os atores de TV começam a fazer musicais. Poucos são os que dominam as três vertentes [canto, dança e interpretação], mas alguns têm se aventurado. Alguns até investido em aulas para uma melhor performance no canto e na dança com ótimos resultados.
Como você cuida da sua voz? E do corpo?
Com a voz sou mais disciplinada do que com o corpo, confesso. Até porque o espetáculo é fisicamente tão intenso que já me mantém em forma. E tenho profissionais maravilhosos que me acompanham e me ajudam a manter a saúde vocal e física. Meu otorrino Dr. Reinaldo Yasaki e a fonoaudióloga Adriana Bezerra acompanham passo a passo as construções vocais dos meus personagens e as fisioterapeutas da FisioArte e Helio Nichioka do Instituto Vita sempre me socorrem com as lesões e exercícios preventivos direcionados para cada espetáculo.
Você construiu uma carreira de sucesso no mundo dos musicais. Qual o segredo?
Não acomodar. Não é porque conseguiu um bom personagem que estará para sempre no mercado. Ou sempre apto. Estudo muito até hoje. Eu me desafio, busco novas linguagens, métodos, técnicas. Nosso instrumento de trabalho é vivo e tem de estar em constante uso, manutenção e aperfeiçoamento.
O que você indica para os atores que querem seguir o caminho dos musicais?
Não deixar para estudar só em véspera de audição. Para poder estar inteiro e pleno naqueles poucos minutos terríveis de teste, sua técnica vocal, veracidade da interpretação e o controle do corpo tem que estar em total equilíbrio, fluindo no sangue de tão orgânico. Estar preparado é tudo e nunca sabemos quando a oportunidade baterá à porta.
Você tem vontade de fazer novela? E cinema?
Claro! Quero ter contato com todas as maneiras possíveis de se contar uma boa história.
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Excelentes fotos. Qual é o fotógrafo?
Bonita a moça. A impressão que dá é que ela já nasceu diva, basta reparar nas poses rebuscadas. Em algumas mulheres, soariam artificiais, mas nela ficaram naturais. Dá para ver que ela é assim.
Felipe, as fotos já estao com os devidos créditos! Obrigado pela leitura!
Ah, nem percebi! Obrigado por responder. Aliás, você é “show”, pois é educado e responde aos internautas. Outros blogueiros, dentro e fora do R7, deveriam aprender com você algumas normas de etiqueta virtual. E não estou sendo irônico, como muitos blogueiros costumam ser em seus comentários. Entendo perfeitamente que os blogueiros não têm tempo para responder todos os “posts”, mas é legal interagir com os internautas às vezes. Quem tem esse discernimento já chega com um diferencial. Talvez tenha até alguma relação com evolução espiritual, com capacidade de ser generoso e olhar o outro sem um ar “blasé”.