Festival de Curitiba leva 220 mil ao teatro; diretor Leandro Knopfholz aposta em coprodução
Por Miguel Arcanjo Prado*
Enviado especial do R7 ao Festival de Curitiba
Fotos de Daniel Sorrentino/Clix
Chega ao fim neste domingo (7) a 22ª edição do Festival de Teatro de Curitiba, o maior evento das artes cênicas do Brasil. Foram 13 dias nos quais 406 espetáculos foram apresentados em 67 espaços curitibanos. O público estimado é de 220 mil pessoas, o que equivale a três estádios do Morumbi lotados.
O Festival de Teatro de Curitiba tem orçamento de R$ 6,5 milhões – 80% vindo de patrocínio e 20% da bilheteria da mostra principal –, segundo a organização. Neste ano, foram 32 espetáculos na mostra principal e 374 no Fringe, a mostra paralela. É o dobro do que o evento tinha em 2008, com 18 peças na mostra oficial e 170 no Fringe, ano em que Leandro Knopfholz voltou a dirigir o festival que criou “por conta de não ter nada para fazer durante uma greve na Universidade Federal do Paraná”, segundo o próprio.
– A gente acerta mais que erra. Por isso o Festival de Teatro de Curitiba continua. Chego contente ao fim. A cidade se envolveu e esta edição mostrou que estamos no caminho certo de coproduzir. Neste ano, foram quatro coproduções.
Segundo Knopfholz, já há conversas em andamento de parcerias com nomes como o Teatro Alfa, de São Paulo, e o Sesc de São Paulo e do Rio de Janeiro. Quatro produções internacionais já estão sendo negociadas para 2014.
Mostras dentro do festival
Uma corrente que ganha força no Festival de Teatro de Curitiba são as mostras dentro do Fringe, que apresentam produções de Estados brasileiros. Neste ano, além da Mostra Teatro para Ver de Perto, com grupos de Belo Horizonte, e as mostras curitibanas Coletivo de Pequenos Conteúdos e Novos Repertórios, estreou em 2013 a Mostra Baiana, com obras da Bahia que viajaram a Curitiba com apoio do governo baiano por meio da Secretaria de Estado da Cultura da Bahia e da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
Sobre a mistura de teatro para todos os gostos e qualidades no Fringe, Knopfholz diz que é aberto a todos, menos a espetáculos religiosos: “Qualquer espetáculo é bem vindo, porque não queremos guerra de religião no festival”. Em 2013, houve tanto espetáculos pavorosos que não merecem nem serem citados quanto outros de grande qualidade, como Viúva, porém Honesta, do Grupo Magiluth, de Recife.
– Temos de conviver com variados interesses. O caminho é segmentar por propostas, para que todos atinjam seus objetivos. Mas também é preciso que os grupos teatrais saibam por que estão vindo para Curitiba.
O diretor enfatiza que a bilheteria do Fringe vai para os grupos e que outra meta do evento para 2014 é “dividir as contas” com outros organismos públicos ou privados que topem financiar espetáculos no evento, seja na mostra principal ou no Fringe.
Leandro Knopfholz diz que a relação com as companhias mudou ao longo da história do festival. Antes, segundo ele, os artistas vinham contentes, com “pagamento de cachê, hotel e alimentação”. Agora, “com o apoio que já tem de editais, para o cara sair de casa precisa escutar uma proposta que o faça revirar os olhos”.
– O bom é que o Festival de Curitiba tem um nome que faz com que o cara pelo menos atenda o telefone e nos escute.
Aprendizado com o erro
O problema da edição 2013 foi Homem Vertente, coprodução entre Brasil e Argentina que não conseguiu ficar pronta a tempo por problemas técnicos.
O público viu uma versão de 20 minutos de um espetáculo originalmente previsto para ter 50 minutos, e sem os números aéreos que prometiam ser o grande charme do espetáculo.
Tudo por conta de um motor que parou de funcionar na última terça, o que fez com que os argentinos desconfiassem dos outros motores também, preferindo não se arriscar.
Para Leandro Knopfholz, a situação serviu para aprendizado.
– Aprendemos que precisamos prestar mais atenção nos detalhes. Outro aprendizado foi a convivência e o choque cultural. Tínhamos uma obsessão em estrear. Envolveu gente, emoção, mas faltou a razão. Estávamos tão a fim que faltou a gente perguntar a nós mesmos: ‘será que vai dar tempo?’
Coreana estrela
Sobre as estreias que não geraram o impacto esperado na crítica e no público, o diretor diz “que é um risco que a gente sempre corre”.
– O Festival e a curadoria fazem apostas. Não tenho a pretensão de fazer 30 espetáculos inesquecíveis. Queremos que seja um retrato do teatro brasileiro, que tem peças inesquecíveis e também aqueles esquecíveis.
Em tempos de possível guerra incitada pela Coreia do Norte, Knopfholz aponta como grande êxito a produção coreana Pansori Brecht que, apesar das duas horas e meia de duração, causou furor entre crítica e público com o ótimo desempenho da atriz sul-coreana JaRam Lee, que arrebatou a plateia com música e show de interpretação, dando conta de todos os personagens de Mãe Coragem, de Brecht.
– Foi um espetáculo impactante que coroou a iniciativa de fazer esta aposta em uma produção desconhecida do grande público. Quem não saiu nos 30 primeiros minutos adorou.
Questionado como dá conta de fazer o maior festival de teatro do Brasil, Leandro Knopfholz foi bem sincero.
– Lido com gente. Então, dá vontade de xingar, de pular da janela. Tem pressão para todos os lados: patrocinador, imprensa, público, redes sociais. Muitas vezes as relações de trabalho se misturam com as relações pessoais. Mas acho que o sorriso estampado na equipe do Festival de Teatro de Curitiba mostra que conseguimos mais uma vez.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.
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Feliz por ver a arte prestigiada. Só discordo quanto ao comentário de que certas peças nem deveriam ser mencionadas. Tudo é válido, até para aprimorar (desde que não agrida o outro).