Por Miguel Arcanjo Prado
Atenção, paulistanos! A partir da terça-feira (16), o Centro Cultural São Paulo vira o grande palco do teatro produzido na América Latina, na 8ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo. O melhor: toda programação é de graça.
Até 21 de abril, serão apresentados 11 espetáculos que envolvem o trabalho de mais de cem artistas vindos de sete diferentes países .
Idealizada por Ney Piacentini, a mostra é um projeto da Cooperativa Paulista de Teatro, entidade da qual ele é ex-presidente. Ele conta ao R7 que o evento “foi um desdobramento natural da mostra de teatro brasileiro de grupo realizada na década de 90”.
— Gostamos de trabalhar com temas. Neste ano, queríamos abordar o teatro e a violência, mas percebemos que esta temática teria um leque mais restrito, e abrimos para o teatro que tem relação com os temas sociais. Mesmo assim, metade das peças está ligada à violência social; as outras tangenciam o tema. Isso é importante, porque o histórico de violência na América Latina é um problema comum de todos nós.
Piacentini aposta na obra do Argos Teatro, de Cuba, como destaque da programação, sobretudo porque falam “do submundo de Havana”, já que a vinda da blogueira cubana Yoani Sánches causou rebuliço no Brasil.
— A peça cubana vai provocar o debate. E também destaco o Nós do Morro, que consegue virar o jogo da segregação social.
Oportunidade única
O curador de teatro do CCSP, Kil Abreu, afirma a importância do evento na agenda do espaço,
— É um momento valioso para nós: porque a Mostra é dedicada a uma cena, a latina, que por incrível que pareça só nos últimos anos tem sido mais presente no Brasil. Também porque, neste recorte, joga luz sobre o trabalho de companhias em atividade continuada, que têm projetos estéticos não pontuais, mas de longo fôlego, normalmente baseados na pesquisa.
Abreu ainda reforça na conversa com o R7 o fato de a mostra ser gratuita, “garantindo o acesso a uma plateia ampla que talvez não pudesse conhecer estes trabalhos se não fosse desta forma”.
— Para nós da curadoria de teatro do CCSP esta relação entre pesquisa artística e acesso popular é da maior importância.
Abertura equatoriana
A abertura do evento será feita pelo grupo equatoriano El Muégano Teatro, que apresenta a peça Karaokê. Além deles e dos cubanos já citados, há espetáculos do Peru, do Chile, da Argentina e de Porto Rico.
E os brasileiros marcam presença na programação. Entre outros, se apresentam o Grupo de Teatro Invertido, de Belo Horizonte, com a peça Os Ancestrais – apresentada no último Festival de Curitiba -, o Nós do Morro, do Rio de Janeiro, e o soteropolitano Ateliê Voador.
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Veja a programação completa e programe-se para ver o melhor do teatro latino-americano:
16 de abril – terça-feira
Karaokê La orquestra vacía – El Muégano Teatro – (Equador/Guaiaquil)
20h, Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo (CCSP) – 324 lugares
Duaração: 70 mim / Classificação: 14 anos
Sinopse: Karaoke Orquesta Vacía traz uma orquestra anacrônica, assediada por fantasmas, que saca as “sagradas notas do hino nacional, a família, a propriedade privada e o amor, num território vagamente definido”, uma cidade-estado desenhada sob os critérios da diversão, adequação e competição selvagem.
El Muégano Teatro tem assídua participação em festivais como de Cádiz, Bogotá e Recife. A companhia surgiu em Madri, em 2000, estabelecendo-se em Guaiaquil a partir de 2004. Sobre seus pilares artístico-teóricos, é com ironia que o grupo comenta: “a aridez cultural e o conservadorismo político pareceram ideais para projetar-se nos termos de Brecht e Walter Benjamin, estando na corrente em contracorrente”.
17 de abril – quarta-feira
Coraje II – Cia. Taller de Otra Cosa (San Juan/ Porto Rico)
21h, Sala Ademar Guerra (CCSP) – 200 lugares
Duração: 60 min / Classificação: 16 anos
Sinopse: Coraje II explora o tema da violência urbana em um país sem uma guerra declarada, mas seus cidadãos vivem submersos na paranóia gerada pela indústria da segurança que produz uma cultura que encobre a memória reprimida de uma nação militarizada envolvido em múltiplas guerras.
Fundado em 1990, o início do grupo esteve ligado à dança experimental, sob a coordenação de Viveca Vázquez. Atualmente, Taller de Outra Cosa é dirigido por Teresa Hernández, cuja preocupação é trabalhar na fronteira das artes cênicas, com temas como as identidades, a arte e os cânones estabelecidos, a violência e o poder sob suas expressões diversas.
17 de abril, quarta-feira
Flor de Macambira – Coletivo Teatral SerTão Teatro (Brasil/João Pessoa-PB)
21h, Sala Adoniran Barbosa (CCSP) – 300 lugares
Duração: 80 min / Classificação: 12 anos
Sinopse: A peça é uma festa popular com música, comicidade e cor que conta a história da jovem Catirina, “a mais bela flor da Fazenda Macambira”, que para salvar a si e a seu amado mergulha nas profundezas de sua alma. Tipos do cotidiano brasileiro como o Coronel sanguinário, o padre mercantilista, o banqueiro especulador e marqueteiro enganador são trazidos para o palco nessa trama do sertão brasileiro.
SerTão Teatro surge em 2007 com o espetáculo Vereda da Salvação. Em 2009, monta Farsa da Boa Preguiça, em parceria com o grupo Clowns de Shakespeare. Flor de Macambira, de 2011, é seu terceiro espetáculo com o qual se apresentou por dez cidades situadas ao longo do Rio São Francisco.
18 de abril – quinta-feira
Os Ancestrais – Teatro Invertido (Brasil – Belo Horizonte/MG)
21h, Sala Ademar Guerra (CCSP) – 200 lugares
Duração: 80 min / Classificação: 16 anos
Sinopse: A montagem parte de uma situação fantástica para abordar temas como os laços familiares e a noção de propriedade da terra no Brasil. Sob a perspectiva da afetividade, a história trata das contradições dos relacionamentos, dos desejos que permeiam essa convivência. Sob a perspectiva social, reflete o fato de que no Brasil ainda não há uma política justa no que diz respeito à propriedade da terra, o fato de que a noção desse direito é resultado da história de um país colonizado, invadido e desigual.
O grupo de atores da cidade de Belo Horizonte, que surgiu no ano de 2004, tem como principal objetivo aprofundar a pesquisa em treinamento do ator e criação cênica iniciada no curso de graduação em teatro da UFMG. A cada nova montagem a companhia reafirma o seu interesse pela investigação artística e colaboração como princípios fundamentais de seu trabalho. Seus espetáculos buscam uma dramaturgia que dialogue com os desejos dos integrantes do grupo e com o tempo em que vivem. Atualmente o Invertido tem em repertório cinco peças: Nossa Pequena Mahagonny (2003), Lugar Cativo (2004), Medeiazonamorta (2006), Proibido Retornar (2009) e Estado de Coma (2010).
18 de abril – quinta-feira
Halcon de Oro- Q´orihuama – Centro de Experimentación Escénica – CEXES (Peru/Lima)
21h, Sala Jardel Filho (CCSP) – 324 lugares
Duração: 70 min / Classificação: 14 anos
Sinopse: Levando a ação cênica para as fronteiras entre teatro, dança e pantomima, o grupo peruano se nutre de tudo o que possa estimular os sentidos e gerar sensações no espectador. Rodolfo Rodríguez e Alfredo Alarcón apresentam a história de um ex-combatente, recluso no manicômio em tempos sombrios. Sua relação com um sacerdote andino o levará, no entanto, a caminho de novas provações, ‘a fim se curar.
O CEXES foi criado pelo Grupo Cultural Yuyachkani, da cidade de Lima, para a criação e investigação de encenações com jovens artistas provenientes de diversas modalidades artísticas.
19 de abril, sexta-feira
Cara de Cuero – Compañía Teatro Rabia (Chile/Santiago)
21h, Sala Ademar Guerra (CCSP)
Duração: 60 min / Classificação: 16 anos
Sinopse: No texto do alemão Helmut Krausser, baseado em fatos reais:, em 1987, a polícia de Munique matou a tiros, e por engano, Werner Bloy, a quem Krausser dedica sua obra. Cara de Cuero é uma reflexão sobre a violência, o Estado, o papel da polícia na sociedade atual, utilizando como referência o personagem homônimo do filme The Texas Chainsaw Massacre (1974), de Tobe Hooper. A peça leva o espectador noite adentro, acompanhado por Cara de Cuero e sua amiga-amante. Ambos se convertem no centro de um equivocado cerco policial, do qual a saída somente será conhecida ao amanhecer.
O Teatro Rabia é uma companhia independente. Nasce no ano de 2005 e suas obras abordam as diversas problemáticas do homem contemporâneo, por meio de uma estética elaborada. Entre suas montagens estão Present Progressive , El Último Vuelo e Ganas de matar.
19 de abril, sexta-feira
Alonso y Aguirre ¡perdidos en el Inframundo! – Compañía Nacional de Fósforos (Argentina/Buenos Aires)
21h, Sala Jardel Filho (CCSP) – 324 lugares
Duração: 60 min / Classificação: 12 anos
Sinopse: A peça decorre sob o tempo histórico de Carlos V, mandatário do enorme império romano-germânico, no século XVI. Nessa época têm início as explorações de Alonso e Aguirre, “dois heróis formidáveis ou dois imbecis”, responsáveis por lançar um novo olhar – às vezes absurdo – sobre a conquista da América, também passada pelo crivo hollywoodiano. Estreado em Lima, em 2010, o espetáculo é uma incursão nos pântanos da história, da identidade e da memória que retorna sempre para enredar-se sobre si mesma.
Herdeiros da renovação de antigas tradições, buscadores de novas formas para pervertê-las, deformá-las e abandoná-las, A Compañía Nacional de Fósforos nasce em março de 2002 com a estréia de El Abismo no Teatro Municipal de Morón. Seus espetáculos se caracterizam por ser sempre uma procura, conjugando a teoria com a prática, adaptando velhas técnicas a novos modelos, apostando em um pensamento revolucionário, subversivo,inquisidor, irreverente.
20 de abril, sábado
Talco – Un drama de tocador – Argos Teatro (Cuba/Havana)
21h, Sala Ademar Guerra (CCSP) – 200 lugares
Duração: 75 min / Classificação: 16 anos
Sinopse: A peça é vencedora do Primeiro Prêmio Cubano-Alemão de Peças Teatrais 2009. Em um velho cinema de Havana, os personagens Javi, Mashenka, Zuleydi e Álvaro se encontram para recriar um universo fechado de relações marcadas pela marginalidade e interesses diversos. Um submundo de violência que jaz, muitas vezes, oculto, mas presente na realidade atual.
Fundado em 1996, o grupo cubano funciona também como um espaço de formação, realizando laboratórios permanentes para atores e estudantes. Argos Teatro já se apresentou em diversos países, entre eles México, Venezuela, República Dominicana, Colômbia, Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Brasil.
20 de abril, sábado
Bandeira de Retalhos – Grupo Nós do Morro (Brasil/Rio de Janeiro)
21h, Sala Jardel Filho (CCSP) – 324 lugares
Duração: 80 min / Classificação: 14 anos
Sinopse: A peça ficciona o episódio histórico de 1977, quando o governo tentou expulsar parte dos moradores do Vidigal. Eles resistiram e, com o apoio da população, de setores da igreja católica e da imprensa, mudaram a demografia do Rio de Janeiro. Originalmente um roteiro cinematográfico, escrito em 1979, o texto é inspirado na própria experiência do autor, Sérgio Ricardo, que se mudou para o Vidigal em meados daquela década.
Fundado em 1986 por Guti Fraga, o grupo tem a missão de possibilitar à comunidade do Vidigal a experiência com a arte e o acesso à cultura. Atualmente, o coletivo possui mais de cem peças teatrais encenadas, cinco curtas-metragens produzidos e mais de dez mil alunos beneficiados pelo projeto.
21 de abril, domingo
Salmo 91 – ATeliê voadOR Companhia de Teatro (Brasil/Salvador)
18h, Sala Jardel Filho (CCSP)– 324 lugares
Duração: 120 min / Classificação: 16 anos
Sinospe: Segunda montagem brasileira do texto do dramaturgo Dib Carneiro Neto, que com ele venceu o Prêmio Shell 2008, Salmo 91 conta a história de dez detentos sob o pano de fundo do massacre no presídio de Carandiru, onde 111 presos foram mortos pela polícia militar, em 1992. A peça não é um relato realista do massacre e foca na perspectiva do preso sobre a vida marginal.
ATeliê VoadOR foi criada em 2002 e é sediada na Universidade Federal da Bahia, trabalhando com temas ligados à subalternidade. Nos últimos três anos debruçou-se sobre a “Trilogia do Cárcere”, composta por O melhor do homem (2010), Salmo 91 (2012) e O diário de Genet (2013).
Visite o site oficial da 8ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo de São Paulo!
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