Crítica: Prazer tem atuações medianas e clichês
Por Átila Moreno, no Rio*
Especial para o Atores & Bastidores
Quando o público entra na sala de teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, para assistir Prazer, da premiada companhia mineira Luna Lunera, se depara com algo inicialmente diferente.
Antes de tudo começar, os atores já estão no palco: dispersos no espaço, mas concentrados em si, riscando a parede com frases marcantes, inspiradas ou tiradas do universo de Clarice Lispector (1920-1977).
O espetáculo faz uma leve referência à obra Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, da escritora ucraniana naturalizada brasileira, que serviu de base para o grupo. Clarice era uma das poucas do ramo, que conseguia transferir as angústias do cotidiano, por meio de uma literatura sofisticada.
Apesar de ser totalmente diferente do romance entre Lóri e Ulisses no livro, aqui a trama gira em torno de quatro amigos, que vivem dilemas e uma crise que não parecem ter fim. Um deles chega de um intercâmbio e vai se encontrar com os companheiros que não via há muito tempo.
No entanto, a peça não aprofunda quando traz tamanha complexidade destes quatro personagens, interpretados por Marcelo Souza e Silva, Cláudio Dias, Isabela Paes e Odilon Esteves.
Quando ganha ritmo, a montagem se perde em clichês, pois quem nunca viu essa história de grupos de amigos que estão procurando se acertar? E olha que a companhia bem que tenta trazer um pouco de frescor, com a direção compartilhada entre os próprios atores e outros artistas como Éder Santos, Jô Bilac, Mário Nascimento, Roberta Carreri.
Só que isso às vezes se torna confuso, resultando numa falta de sintonia e equilíbrio estético, como um pêndulo sem demarcar nenhuma hora, e só fazendo mesmo muito barulho, principalmente pela trilha sonora, que traz canções da banda brasileira Los Hermanos e do grupo inglês Coldplay.
Artifício que deixou a peça um pouco adolescente e pop, com movimentos corporais que se mostram até dispensáveis em alguns momentos.
O figurino de Marney Heitmann acerta, mas ao retratar o personagem de Odilon Esteves deixa uma dúvida: por que diabos um homem enfermeiro, com um perfil tão ranzinzo e “quadrado”, está usando saia?
Se na direção, o excesso de estilos pesou, não se pode dizer o mesmo da estrutura cênica, que salva boa parte desse espetáculo. O cenário, idealizado por Ed Andrade, ajudou a trazer luz para uma peça que fala das trevas de cada ser humano. Além do mais, não é meramente decorativo e chega a ser quinto ator ou elemento primordial na trama.
É uma cenografia que consegue dialogar, incitar e provocar, muito mais que os próprios protagonistas, trazendo diversas linguagens como videografismos, pichações e projeções. Estas muitas bem trabalhadas pela equipe composta por Eder Santos, André Hallak, Leandro Aragão e Barão Fonseca. Vale ficar atento com a figura do cachorro projetado na parede.
Os atores, infelizmente, trazem uma atuação demasiadamente forçada e insossa. Salvo, às vezes, o personagem de Odilon Esteves, que parece conquistar mais o público, por meio de sua crítica ácida com os demais.
Prazer pode soar simpática para quem assiste algo da companhia pela primeira vez. Mas se compararmos com a sofisticação de Aqueles Dois, nota-se que algo ficou entre a pichação e o trabalho de um grafiteiro.
*Átila Moreno é jornalista.
Prazer
Avaliação: Fraco
Quando: Quarta a domingo, 19h. 105 min. Até 02/06/2013
Onde: CCBB – Centro Cultural do Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, 5ºandar, Centro, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21 3808-2020)
Quanto: R$ 6 (inteira) R$ 3 (meia-entrada)
Classificação etária: 16 anos
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