Entrevista de Quinta – Lulu Pavarin, a atriz que faz o que quer: “Hoje, eu acho que estou no ponto”
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Eduardo Enomoto
Lulu Pavarin é uma das damas atuais do teatro brasileiro. Atriz de experiência farta, está em cartaz no Espaço dos Parlapatões, em São Paulo, toda quinta, às 21h, com o monólogo tragicômico Como Ser uma Pessoa Pior, no qual é dirigida por Mario Bortolotto.
Falando em diretor, Lulu tem currículo de impressionar qualquer um: foi dirigida por artistas reconhecidos como Antunes Filho, Eduardo Tolentino, Gabriel Villela, Hugo Possolo, Alexandre Reinecke e até o grande jornalista e dramaturgo Plínio Marcos, de quem se tornou amiga.
Além do monólogo, ela reestreia em junho, no Teatro João Caetano, em São Paulo, a peça Serpente Verde, Sabor Maçã, texto de Jô Bilac para a Cia. das Trevas, na qual é atriz convidada. E ainda batalha para conseguir patrocínio para sua nova peça, Não Somos Amigas, escrita por Michelle Ferreira.
Simpática e carinhosa, Lulu recebeu o Atores & Bastidores do R7 em seu apartamento, na região da av. Paulista, em São Paulo, para esta Entrevista de Quinta.
Leia com toda a calma do mundo:
Miguel Arcanjo Prado – Lulu, que história é essa de você ensinar a ser uma pessoa pior? São Paulo já não está cheio de gente mestre nisso? [risos]
Lulu Pavarin – [risos] É verdade, São Paulo já tem muita gente ruim [gargalhada]. Eu tive vontade de viver esta mulher, que é tão segura de si. Ela fala da codependência, que são pessoas que dependem de um relacionamento destrutivo para viver. A pessoa não existe se não se sentir importante para o outro.
Está cheio de gente assim…
Eu tive uma amiga que foi dependente química. Aí fui visita-la na reabilitação e saí de lá entendendo melhor também esta questão da codependência. O argumento da peça é meu. Aí chamei o Germano Melo, com quem já havia trabalhado lá no Antunes [Filho], e a Michelle Ferreira, que é uma jovem dramaturga de muito talento. A peça foi montada aqui, nesta mesa, na sala da minha casa, onde estamos conversando. Na pesquisa, ouvi de pessoa codependente que falava que preferia que o outro morresse para ela conseguir dormir em paz.
E como foi a construção desta mulher que tenta deixar a obsessão?
O Mário Bortolotto [diretor] criou minha personagem no dia a dia. Ele falava: você não vai ser boazinha! Ele me deu a alma da personagem. Começamos fazendo o horário da meia-noite no Parlapatões, e foi aquele sucesso, viajamos muito e cheguei a apresentar para 750 pessoas em São João da Boa Vista [SP]. Agora, estamos voltando no horário da quinta nos Parlapatões, vamos ver o que vai acontecer. Eu investi um dinheirinho nesta peça! [risos]
As pessoas se identificam com esta mulher tão problemática?
Sim. As mulheres, sobretudo, se identificam muito. Tem gente que até leva caderninho para anotar as dicas [risos]. Eu tiro sarro de tudo! Não deixo sobrar nada. A personagem se curou lendo muitos livros de autoajuda.
Como é o nome dela?
Amábile. Peguei este nome agradável para contrapor. É o nome de uma tia minha. Ainda bem que ela não assistiu [risos]. Mas a personagem não é ruim, ela só quer se curar. As minhas companheiras de cena são uma samambaia e um copo de uísque [risos].
É verdade que você foi amiga do Plínio Marcos?
Sim. Eu fui dirigida por ele com um texto dele. Ele chegou um dia no restaurante Orvieto [atual Luna di Capri, na região do Baixo Augusta, centro paulistano] e disse pra todo mundo: “Gente, ganhei uma verba da Prefeitura e vou fazer uma peça. Você, você, você [apontando para as pessoas nas mesas] vai trabalhar comigo.” Só que ele me pulou na hora de apontar. Aí eu fui embora para casa chorando. Aí, o Ênio Gonçalves [ator] e a Mara Faustino [atriz] me defenderam para ele. Disseram que eu era boa e que ele deveria me colocar na peça. Aí, ele respondeu: “Eu vou fazer o quê? Liga para esta menina e manda ela voltar”. Conclusão: fizemos a peça Jesus Homem e nos tornamos grandes amigos.
Como era o Plínio?
O Plínio começava a contar uma história na mesa do bar e, quando via que ninguém estava prestando atenção, ele falava: “aí, veio um carro de polícia e pá”. Aí, todo mundo voltava a prestar a atenção! [risos] Ele, além de dramaturgo, foi um grande jornalista. Ele sabia tornar uma história saborosa!
E seu caso de amor nos palcos com o Antunes Filho?
O Antunes foi me ver no teatro e cismou que eu tinha uma voz muito boa e me convidou para trabalhar com ele. A primeira peça foi Paraíso Zona Norte. Viajei para vários países com ele. Foi um grande mestre na minha vida.
E como foi trabalhar com o Gabriel Villela?
Olha, nunca ri tanto nos bastidores de uma peça como ria com o Gabriel Villela em Guerra Santa. Ele contava os “causos” de Minas e eram todos muito engraçados. E todos tinham a ver com a família dele, claro. Eu ri do dia em que entrei ao dia que saí.
Que tipo de atriz você é?
Eu sou dramática! Quem lê isso vai rir, mas o Antunes não me deixava fazer graça, porque dizia que as pessoas riam de mim com facilidade. Uma vez ele me deu só uma falinha, bem pequenininha, mas na hora em que eu falava, todo mundo ria. Aí, ele cortou. Já o Eduardo Tolentino, no Grupo Tapa, trabalhou essa coisa de careta. Com ele, aprendi a suavizar as expressões. Ele é muito bom nisso, me ajudou bem, a não ser tão “careteira”… Hoje, eu consigo fazer o que eu quero. Eu abuso do drama e da comédia. Eu gosto de diretor. Sou uma atriz intuitiva, isso a gente tem, mas se o diretor não te der mais, não tem graça. Por isso, eu abuso mesmo dos meus diretores!
Sua novela mais recente foi Passione. Você tem vontade de voltar à TV?
Sim. Eu estou com saudade da TV. Tenho sentido falta de roteiro, de texto para decorar, de gravar, sabe? Quando comecei a fazer TV era muito difícil, tinha filho pequeno [o jornalista Guilherme Pavarin], então, era um sofrimento. Não tinha internet que nem hoje para dar tchauzinho pelo computador. Às vezes eu viajava também com as peças e tinha de esperar a telefonista da Venezuela por três horas até que ela conseguisse completar a ligação. Hoje, penso que seria uma delícia poder gravar minha novelinha no Rio. Acho que a gente, infelizmente, precisa ficar vleha para amadurecer. Então, eu acho que hoje eu estou no ponto.
Como Ser uma Pessoa Pior
Quando: Quinta, 21h. 45 min. Até 9/5/2013
Onde: Espaço dos Parlapatões (praça Roosevelt, 158, centro, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-4449 )
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Classificação etária: 14 anos
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