Crítica: Musical O Mágico de Oz, da dupla Möeller e Botelho, rompe fronteiras entre adultos e crianças
Por Miguel Arcanjo Prado
Muita gente teima em classificar o mundo das artes do palco como teatro adulto ou infantil. A definição realmente funciona em muitos casos, mas é jogada por terra em O Mágico de Oz, 31º musical da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho – e o último em parceria com a Aventura Entretenimento – em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo.
A superprodução consegue envolver pais e filhos em um misto de fascinação e vontade de voltar a acreditar em um mundo de fantasia. Este é o seu mérito, sobretudo em um mundo de relações cada vez mais fria e técnicas, mediadas por máquinas.
O musical se esmera para contar de forma correta o centenário enredo da menina Dorothy, que resolve fugir de casa porque acredita ser incompreendida pelos tios e é tragada por um furacão que a leva para um novo e perigoso mundo.
A história de Lyman Frank Baum foi imortalizada no cinema em 1939, com Judy Garland no papel principal.
Mas, nos palcos brasileiros, é Malu Rodrigues quem vive a menina. Tem voz doce e afinada e presença de sobra para segurar a personagem – sua atuação destacada lembra a de Amanda Acosta no musical My Fair Lady, em 2007, pelo mesmo nível de técnica aliada ao carisma, que é indispensável nestes casos.
Bruna Gerin, que já havia chamado a atenção por sua capacidade de segurar distintos personagens em uma mesma obra em Hair, se destaca outra vez na pele da tia Em (com a qual faz par com Fernando Vieira, como o Tio Frank) e também como Glinda, a bruxa boa.
A competência neste tipo de obra da dupla Möeller & Botelho se faz presente nos cenários de Rogério Falcão, nos figurinos de Fause Haten, na iluminação de Paulo Cesar Medeiros e na coreografia de Alonso Barros. Todos contribuem à sua maneira para criar uma atmosfera cativante, sem com que o foco na história seja perdido.
Heloísa Périssé dá show ao interpretar a Bruxa Má do Oeste em sua estreia no mundo dos musicais. Irreconhecível por conta da caracterização, a atriz conquista a plateia com um texto divertido e com seus costumeiros – e certeiros – cacos. Não adianta segurá-la. A atriz é bem melhor solta.
Outro nome vindo da TV, Lúcio Mauro Filho, por sua vez, derrapa na sua construção do Leão Covarde. Ele vai por um caminho no qual associa a falta de coragem à homossexualidade, em uma construção gay caricata e forçada, típica do que fazia no humorístico Zorra Total (Globo). Seu personagem destoa do todo da obra por procurar o riso fácil que advém do preconceito embutido em parte da plateia – um pecado imperdoável ao se tratar de um espetáculo dedicado também às crianças e que deveria formar novos valores e não reforçar o deboche do diferente.
Completam os amigos de Dorothy um correto, preciso e discreto Nicola Lama, como o Homem de Lata, e André Torquato, na pele do Espantalho, em uma construção de corpo e voz que reflete trabalho árduo, como o ator já havia demonstrado em Priscilla – Rainha do Deserto.
Outro charme da montagem – além do cachorrinho real de Dorothy que encanta quem adora os animais – é a presença de Luiz Carlos Miéle como o Mágico. Miéle não é ator, e isso todo mundo sabe. Nem cantor. Isso também todos nós sabemos. Mas as duas informações não fazem a menor diferença nem são capazes de tirar sua segurança no palco. Ele assume o personagem com o excesso de charme que lhe é costumeiro e a certeza de ter criado o mundo dos shows neste País. E ponto.
Ao todo, os 35 atores e 16 músicos evidenciam um conjunto coeso em seu propósito de envolver e entreter seu público, não importa qual idade este tenha. Porque, diante do musical O Mágico de Oz, todos voltamos, com gosto, a ser crianças outra vez.
O Mágico de Oz
Avaliação: Bom
Quando: Sexta, 21h30; sábado, 16h e 20h; domingo, 15h e 19h. 150 min, com intervalo. Até 26/5/2013
Onde: Teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, São Paulo, tel. 0/xx/11 5693-4000)
Quanto: R$ 40 a R$ 180
Classificação etária: Livre
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Miguelito, parabéns efusivos pelo texto! Principalmente pelo parágrafo relacionado a como foi construído o personagem Leão Covarde. É realmente lamentável que uma peça destinada a crianças tenha um personagem que possa prestar um desserviço, inculcando em mentes infantis que um ser humano deve ser desqualificado por ser homossexual.
Como jornalista e membro da APCA, foi muito correta a sua observação. Aliás, digo mais: foi necessária, pois as pessoas pensarão antes de reproduzir estigmas, frutos de preconceitos que deveriam ter sido superados.
Já quanto a fotografias, excelente a caracterização da Heloísa como a Bruxa Má. E que bonita é Bruna Guerin!