Por Miguel Arcanjo Prado
Muso do Teatro R7, Joaquim Lino, de 32 anos, é paulista de Botucatu. Mas foi criado Brasil afora.
Terceiro dos quatro filhos de Beatriz e Fernando Lino, acompanhou os pais nas mudanças quase ciganas durante a vida. Morou em Ouro Fino, Uruaçu, Recife, Birigui e Chapadão do Céu.
Com tanto perambular, ficou difícil criar raízes. “Nunca tive amigo de infância”, diz.
O sotaque acabou neutralizando diante da miscelânea de acentos que escutou. Mas também teve seu lado bom. Ficou “muito adaptativo”.
Aos 18 anos, depois de cursar ensino médio técnico em contabilidade, sentiu “necessidade de sair”. Criar sua própria história. Pegou um avião e foi trabalhar por um ano em uma ONG no interior da Inglaterra.
No dia a dia, ouvia dos colegas: “Joaquim, você tem de ser ator”. Ficou com aquilo na cabeça.
De lá, foi para a Dinamarca, onde ficou quatro meses antes de retornar ao Brasil meio que às pressas. “Teve o 11 de Setembro e meus pais me mandaram voltar. Ainda consegui ficar até dezembro”, lembra.
Quando voltou, pegou a família mudando-se para o interior de Goiás. Chegou à conclusão de que aquela vida nômade tinha dado para ele. “Vi que a minha história era outra”.
Fez a mala e foi morar com a tia Suzi Lino no bairro Alto da Lapa, em São Paulo. Resolveu investir naquilo que haviam lhe dito. Se matriculou em cursos de teatro, ficou sem grana, sofreu, sentiu saudades, chorou, mas ficou. “Esperava que as coisas fossem mais fáceis, que tudo estivesse pronto me esperando. Era inocente, claro. E vi que as coisas não eram assim. É o choque da vida”, afirma.
A primeira peça foi Evergreen, em 2004, na Casa das Caldeiras. Resolveu aprofundar o estudo artístico e entrou para a graduação em artes do corpo, na PUC-SP. “O curso é maravilhoso e me ajudou a compreender a arte como movimento, até por interligar a dança, o teatro e a performance”, conta.
Em 2007, fez o infantil Luna Clara e Apolo Onze, dirigido por Cris Lozzano. Tomou coragem e resolveu escrever e dirigir seu próprio projeto: Casa de Tijolos, um infantil que acabou ganhando o Proac e tinha Leo Moreira no elenco, ainda antes de virar dramaturgo de sucesso com a Cia. Hiato.
Neste meio tempo, para ganhar grana, deu aulas de inglês em uma escola bilíngue. Em 2010, enveredou-se na dança, com a Cia Aberta de Dança, com o espetáculo Sapatos Cegos. E viu despertar em si o desejo de fazer cinema: “Escrevi e dirigi o curta A Criança, a Mulher e os Homens”.
E o ímpeto nômade gritou outra vez nas veias e resolveu ir morar na Argentina, onde estudou roteiro em Buenos Aires. Enquanto fazia tantas coisas, teve de se despedir de uma pessoa muito amada, sua avó, Tereza Lino. “Ela foi uma referência feminina muito importante para mim”.
Logo após a perda, num impulso artístico-emocional, foi para a casa dela, no interior, mergulhou naquele mundo e naquelas roupas, e fez a performance Investigação Feminina e o Flerte com a Morte. “Eu tinha sonhos que invadiriam a casa e, quando terminamos, chegaram uns homens na casa, que seria vendida”.
E veio o segundo curta, Fala Comigo Agora, com a história de um quarentão que trabalha na noite vestido de mulher. O filme contou com elenco de peso: Cleyde Yáconis, Antônio Petrin, Cadú Favero e Marat Descartes. Em 2012, veio a surpresa com o convite para fazer a peça ¡Salta!, do Coletivo Teatro Dodecafônico, que volta no dia 8 de maio ao cartaz no Tusp. “Reencontrei a amiga Katia Lazarini e ela acabou fazendo a ponte”.
Diz que não ficou preocupado com a cena de nudez que fecha a montagem. “Fiquei tranquilo, mas tive de correr atrás do corpo [risos]”. “Ser o único homem da peça já traz automaticamente um destaque, porque a força masculina é diferente e tem outro peso. Saio da peça exausto”.
Assim que a nova temporada da peça acabar, vai para Goiás, onde fará com a família um curta experimental: O Homem Semeador. Depois, pretende viajar outra vez: “Quero ir para Nova York estudar roteiro”.
Pelo jeito, o desejo de mover-se pelo mundo está mesmo na veia de Joaquim Lino, o artista nômade.
Veja, abaixo, imagens da carreira de Joaquim Lino:
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