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Crítica: Peça Universos desanda com saída de atriz

Renata Calmon (à esq.) foi substituída por Bruna Thedy (à dir.): a primeira faz muita falta – Foto: Ronaldo Gutierrez

Por Miguel Arcanjo Prado

Teatro é arte efêmera. Uma mesma montagem pode ter distintas caras, dependendo do dia, da energia dos atores, da plateia. Por isso é sempre arriscado, porque depende, exclusivamente, daquele encontro.

Ciente disso, em 2012, o diretor Zé Henrique de Paula recriou, com maestria, um mesmo espetáculo. Sabia que um novo espaço/elenco pedia nova peça. Foi assim que Casa Cabul virou No Coração do Mundo e surpreendeu muita gente.

A obra, antes no palco italiano, ganhou o intimista e informal espaço de seu teatro, o Núcleo Experimental, levando o público a viajar junto com a protagonista vivida por Chris Couto para o Afeganistão. Este foi o grande acerto da montagem de 2012.

Contudo, quem viu Casa Cabul e No Coração do Mundo notou que uma coisa, pelo menos, não funcionava na nova versão: a substituição de Kelly Klein por Renata Calmon, na pele da filha da protagonista. Calmon destoava do elenco, com registro acima do tom, o que era reforçado ainda mais quando a atriz batia texto com Eric Lenate, ótimo em cena como um astuto afegão.

Pois veio a chuva de críticas, aqui inclusive, e Renata Calmon conseguiu digeri-las com elegância e sobriedade – coisa para poucos e mérito da atriz.

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Sabedora de que a melhor resposta é com um novo trabalho – até porque ninguém tem a obrigação de ser ótimo sempre –, ela voltou ao mesmo palco do Teatro do Núcleo Experimental, dessa vez de forma arrebatadora como protagonista da montagem Universos.

Thiago Ledier, ainda com Renata Calmon: ator parece perdido com a mudança – Foto: Ronaldo Gutierrez

Tradutora do texto original do britânico Nick Paine, Calmon tinha um domínio da fala, da voz e do corpo, fazendo crível sua cientista Melissa, par do apicultor Roger, na pele do cativante Thiago Ledier.

Pois eis que, por ironia do destino, logo quando acerta, Renata Calmon precisa deixar a obra duas semanas antes de a temporada terminar. Vai para um novo projeto, com o mesmo Eric Lenate parceiro de cena em No Coração do Mundo, agora na função de seu diretor.

Sem sua protagonista feminina, a Zé Henrique de Paula nada restava fazer a não ser substituí-la nas duas semanas derradeiras. E escalou a atriz Bruna Thedy para a difícil missão.

O R7, que viu a obra com Calmon em seu penúltimo dia em cena (leia a crítica), resolveu voltar na sessão desta terça (14), para ver o desempenho de Thedy no papel.

A primeira percepção é que, apesar do texto de inteligente e provocativo, a direção propositiva e a luz poética de Fran Barros, a chave do êxito da montagem estava na química que existia entre Calmon e Ledier.

E a conclusão: sem Calmon, a obra não funciona. Bruna Thedy tem o mérito de fazer sua Melissa completamente diferente, de não tentar copiar o que a colega fazia, até porque seria impossível. O problema é que sua Melissa não conquista e não convence.

A atriz comete o mesmo erro de Calmon em No Coração do Mundo: escolheu um registro fora do tempo da obra, e parece sozinha e abandonada, enquanto Thiago Ledier aparenta não saber o que fazer com aquela situação e liga o piloto automático, o que deixa a obra mais complicada.

Se o público ria à beça na sessão com Calmon, na última, parecia não conseguir entrar na história. Um clima de tensão pairava no ar. Faltava viço, faltava cor.

Se Calmon demonstrava cenicamente entendimento perfeito das reiterações de situações propostas pelo texto e pela direção, Bruna Thedy parece desconhecer as nuances no dizer que dariam sentido à montagem.

A atriz escolhe ir por um perigoso caminho superficial, deixando o espectador saudoso da segurança com um quê de arrogância que Calmon dava ao papel.

E, talvez, fosse exatamente por isso que o personagem de Ledier, como um cachorrinho aos pés da amada, ganhava o colo (e a torcida) do público, sensibilizado com as situações patéticas daquele rapaz convincentemente apaixonado.

O recado que esta substituição de Renata Calmon por Bruna Thedy dá é que o teatro é arte viva. Não é apenas técnico. Atores não são peças que podem ser substituídas assim, no meio de um processo. Pelo menos, se não for encontrado outro esteja à altura do desempenho anterior, ou então, que apresente proposta mais interessante. O que, infelizmente, não é o caso.

Universos
Quando: Quinta (16), às 21h. 70 min. Último dia.
Onde: Teatro do Núcleo Experimental (r. Barra Funda, 637, Barra Funda, São Paulo, tel. 0/xx/11 3259-0898)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação etária: 12 anos

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