Entrevista de Quinta: Vista por 700 mil pessoas, Beth Goulart sonha com público de 1 milhão para Simplesmente Eu, Clarice Lispector
Por Miguel Arcanjo Prado
Foto de Eduardo Ielen
Não é qualquer peça, no Brasil atual, ainda mais em se tratando de um monólogo, que pode comemorar os números que Beth Goulart vive com o espetáculo Simplesmente Eu – Clarice Lispector.
Na estrada há cinco anos, a montagem já foi vista por mais de 700 mil pessoas em 982 sessões em 118 cidades brasileiras.
E os números não querem parar de crescer. Afinal, a obra volta ao cartaz nesta sexta (17), no Teatro Fashion Mall, no Rio, onde fica até o fim de julho. Beth já sonha com a marca de 1 milhão de espectadores.
Na peça, Beth aproveita a semelhança física para criar, com força surpreendente, uma das mais lendárias escritoras de nossa literatura: Clarice Lispector. O desempenho soberbo da atriz no papel lhe rendeu o merecido Prêmio Shell de melhor atriz em 2010.
Nesta Entrevista de Quinta ao R7, Beth Goulart contou que sente o carinho do público a cada apresentação. Afinal, vem de uma família muito bem quista pelos brasileiros: é filha de Paulo Goulart e Nicette Bruno, um dos casais mais amados dos palcos e da TV.
Durante a conversa, Beth contou como a família lida com o tratamento do pai contra o câncer e torce por sua recuperação total. Ela também falou sobre o reencontro com o público carioca e explicou como consegue manter a obra tanto tempo em cartaz. E, ainda, revelou qual é seu maior desejo neste momento.
Leia com toda a calma do mundo:
Miguel Arcanjo Prado – Como é fazer um espetáculo que já tem cinco anos de estrada, sempre com tanto sucesso por onde passa?
Beth Goulart – É a maior alegria ter um trabalho que emociona e encanta tantas pessoas. Acredito que meu amor e admiração por Clarice me ajudaram a retratá-la com o coração. O espetáculo é meu olhar sobre ela e, neste sentido, coloco meus valores e minhas escolhas na concepção do espetáculo. Eu me utilizo de todos os elementos cênicos, como a luz, a música, a projeção, o cenário e os figurinos como auxiliares da narrativa. Com eles, desenho meus movimentos no espaço e as palavras ganham importância, assim como o silêncio. Vamos completar cinco anos de estrada em vários Estados e teatros do Brasil. Apesar de ser o mesmo espetáculo como estrutura, ele nunca é o mesmo e se renova em cada olhar.
Beth, me conta algumas apresentações marcantes, aquelas inesquecíveis.
Várias apresentações foram especiais, mas gostaria de ressaltar as apresentações no Teatro Odylo Costa Filho na UERJ, um teatro de 1.200 lugares lotados, em que fiz pela primeira vez o espetáculo em teatros grandes e senti que a magia não se perdeu. Ao contrário, se multiplicou. Outro que me marcou foi no Festival de Teatro de Curitiba, no Teatro da Reitoria, você estava lá. Foram duas apresentações muito especiais, em que senti a presença de Clarice Lispetor nos agradecimentos finais que foram de uma intensidade e de uma duração inexplicáveis e inesquecíveis. Foi muito emocionante! Para terminar, destaco o Teatro Riachuelo, em Natal, Rio Grande do Norte, com 1.500 lugares em apresentação única e totalmente lotada. Foi uma apresentação que parecia cinema, com uma boca de cena de 14 metros. Ficou lindo! Ah, lembrei de mais um. O Teatro da UFPE, em Recife, com 1.936 lugares cheios de emoção e aplausos. Na terra de Clarice fui abraçada pelo público e fiquei muito feliz.
Deve ter sido de arrepiar realmente. A peça já passou por quantas cidades?
A peça já esteve em 118 cidades pelo Brasil, vista até o momento por 703.993 pessoas em 982 sessões do espetáculo.
Uau! São números para cair para trás. E fico feliz de ver algo assim, porque hoje em dia é muito complicado peças ficarem muito tempo em cartaz. O que você acha deste movimento no teatro atual de temporadas bem curtas?
É uma pena ! É muito difícil fazer teatro no Brasil, enfrentamos muitas dificuldades.
O que espera dessa volta ao Rio?
Que tenhamos uma bela temporada para manter o espetáculo ainda por muito tempo.
Em qual tipo de teatro você acredita, Beth?
Acredito no teatro que é um espaço de liberdade, de reflexão, de atitude, de ideias. Acredito na capacidade de transformação do teatro e na força do coletivo.
Quem foram seus maiores mestres no teatro?
Todos os diretores que trabalhei foram importantes e me ensinaram muito, mas gostaria de ressaltar Antonio Abujamra, meu primeiro diretor e mestre. Também destaco a Dulcina de Morais, pelo exemplo de dedicação e amor ao teatro, e Amir Haddad, um sábio na vida e na arte, que supervisionou este trabalho e alongou o meu olhar.
Como você conseguiu sustentar esta produção tanto tempo na estrada?
Tivemos patrocínio do Banco do Brasil para levantar o espetáculo e fazer as temporadas em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo . Conseguimos levar adiante o espetáculo graças ao apoio do Sesc Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio e do Sesi Rio . Também participamos de muitos festivais de teatro pelo Brasil afora.
Você pretende fazer a peça mais quanto tempo?
Enquanto houver interesse por parte do público, estarei a serviço do espetáculo.
Como foi para você levar o Prêmio Shell com este trabalho? O que sentiu na hora que viu seu nome anunciado?
Receber um prêmio sempre é um reconhecimento pelo nosso esforço e dedicação. Senti uma alegria imensa.
Se a visse agora a Clarice Lispector, o que falaria para ela?
Muito obrigada!!!
Beth, como você se mantém tão bonita sempre? Seu corpo é invejável, você sabe…
Agradeço o elogio. Tenho a sorte de uma genética que me favorece e tomo os cuidados normais de toda a mulher.
Você é de uma família muito querida do teatro e da TV brasileira. Sente esse carinho do público também na peça?
Com certeza, onde quer que eu vá, a imagem da família vai junto comigo. Meus pais são muito queridos e admirados .
Falando em família, como está o tratamento do seu pai [o ator Paulo Goulart, que luta contra o câncer]?
Está indo bem , se recuperando e continuando o tratamento.
A notícia da doença dele deixou a família mais unida?
Somos uma família muito amorosa. O que acontece com um atinge a todos nós. A união nos favorece.
Se você pudesse fazer um pedido agora para Deus, qual seria?
A total recuperação de meu pai. Saúde e paz para o mundo!
Simplesmente Eu, Clarice Lispector
Avaliação: Ótimo
Quando: Sexta e sábado, 21h30; domingo, 20h. 60 min. Até 28/7/2013
Onde: Teatro Fashion Mall – Shopping Fashion Mall (estrada da Gávea, 899, São Conrado, Rio, tel. 0/xx/21 2422-9800)
Quanto: R$ 60 (sexta) e R$ 70 (sáb. e dom.)
Classificação etária: 12 anos
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Sou suspeito para falar sobre uma peça abordando o universo de Clarice porque sou fã do trabalho dela. Clarice Lispector, assim como outros grandes nomes como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, Jorge Amado e Cecília Meireles são a “prata da casa” em termos de literatura brasileira. A semelhança é grande e o trabalho de caracterização, através das fotos, vê-se que foi primoroso. Espero que Beth alcance o objetivo dela!