Crítica: Esio Magalhães é o palhaço da nossa geração
Por Miguel Arcanjo Prado
Talento genuíno para o humor é coisa rara. Divertir, de verdade, uma plateia, enquanto a faz refletir é dádiva que poucos artistas conseguem levar a contento. Pois Esio Magalhães é um dos grandes da comédia brasileira.
Na pele do palhaço Zabobrim, o ator surge no palco em WWW para Freedom, espetáculo concebido e dirigido por ele. Com dramaturgia assinada com Tiche Vianna, sua companheira no Barracão Teatro, ele conta a história do palhaço enviado a uma guerra em nome da liberdade.
A montagem é um duro cutucão na invasão norte-americana ao Iraque, em 2003, quando George Bush deu a desculpa esfarrapada de que Saddan Hussein – a quem matou – estava produzindo armamentos nucleares de destruição de massa; fato jamais comprovado.
Mas o tom político da peça não é duro. Nem didático. Ele se mistura às risadas fartas da plateia, em consonância com o carisma de Esio Magalhães. Dono de invejável preparo físico e de uma autêntica percepção do outro, ele hipnotiza a todos e os conduz no caminho de seu personagem, em conflito diante do comportamento durão que o mundo bélico exige e sua real propensão à brincadeira.
O espetáculo encontrou soluções poéticas singelas e fortes, como a cena do bombardeio aéreo feita por frágeis aviões de papel que deslizam suaves pelo céu do palco.
O palhaço de Esio Magalhães brinca todo o tempo com o ridículo do homem, mostrando a real beleza que mora na simplicidade. Esio tem a magia de conseguir despertar a criança em cada um dos espectadores, sem em momento algum infantilizá-los. O que ele traz à tona é uma pureza esquecida e uma gama de valores humanistas que vêm sendo perdidos diante da crueza da vida, da parafernália tecnológica, do individualismo exarcebado, da violência. Esio Magalhães nos mostra o quanto é bonito olhar para o outro e se importar com ele de fato. E o quanto um sorriso que brota em nossos lábios de forma genuína nos faz mais felizes. Sem sombra de dúvida, Esio Magalhães é o palhaço de nossa geração.
PS. A curtíssima temporada de WWW para Freedom em São Paulo no CIT-Ecum é um pecado. O R7 torce para que a peça volte o mais rápido possível ao cartaz. Porque público não lhe faltará.
Leia entrevista exclusiva com Esio Magalhães
WWW para Freedom
Avaliação: Ótimo
Quando: Domingo, 19h (Último dia). Até 9/6/2013
Onde: CIT – Ecum (r. da Consolação, 1623, Metrô Paulista, São Paulo, tel. 0/xx/11 3255-5922)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Classificação etária: 12 anos
Curta nossa página no Facebook!
Leia também:
Fique por dentro do que rola no mundo teatral
Interessante observar que tenho a mesma interpretação de um fato político: a morte de Sadan Hussein e a guerra contra o Iraque sob o suposto argumento de existência de armas químicas que nunca foram encontradas. Estava bem decepcionado com a postura da ONU no episódio, mas minha esperança voltou agora que ela reconheceu o Estado Palestino, até porque já havia passado da hora. Lamento entretanto que tenha sido um reconhecimento parcial, já que foi na qualidade de Estado observador não membro. Mas já é um avanço considerável e, creio, irrevogável.
Mas, falando sobre Esio, que é o assunto do “post”, ele nos resgata a fé no ser humano. Ainda bem que existem pessoas como ele!