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Crítica: Trupe Sinhá Zózima faz viagem poética para dentro da gente em ônibus pelo centro de SP

 

Trupe Sinhá Zózima: viagem poética dentro de um coletivo pelo centro de São Paulo – Foto: Danilo Dantas

Por Miguel Arcanjo Prado

Enquanto o fuzuê se faz nas filas dos coletivos do Terminal Parque Dom Pedro 2º, em pleno horário de pico no coração do centro paulistano, eis que, de repente, um grupo diminuto de passageiros é chamado a pegar suas malas antigas de couro e formar uma fila.

Público pega malas antigas de couro antes de embarcar n0 ônibus – Foto: Christiane Forcinito

Juntos, rumam para um ônibus velho que está parado na plataforma em frente. Ele será o veículo que vai transportar a todos a uma viagem poética para dentro de si e de suas mais tocantes lembranças no espetáculo Dentro É Lugar Longe, da Trupe Sinhá Zózima.

Rudnei Borges assina o texto, que foi criado a partir de reminiscências dos próprios atores sobre momentos de sua infância, em lembranças nas quais a vida recém-chegada se mistura com a inevitável aparição da morte. O texto é um dos mais bonitos apresentados neste ano pelo teatro paulistano. É poético, fluído e tocante.

Próximos do público, durante a viagem, ao rememorarem momentos tão tenros de seu passado, os atores levam todos a um mar de lembranças pessoais, sobretudo da infância, algumas já esquecidas pela crueza da vida adulta. Este é o maior mérito desta obra.

O elenco se esforça para ter uma unidade de registro cênico. Alessandra Della Santa, Maria Alencar, Tatiana Lustoza, Junior Docini e Priscila Reis realmente compõem um grupo. Contudo, os dois últimos se destacam. Junior, obviamente, por ser o único homem em cena e ainda tocar a sanfona. Mas também por ter uma leveza no olhar e na fala que traz o espectador sempre para junto dele. Priscila por sua vez também consegue demonstrar maior fluência do texto, que sai mais verdadeiro e menos técnico de sua boca. Mérito do trabalho da atriz.

Anderson Maurício conseguiu fazer uma direção que aproxima o público de cada história, fazendo com que os atores sejam cúmplices dos passageiros-espectadores. Estes são convidados a participar da obra, fornecendo novos elementos para a dramaturgia, sempre viva.

Balões coloridos levam poesia à praça Júlio Prestes, na região da cracolândia – Foto: Christiane Forcinito

Durante os 90 minutos da peça, o ônibus faz um percurso pelos principais pontos históricos do centro de São Paulo, em um diálogo verdadeiro com a cidade, no que ela tem de belo e de horror. Em uma das paradas, o público divisa pela janela do coletivo os atores brincando nas escadarias do Teatro Municipal. Em outra, uma das personagens corre eufórica pela praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro, ao encontro do pai morto. Há também momentos tensos, como quando o elenco convida o público a olhar pela janela e ver o amontoado de usuários de crack fazendo o uso da droga na região próxima à Estação Júlio Prestes.
 
E é lá que o ônibus chega à sua parada final. Os atores descem e andam de bicicleta pela praça, segurando balões coloridos. A imagem contrasta com alguns viciados que, já conhecedores deste momento da peça, se aproximam do público. E dialogam com a arte. Juntos do público, aplaudem no fim

Dentro É Lugar Longe
Avaliação: Bom
Quando: Quarta, 20h. 90 min. Última apresentação. Até 12/6/2013
Onde: Terminal Parque Dom Pedro 2º, Centro, São Paulo, tel. 0/xx/11 96292-0447
Quanto: Grátis (retirar senhas uma hora antes; a capacidade é para apenas 28 passageiros)
Classificação etária: Livre

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