Fui ao protesto em SP: sem polícia, não vi violência
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Eduardo Enomoto
Resolvi ir ao protesto em São Paulo nesta segunda (17). Como jornalista, queria ver com meus olhos o que está acontecendo em meu País.
Assim como milhares de brasileiros, tomei tal decisão ao assistir, ao vivo pela TV, a violência policial na última quinta (13) contra os manifestantes e a imprensa no centro paulistano.
Nesta segunda, enquanto o carro com a equipe do R7 descia a rua Cardeal Arcoverde rumo ao largo da Batata, local marcado para o começo do protesto, vi centenas de pessoas caminhando de forma pacífica ao local. Muitos seguravam flores ou a bandeira do Brasil nas mãos.
Veja fotos do protesto em SP: mais de 100 mil nas ruas
Assim que cheguei ao largo da Batata, pouco antes das 17h, uma multidão já ocupava o lugar. Gente de todas as caras, idades ou posições socioeconômicas. Havia muitos jovens, mas também senhores, senhoras e crianças. Mais de 100 mil pessoas.
Um momento tenso da concentração foi quando uma equipe da TV Globo chegou ao local e foi expulsa, com palavras de ordem que acusavam a emissora de fazer cobertura tendenciosa das manifestações. Outro momento complicado foi quando partidos políticos tentaram levantar bandeiras e foram obrigados a baixá-las pelas palavras de ordem do povo. Ali, não havia espaço para politicagem.
Os cartazes nas mãos davam o tom pacífico do objetivo daquela gente. Protestavam contra os 20 centavos de aumento no transporte público, mas também contra a PEC-37, o Estatuto do Nascituro, a homofobia, a corrupção, o investimento do dinheiro público em estádios para a Copa. Gritavam que um professor deveria valer mais do que um Neymar. Estavam ali celebrando seu direito democrático de exigir um Brasil melhor.
Nas janelas do entorno do largo da Batata e por toda avenida Faria Lima, moradores estenderam lençóis brancos na janela ou jogaram papéis picados em apoio à multidão. Muitos desceram dos apartamentos e escritórios e juntaram-se à manifestação.
Solidários, compartilhavam a água, comida, impressões e notícias. Logo, um avisou: “Invadiram o Congresso Nacional”.
A boa vontade dos paulistanos com o protesto era tanta que um morador permitiu que nosso fotógrafo subisse ao seu apartamento para fazer a imagem que abriu este texto. Outra moradora forneceu sua internet. Gente que queria dar sua contribuição.
Com palavras de ordem que pediam um Brasil melhor, a parte da passeata que acompanhei – porque ela foi se ramificando – passou por toda a avenida Faria Lima, virou na avenida JK e depois parou a marginal Pinheiros, desde a estação Vila Olímpia até a altura do shopping Eldorado. Lá, se dispersou.
Durante todo trajeto, a polícia, ao contrário da última quinta, se manteve distante, quase invisível. Mesmo sem nenhum policial por perto, aquelas pessoas que pediam paz não se mostraram propensas à baderna ou ao vandalismo. Muito pelo contrário, a qualquer sinal de maior exaltação, todos conclamavam a paz.
Vi muitos manifestantes fazendo fila ordeira em uma loja de conveniência de um posto de gasolina da avenida JK, para comprar água, doces e salgadinhos. Só queriam ter energia para continuar.
Durante o trajeto, não encontrei aquele “ódio contra a cidade”, com discursou Arnaldo Jabor na última quarta (12). Pelo contrário, havia cidadãos conscientes de seu direito de protestar sem violência por aquilo que não concordam e de tentar mudar o País.
Veja fotos do protesto em SP: mais de 100 mil nas ruas
Veja, abaixo, fotos de artistas do teatro no protesto em SP:
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1. Renata Calmon, além de boa atriz de Teatro, ainda mostra que é engajada e não uma dondoca alienada. Uma linda!
2. Pois é. Existem jornalistas e jornalistas. Como bom jornalista que é (e não mero reprodutor de textos no estilo “corta e cola”, às vezes até sem dar o crédito a quem merece), nosso querido Super Miguelito foi ao vivo checar o que estava acontecendo nas ruas de São Paulo.
3. À sua frase, só modificaria para “Como jornalista E CIDADÃO, queria ver com meus olhos o que está acontecendo em meu País”. Isso, sim, é que é ser jornalista! Aplausos pelo jornalismo consciente.