Crítica: Paulinho Faria dá nó na garganta do público com peça solo Um Homem com a Bala na Mão
Por Miguel Arcanjo Prado
O público chega, retira seus ingressos e logo é indicado pela diretora Elisa Fingermann a descer as escadas do Espaço Contraponto, em direção ao porão. Ela não vai acompanha-los. Chegando lá, um dos espectadores deve bater à porta.
Todos vão fazem fila e descem, em silêncio. Após a batida, eis que um homem com roupas de ficar em casa aparece. Convida todos a entrarem.
Ele conta que mora ali, sozinho, naquele espaço simples, mas aconchegante. Acomoda os visitantes esperados em cadeiras, sofás e até em sua cama. Antes que revele, aos poucos, o motivo daquela estranha reunião.
O personagem, criado e defendido por Paulinho Faria, está prestes a cometer uma decisão sem volta em sua vida. Mas, antes, precisa compartilhar aquele momento com aquelas pessoas. É bom anfitrião, oferece café, chá, bolo, água.
Boa parte do público, ainda sem costume com um tipo de teatro tão intimista, se refestela. Na sessão vista pelo R7, uma senhorinha comia feito glutona, além de tagarelar enquanto o ar não ficou irrespirável. Outra comeu tanto que se engasgou, tossiu, tossiu, saiu para tomar um ar, voltou, tossiu de novo, e resolveu se retirar definitivamente de cena, para não competir tanto com o ator. Alívio nos que ficaram. Mérito do ator que manteve a concentração e soube lidar com o incômodo imprevisto.
Tudo de volta ao eixo, aos poucos o público percebe o quanto aquele jovem de trinta e poucos anos é perturbado. Parece ser tímido, daqueles tipos comuns que ninguém dá muita importância. E o personagem demonstra saber desta rejeição silenciosa que o mundo lhe faz.
O Homem com a Bala na Mão é um trabalho tocante, intimista e que ressalta o talento de Paulinho Faria. Ele está em uma composição simples e forte. Faz uma convincente construção de um personagem maníaco depressivo com síndromes de TOC.
A direção de Elisa Fingermann, que contou com assistência de Luana Tanaka, leva o público para dentro da casa do personagem, o que ajuda a dar ainda mais verossimilhança a tudo que ocorre ali.
A cenografia de Marcelo Maffei é perfeita – não parece cenografia. Assim como o figurino de Viviane Mota também é preciso, uma roupa comum, banal como o homem que a veste.
À medida que o personagem vai dando pistas de seu passado, da morte de seu pai e, sobretudo, de que pretende acabar com a própria vida diante de todos, o clima de tensão se instaura. E paira no ar até o fim da montagem.
A vertigem domina a todos, sobretudo com o acender e apagar de luzes nos derradeiros momentos. Alguns espectadores parecem crer que alguém pode mesmo sair morto dali. Sufocam o desespero com as mãos.
Após o estampido final, não há aplauso. Todos saem com um nó na garganta.
O Homem com a Bala na Mão
Avaliação: Muito bom
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Se está com vontade de sair para comer, que vá a um restaurante “self service” ou a uma churrascaria a rodízio. Felizmente o povo ainda tem alguma noção do que é certo e sai para não estragar a tarde de quem quer assistir ao espetáculo. Atitudezinha feia!