Crítica: Pedro Neschling vive playboy racista em peça com conflito familiar e luta de classes
Por Átila Moreno, no Rio*
Especial para o Atores & Bastidores
A culpa é dos pais? A culpa é sempre dos pais? Duas perguntas que parecem simples e fácil de responder, mas não são.
Como Nossos Pais, peça encenada e dirigida por Pedro Neschling, tenta pelo menos dar um rumo na questão.
O jovem ator, filho da atriz Lucélia Santos e do maestro John Neschling, é conhecido por seus papéis na Globo, como na série Aline e na novela Da Cor do Pecado.
No teatro, mostra maturidade ao falar da relação entre pai e filho. Ele desenha um breve panorama de como as atitudes entre ambos ajudam a moldar a personalidade de cada um ao longo da vida.
Pedro Neschling interpreta Luiz Eduardo, um playboy arrogante e ambicioso, que trabalha nos negócios do pai, Ivan Kaufmann (ótimo Isio Ghelman), dono uma extensa rede de empresas.
A relação formal entre eles fica ainda mais complicada e tensa quando surgem o filho da empregada, Rômulo (Fabrício Santiago), e a garota que engata um romance com Luiz Eduardo, Cléo (Vitória Frate).
Rômulo, negro e criado com Luiz Eduardo na infância, mas que entrou para o mundo do tráfico, reaparece e começa a trabalhar como office-boy na empresa. Desperta ciúme e desconfiança do rico rapaz.
A história ganha mais ingredientes polêmicos, a gosto das tramas entrelaçadas de Nelson Rodrigues. É por aí que Pedro Neschling vai tecendo tão bem uma teia onde todos acabam sendo aprisionados por seus egos e superficialidades.
O cenário, criado por Flávio Graff, junto com a luz de Adriana Ortiz, recria esse gigantismo que os personagens aburguesados usurpam por naturalidade. Duzentos totens brancos representam os prédios da metrópole, mas que ficam pequenos diante do pai e do filho.
Pedro Neschling se sai melhor na dramaturgia e direção do que na atuação. Ele elaborou um texto afiado e comandou um elenco que traz sintonia. Vale a pena prestar atenção em Fabrício Santiago, ator formado pelo grupo Nós do Morro.
Por mais que seu personagem tenha estereótipos do negro morador da favela, (um traço que ainda, infelizmente, é realidade no nosso País), Fabrício Santiago emociona e é bastante seguro na interpretação.
Não poderia deixar de citar, que, no dia da estreia no Rio de Janeiro, havia uma particularidade. Pequena parte de plateia era constituída por negros. Pareciam ter ido ao teatro para prestigiar Santiago. Uma bela imagem. Porque, infelizmente, o número de negros que frenquentam o teatro carioca ainda parece menor do que a parcela real deste grupo na sociedade.
Como Nossos Pais reproduz o discurso de uma sociedade racista e opressora, em vez de contestá-lo. Por que não o ator negro no lugar do filho rico e o ator branco no lugar do office-boy? Seria bem mais questionador e interessante. Apesar disso, Pedro Neschling desfila inúmeros dilemas, inclusive traduzindo uma luta de classes contemporânea, mas que ainda cheira naftalina.
É como se ele tivesse trazido a dinâmica do senhor de engenho para metrópole, onde as relações ainda são construídas numa senzala de favores.
Não é à toa que as amantes dos protagonistas são apresentadas como invisíveis. Ambos tratam tudo como objeto, como uma engrenagem de uma indústria. Lógico que relação entre eles seguiria o mesmo caminho, um reproduzindo e sendo espelho do outro.
*Átila Moreno é jornalista e escreveu esta crítica a convite do blog.
Como Nossos Pais
Avaliação: Regular
Quando: Sexta a domingo, às 19h. Até 21/07/2013
Onde: Centro Cultural Justiça Federal (avenida Rio Branco, 241, Centro, Rio, tel. 0/11/21 3261-2565)
Quanto: R$30
Classificação etária: 14 anos
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