Crítica: Teatro Máquina faz Tchekhov melancólico e arrastado no FIT de São José do Rio Preto
Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial do R7 a São José do Rio Preto (SP)*
Um aristocrata afundado na melancolia de sua biblioteca, enquanto vê seu mundo desabar, é o tema da peça Ivanov, escrita por Anton Tchekhov e levada ao palco do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, o FIT Rio Preto 2013, pelo cearense Teatro Máquina.
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A obra tem direção de Fran Teixeira, que propõe uma encenação clean e melancólica. A falta de ar aparente é confrontada apenas pelo amor em demasiado que sentem por Ivanov suas duas mulheres: a esposa doente e a amante jovem e sonhadora.
No programa, o grupo diz que buscou “a não-representação para instigar o espectador”. Contudo, tal objetivo não fica tão claro. Mais do que instigado, o espectador acaba se afastando da história diante das longas pausas entre as palavras. As atuações soam pomposas e datadas. Típicas de um teatro aristocrático que já não existe mais.
Falta viço em grande parte das performances. Assim, a obra muitas vezes se torna sonolenta. Boa parte da plateia cochilou na sessão vista pelo R7 no Sesc Rio Preto.
O personagem título é defendido por Edivaldo Batista. Apesar de presente e dedicado, o ator já começa a obra com o tom exacerbado de melancolia que seria bem mais apropriado para sua finalização. Não há nuances enquanto a obra passa por este.
Ivanov casou-se com uma mulher judia, de olho em uma possível herança, como forma de salvar sua propriedade da falência na Rússia pré-comunismo. O que não acontece, pois a mesma foi deserdada pela família e está gravemente doente, tornando-se um fardo para o marido.
Enquanto a esposa fica sob cuidados do médico Lvov (um Levy Mota que destoa do conjunto), Ivanov mantém um caso com a jovem Sasha. A personagem, vivida por Aline Silva, é a que tem mais frescor em cena. A atriz consegue dar uma sacudida e acordada em tudo, mas o tom da obra é mesmo para baixo.
Completam o elenco Loreta Dialla, como Gavrila, e Márcio Medeiros, como Bórkin.
O destaque da montagem é o cenário de Frederico Teixeira, que precisou ser reconstruído às pressas em 24 horas em Rio Preto, porque o original se extraviou na viagem.
A cenografia é feita de gigantes portas que se abrem e fecham de forma poética, nunca estando no mesmo lugar. São alegorias da própria vida, cheia de possibilidades que, muitas vezes, podem não ser tão boas assim.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do FIT Rio Preto 2013.
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Tomara que o responsável pela ideia das portas seja premiado então! Quanto ao grupo, torço por seu sucesso. Será que eles não tiveram uma atuação pomposa justamente para dar um tom de época à peça? É uma possibilidade. Se for, acho então que eles acertaram.