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Crítica: Destaque do FIT Rio Preto 2013, chilena Galvarino é a melhor peça do ano em São Paulo

 

A melhor peça do FIT Rio Preto e do ano: Galvarino, do grupo chileno Teatro Kimen – Foto: Pierre Duarte

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial do R7 a São José do Rio Preto (SP)*

O silêncio muitas vezes pode ser a mais expressiva forma de dor. Ele permeia toda a encenação chilena Galvarino, principal destaque do FIT Rio Preto 2013 e que foi apresentada nesta semana, no Sesc Pompeia, na capital paulista. A melhor peça deste ano apresentada em São Paulo.

O espetáculo conta a história da família mapuche cujo filho, de nome Galvarino, desapareceu na Rússia, no começo dos anos 1990, vítima de uma gangue racista.

Numa cozinha, três personagens silenciosos vivem uma espera sem fim por notícias: o pai, a mãe e a filha/irmã. Seguem o cotidiano da vida em angústia.

Leia entrevista exclusiva com o elenco!

A diretora Paula González Seguel, que também faz o papel da filha e assina a dramaturgia com Marisol Veja Medina, é dona de sensibilidade que impressiona. Vai construindo aos poucos, e com muita delicadeza, aquele ambiente de dor.

E tudo está próximo a ela, já que Galvarino era seu tio. E seu avô, Luis Seguel, é quem interpreta seu pai no palco. A mãe é vivida pela senhora mapuche Elza Qunchaleo. Todos donos de verdade cênica absoluta.

É tudo feito de poesia tocante, exacerbada na cena do jantar familiar. Tem poesia da vida, que Paula González Seguel soube captar como poucos. Galvarino é um espetáculo sublime.

Os signos interioranos estão todos lá. A mesa posta com dignidade, o fogão sempre aceso. O lugar do pai, que trabalha duro, o espaço da mãe, que cozinha de forma ritual – a cena na qual ela prepara uma galinha recém-morta é hipnotizante. Enquanto isso, a angústia da filha, transcrita nas cartas insistentes que envia ao Ministério das Relações Exteriores do Chile, implorando notícias de seu irmão. E, enquanto elas não chegam, uma sufocante espera se instaura.

E a música permeia os silêncios de maneira fluída. Está presente logo na abertura, quando Paula canta, suave, uma canção no ambiente ainda escuro. Ou quando a mãe, olhando para a janela à espera do filho sumido, entoa uma cantiga mapuche que soa como uma oração de lamento.

O artesanal está ali o tempo todo, presente no cheiro da comida que inebria o ambiente. E está desde o locutor que apresenta, ao vivo, a peça à plateia, até a música final executada também ao vivo, reverberando,
amplificada, nos corpos dos espectadores ainda tocados pelo grande grito de Justiça final.

Paula González Seguel faz de Galvarino uma obra tocante, sincera, verdadeira e forte. Diante da morte, ela celebra a vida que segue digna. E exige respeito. Exige justiça. Porque a dor não dá para ser esquecida. Ainda mais quando ela é seguida de descaso. Não pode ser tão simples assim. A diretora expõe de forma tocante a riqueza da tradição de seu povo mapuche. Faz de Galvarino uma obra universal, genial.

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Galvarino
Avaliação: Ótimo

*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do FIT Rio Preto 2013.

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