Bailarinos ficam nus e se besuntam de carvão e óleo para sujar e chocar plateia na Bienal de Dança

 

O intérprete Andrez Ghizze, do espetáculo De Repente Fica Tudo Preto de Gente, do Piauí, que participa da oitava edição da Bienal Sesc de Dança em Santos – Foto: Jell Carone

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial do R7 a Santos (SP)*

O espectador desavisado que comprou ingresso para ver nesta quarta (11) a estreia do espetáculo De Repente Fica Tudo Preto de Gente, na Bienal Sesc de Dança, em Santos, foi  surpreendido.

Primeiro, logo antes de a obra começar, uma funcionária do Sesc avisou que todos ficariam de pé durante a uma hora de espetáculo. Muitas senhoras idosas na fila reclamaram. Mas, depois, entraram, resignadas, sem saber que estava por vir.

O cenário, um ringue rodeado por lâmpadas fluorescentes tubulares, estava preenchido por cinco bailarinos nus. Todos com o corpo totalmente besuntado em óleo e carvão. Nas pontas do ringue-cenário, outros dois integrantes do grupo Demolition Inc., do Piauí, também nus e devidamente besuntados, operavam a parte técnica sob direção de Marcelo Evelin.

O programa diz que “os intérpretes se camuflam em um ambiente escuro, que envolve performers e público” e que “a massa em movimento é sentida pelo espectador, muito da ação do grupo; os corpos dos bailarinos parecem fundir-se uns nos outros e, imersos na escuridão, é difícil enxergar a individualidade de cada um”.

Besuntados de carvão e óleo, intérpretes  do Demolition Inc. se esfregam e sujam quem ficar por perto – Foto: Jell Carone

Os dançarinos no centro do ringue cumpriam, no começo, um bailar que lembrava um ritual indígena. Depois, se esfregaram, se beijaram, simularam sexo grupal e espantaram as pessoas.

Os mais corajosos, a maioria, entrou para o ringue e tentou se afastar dos intérpretes quando eles chegavam perto, com medo de se sujar na gosma preta que envolvia o corpo dos artistas. Não adiantou muito. Já os mais precavidos ficaram do lado de fora do ringue e contentaram-se em olhar de longe.

No desenrolar da performance, os bailarinos faziam movimentos bruscos ou caíam para trás, como que em transe, sujando quem estivesse por perto. Muitas calças, sapatos e camisas ficaram maculadas de manchas pretas para todo o sempre.

“Não sabia que sujava as pessoas”, diz aposentada

A aposentada Sônia Maria, moradora de Santos e usuária do Sesc, foi ao espetáculo com a filha, o neto e um grupo de amigos. Cansada, ela chegou a se sentar no chão em alguns momentos. “Eu não sabia que tinha de ficar de pé nem que sujava as pessoas. O Sesc deveria avisar isso na hora em que a gente compra ingresso”, reclamou.

Depois, já ambientada, dona Sônia até deu sua leitura para a obra: “Eles estão parecendo usuários de crack”, decretou. “Acho que estão fazendo uma metáfora da sociedade que não quer se sujar com a Cracolândia”, concluiu.

O artista plástico Ildefonso Torres Filho, amigo de Sônia, também ficou incomodado com o fato de ter sido manchado por um dos bailarinos, porque ele, ao contrário dela, ficou dentro do ringue. “É incômodo, porque eu paguei ingresso e não estava preparado para me sujar. Mas festival é assim, né? É uma loteria!”, disse.

Davi Franco Pascoal, estudante de produção musical e neto de Sônia Maria, gostou do espetáculo, sobretudo da trilha sonora, sua especialidade. “Eu achei uma proposta interessante, diferente, por conta da interação com o público. Mas eu concordo que deveria avisar a plateia que ela pode se sujar”. Mesmo assim, confessou ao R7 que o seu espetáculo preferido na Bienal Sesc de Dança foi o belga O Que o Corpo Não Lembra, que abriu o evento.

A última sessão da obra piauiense De Repente Fica Tudo Preto de Gente acontece nesta quinta (12), às 20h, no Auditório do Sesc Santos. O ingresso custa R$ 20.

*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Bienal Sesc de Dança.

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3 Resultados

  1. Felipe disse:

    De novo essas peças que adoram “causar”… Que preguiça disso! Será que o povo acha que isso é tendência? Pois se eu fosse nessa tal apresentação (o que duvido muito, pois a proposta da peça faz uso específico de nudez e isso não me interessa, embora respeite quem aprecie e também respeite a proposta que a peça lançou), se alguém sujasse minha roupa, iria mandar a conta para o SESC de Santos, o produtor da peça ou quem quer que fosse o responsável por isso. Afinal, a pessoa vai a uma peça e sai com a roupa suja? O que é isso? E quem pagaria minha lavanderia? Iria reclamar, sim (muito, diga-se de passagem; na verdade, eu iria reclamar sem parar até que solucionassem meu problema), e iria procurar o responsável para pagar os custos da lavanderia, sim!

  1. 14/09/2013

    […] que resolveu fazer pronunciamento à plateia antes de o espetáculo começar. E também o piauiense De Repente Fica Tudo Preto de Gente, que chocou o público santista com a nudez explícita dos bailarinos, que se esfregavam e sujavam […]

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