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Entrevista de Quinta: “Tenho ligação de alegria com a vida”, diz Marieta Severo, que estreia Incêndios

Marieta Severo: aos 66 anos, uma menina sonhadora e sempre inquieta – Foto: Nana Moraes

Por Miguel Arcanjo Prado

Aos 66 anos, a atriz Marieta Severo é uma menina sonhadora. Artista sempre inquieta e curiosa, faz teatro, tem amigos, namora e é feliz.

Ela estreia nesta sexta (20), no Teatro Poeira, no Rio – parceria sua com a atriz Andrea Beltrão e o namorado Aderbal Freire-Filho –, a primeira montagem brasileira de Incêndios, peça consagrada mundialmente do premiado autor libanês Wajdi Mouawad [veja serviço ao fim da entrevista].

A obra, impactante, promete sacudir o teatro carioca do marasmo e, em 2014, aportará em São Paulo.

Às vésperas da estreia, Marieta conversou, com exclusividade, com o Atores & Bastidores do R7, nesta Entrevista de Quinta.

Falou de teatro, do amor, da família, da beleza da vida.

Leia com toda a calma do mundo:

Miguel Arcanjo Prado – Marieta, você sabia que uma montagem mexicana de Incêndios fez muito sucesso no Festival Mirada, no Sesc Santos, no ano passado? Acha que isso é indício de que sua montagem fará também sucesso?
Marieta Severo – Eu sei desse sucesso. E até vi uns pedaços da montagem mexicana na internet… Para mim, o maior indício é o que está acontecendo nas sessões abertas que já fizemos. Porque a gente sempre faz uns testes. O Aderbal já deixou o espetáculo pronto. Aí fizemos sessões corridas, como a gente chama, com uma escola judaica e outra com amigos e familiares. Já tem respostas tão calorosas!

Marieta Severo em Incêndios – Foto: Leo Aversa

O que as pessoas falaram?
Coisas do tipo: “Meu deus que peca é essa?!”. O Aderbal acertou em cheio. A gente já está comemorando e muito feliz.

Então vai ser sucesso?
Daí a ser sucesso de público é outra história, porque a gente não sabe nunca! Mas a gente já tem até página no Facebook; e já tem três textos sobre a peça, de convidados do elenco que escreveram coisas lindas e calorosas. É uma peça de muito impacto. A gente sabia que tinha uma peça genial na mão. É um material teatral de primeiríssima. Chegamos num lugar muito bonito. O Aderbal fez m espetáculo que serve magistralmente ao texto, colocando-o com força no palco.

Você pretende levar Incêndios para São Paulo?
Mas com certezíssima! [risos] Sem menor sombra de dúvidas! Vamos a São Paulo, pode escrever. Aqui no Rio, vamos até março do ano que vem. Porque só agora estamos saindo do túnel. E sabendo que realmente estamos com uma peça com possibilidade de sucesso. Vamos ver o que acontece, mas iremos a São Paulo no ano que vem, sim. Assim que tiver tudo certinho eu te conto.

A peça foi adaptada para o cinema. Quem viu o filme pode ver também?
Mesmo quem viu o filme e quem conhece  – e por isso não entra no suspense – fica tão impactado com a força teatral que a pessoa fala: “eu já sabia, mas fiquei impactado e emocionado”. O teatro é ao vivo. É um excelente filme, mas o teatro tem uma força incrível. E o autor acredita nisso. Ele passeia no tempo e no espaço com uma força absoluta. Com poucos elementos ele te transporta para o Oriente Médio, o Canadá, avança 40 anos… A narrativa não é linear, mas é muito clara.

Incêndios é uma peça de forte carga dramática. O processo de pesquisa e ensaio foi difícil?
Olha, Miguel, eu acho sempre muito difícil você convencer o outro de que você é uma outra pessoa. Nosso ofício é muito difícil, eu não acho fácil. Mas quando você tem uma tragédia moderna de qualidade, um texto que vai ficar na historia do teatro contemporâneo, a sua responsabilidade é enorme. É claro que o processo é pesquisar tudo, se entupir de informações e elementos para entrar na personagem, é um processo sempre! Tivemos quase quatro meses de ensaio. Permitimos-nos entrar nesse universo com muito cuidado, com tempo, seis horas por dia, uma folga só por semana, por três meses e meio.

Como é ser dirigida pelo Aderbal, que é também seu namorado na vida pessoal? Vocês falam de teatro o tempo todo? Ou separam o trabalho do amor?
Olha, eu falo sempre que eu gosto muito do tempo nas relações e isso estar a favor no trabalho é melhor ainda. Eu gosto de trabalhar com o Aderbal, a Andrea, fiz quatro peças com o Naum Alves de Sousa, trabalhei muito com o Pepê [Pedro Paulo Rangel]. Sempre queríamos nos valer do fato de sermos amigos. Isso alimenta o teatro. Você trabalhar com uma pessoa que te conhece muito, que conhece seus defeitos, é muito bom. É vantagem. Mas tem de ter sabedoria de separar quando precisa, na vida pessoal. Não levar [o trabalho para a relação] é impossível, mas é importante tentar que não seja o único assunto, uma obsessão, porque se bobear vira [risos].

Como surgiu esta montagem de Incêndios?
O mérito maior da existência dessa peça é do Felipe De Carolis, que é o ator que faz meu filho, porque a peça é levada pela minha personagem e os dois filhos. Começa com o testamento dela deixando a missão para eles resgatarem o passado. A frase “há verdades que não podem ser reveladas, precisam ser descobertas” é que norteia a peça… Bom, o Felipe é danadinho. Ele viu o filme e descobriu que era adaptação de uma peça. E foi atrás dos direitos. Ele tinha de provar que tinha condição de fazer, porque a peça ainda nunca tinha sido montada abaixo do Equador. Quando foi montado no México e na Argentina, a gente já estava com os direitos

E como ele fez?
Quando ele pediu os direitos, colocou o meu nome e nome do Aderbal no projeto sem falar com a gente [risos]. Quando conseguiu foi que ele veio falar. Em dois dias eu respondi: vamos lá! E embarcamos no projeto. Demoramos um ano, o que é relativamente rápido quando se trata de levantar uma peça de teatro com oito atores e 15 pessoas na equipe.

Consagrada mundialmente, montagem da peça Incêndios estreia nesta sexta (20) no Teatro Poeira, no Rio, com Marieta Severo como protagonista; obra promete causar impacto na cena carioca – Foto: Leo Aversa

Vocês têm apoio de algum edital ou lei?
Temos da Lei Rouanet, porque é impossível fazer teatro sem algum edital. Ainda mais no Poeira, que já é pequeno e, com nosso cenário – que é belíssimo e feito pelo Fernando Mello – ficou menor ainda. A gente não mantém a peça com bilheteria.

Você acha que o público brasileiro vai se identificar com esta obra?
Acho. Hoje em dia, são poucas peças que contam uma grande historia com oito atores em cena. O que impera, pelo menos aqui no Rio, são as comédias com poucos personagens, os stand-ups, os monólogos e os musicais. A gente está fora do padrão, pelo menos no teatro carioca. É uma grande historia bem contada. É teatro. E é muito emocionante e impactante. A peça fala de um ambiente de guerra civil. Eu pesquisei o oriente médio, mas eu penso no nosso país. O autor não dá nomes aos bois, ele até tentou, mas ficou em um incômodo incrível. É tudo abrangente. É universal. A gente aqui vive uma guerra civil velada. Temos nossos mortos civis e desaparecidos em uma quantidade espantosa. Agora temos um nome para nossos mortos e desaparecidos que é o Amarildo. Temos massacres, quero falar para a minha plateia.

Essa obra vem depois do sucesso de As Centenárias.
Sim! Estreamos em 2007 e ficamos em cartaz até 2010, fizemos Rio duas vezes, São Paulo, viajamos as capitais do Brasil. Paramos por falta de fôlego! [risos]

De onde veio o elenco de Incêndios?
São grandes atores de teatro. Somos oito contando comigo [Felipe de Carolis, Keli Freitas, Marcio Vito, Kelzy Ecard, Fabianna de Mello e Souza, Julio Machado e Isaac Bernat], todos têm uma dedicação exemplar ao teatro. Gostam de ensaiar seis horas por dia, três meses e meio, vendo o sentido de cada coisa. Todos são do Rio. Ou melhor, temos um de São Paulo, o Julio Machado.

Marieta, o Poeira, seu teatro com a Andrea Beltrão, já tem oito anos. Qual é o maior legado dele?
Eu acho que já é uma referência de qualidade teatral. Tem muita gente que fala isso. Eu vou ao Poeira, porque sei que o que está lá é bom. O índice de acerto é alto. E temos uma programação mantida pela Petrobras de residência artística que também é um sucesso.

Você no começo de sua carreira sempre estava em São Paulo. Com o tempo e a presença forte na TV, ficou cada vez mais no Rio. Qual a sua relação hoje com o teatro paulistano?
Eu gosto muito de ir para são Paulo. Gosto da vida cultural paulista. Parece que estou indo para Nova York. Tudo que São Paulo tem para oferecer culturalmente eu amo. Há um tempo não tenho ido, estou trabalhando tanto que não dá. Mas eu sempre procurei acompanhar e saber o que está acontecendo. A segunda peça do Poeira foi o Agreste, do Newton Moreno. Aí começou nossa ligação com ele. Eu tinha visto em São Paulo e falei para a Andrea e o Aderbal, vamos trazer essa peça depois que acabar o Sonata, nossa primeira peça no Poeira. Depois disso, somos muito procurados por setores do teatro paulista.

O que ficou de mais bonito da sua amizade com a Leila Diniz?
A coisa mais linda que ficou foi o Heitor, é meu neto-afilhado. É uma amizade que ficou a vida inteira. Ficou a Janaina [filha de Leila Diniz criada por Marieta Severo após a morte da atriz, em 1972, em um desastre aéreo, aos 27 anos] que é minha filha, que faz parte da minha família, é comadre de duas filhas minhas. Janaína é minha filha. Agora, tem o Heitor. Então, eu digo que aquela amizade linda da minha juventude continua viva. A minha amizade com a Leila vai durar a vida inteira!

Você formou uma família linda e demonstra ser uma mulher bem-resolvida. Afinal, você também se reinventou no plano pessoal, terminando um casamento para buscar sua felicidade. Resignação não faz parte do seu mundo? Você sempre será uma menina sonhadora?
Adorei a menina sonhadora! Eu sou uma senhora inquieta. Muito inquieta. Eu sempre fui inquieta. Eu estou sempre buscando mais, querendo coisas. E isso é a melhor coisa do mundo. Isso me alimenta muito. Isso me de essa energia que eu tenho aos 66. Eu sou curiosa. Tenho uma ligação de alegria com vida!

Espetáculo Incêndios, no Teatro Poeira, mostra drama de uma família em meio à guerra – Foto: Leo Aversa

Incêndios
Quando: Quintas, sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 19h. 120 min. Até 22/12/2013
Onde: Teatro Poeira (r. São João Batista, 104, Botafogo, Rio, tel. 0/xx/21 2537-8053)
Quanto: R$ 70 (qui) e R$ 90 (sex a dom)
Classificação etária: 14 anos

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