Entrevista de Quinta: Aline Negra Silva, a atriz e diretora da gargalhada cutucada com vara curta
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Eduardo Enomoto
A artista Aline Negra Silva é linda. É forte. Gosta de sorrir.
Metida no teatro paulistano há dois anos, quando não está estudando ou ensaiando algo, sempre é vista nas plateias da metrópole, às quais empresta beleza e graça.
É atriz formada em artes cênicas pela Faculdade de Artes da Universidade do Estado do Paraná. E recomeça na capital paulista, onde já integrou o elenco do espetáculo A Viagem de Alice, da Cia. Os Alices, com direção de Talita Rosa, em 2012.
Como não para quieta, enquanto conclui no fim deste semestre o curso de direção teatral na SP Escola de Teatro, Aline, ao lado de colegas de curso, também integra um novo projeto cênico em parceria com o Teatro de Narradores.
Ela conversou com o Atores & Bastidores do R7 nesta Entrevista de Quinta. Falou sobre sua vida, sua arte, seu riso.
Leia com toda a calma do mundo:
Miguel Arcanjo Prado – Você que colocou o Negra entre Aline e Silva? Por quê?
Aline Negra Silva – Inicialmente pra provocar alguns que adoravam estender suas ofensas em nomes pejorativos, criei um nome fictício (artístico) pra mim: Negra Silva. Mas muitas pessoas se sentiam desconfortáveis em dizer meu nome assim… Achavam uma afronta, ou mesmo uma provocação chula e sem fundamentos. No decorrer, entendendo que essa palavra era sim um nome, adotei como o meu nome, retirando o nome do meio que é Cristina. Nome de uma nação, nome de muita gente anônima que viveu e vive, ainda, certas repressões e opressões por causa da melanina.
Por que você é atriz?
Difícil pergunta com uma gama de resposta…[risos] Bem, uma das possíveis respostas foi a “preguiça”. É porque lá no passado, ainda criança, eu fazia dezenas de atividades artísticas e de esportes como atletismos, ginástica rítmica, canto, dança e teatro. Caminhando pra adolescência deparei-me que fazia coisas demais e pensei? qual a profissão que poderia me dar todas estas coisas (condicionamento físico, canto, dança e teatro) em uma profissão só? [pensativa] Mas não tive a resposta imediatamente. Foi depois, bem depois, que me convidaram pra fazer teatro no Núcleo de Artes Cênicas do Sesi Rio Claro que entendi a dimensão disso e nunca mais saí…
Por que você é diretora?
Bem, acho que arte, ou melhor, fazer arte, é muito subjetivo para se concretizar em definições, como por exemplo por que ser diretora. Acho que é uma necessidade. Como ter que tomar banho ou escovar os dentes… Comer e dormir… É vida, entende? Parece que respiro e inspiro… Mas bem, sem muita poesia, a escolha por ser diretora são algumas referencias de encenadores e atores que tenho como, por exemplo, Grotowski, Tadeuz Kantor, Denise Stocklos, Enrique Diaz, todos estes grandes encenadores, artistas e atores de si e da vida… Eles me mostraram, dentre tantos outros, que é possível ir além de suas próprias perspectivas. De que se voe tem algo por expressar expresse, mesmo que você seja diretora de si, atriz de si…
Qual o lugar do teatro na sua vida?
Ele não tem “lugar”, porque ele é minha vida e minha vida é teatro. Porque não acredito que se possa passar o dia todo no escritório e a noite “fazer teatro”, separando completamente das funções orgânicas da vida… Pelo menos pra mim não dá… Não dá! [risos]
O que te faz feliz?
Fazer o outro feliz.
E o que lhe deixa triste?
Quando não podemos expressar-se verdadeiramente, por medo, opressão, repressão, ódio… Por falta de dinheiro!
O que você sonha fazer no futuro?
Não penso muito longe, mas se existir algum futuro pra mim espero estar mergulhada em meus projetos com diversas artes integradas, uma casinha em volta de um jardim, três cachorros e muitos amigos em volta com a família.
O que é glamour pra você?
Palavra fina, elegante e ostentosa. Que traz, se for pelo viés do olhar da mulher, um poder soberano e destruidor de corações!
Quem você admira muito?
Minha mãe e minha avó. Porque elas me deram tudo que o mundo material não pode me dar. São exemplos de mulheres na sociedade que desde muito novinhas trabalham como doméstica ou metalúrgica e enfrentam as batalhas do cotidiano sem nunca hesitar ou esmorecer.
Onde você nasceu?
Rio Claro, interior de São Paulo. Fui criada lá, numa casinha de, inicialmente, dois cômodos.
Você mora em SP há quanto tempo?
Moro há quase dois anos, agora na Vila Mariana.
Quem são seus pais? Qual sua origem?
Sou Filha de Neuza Aparecida Moreira, a Dona Neuza, com z. Meu pai se divorciou dela quando eu tinha uma semana de vida, então, não sei falar muito bem dele. Minha origem é de africanos, índios e bugris espalhados pelo interior do Brasil.
O que você ouve quando está sozinha?
De música? [risos] Bom, depende muito do meu estado de espírito. Como estou quase sempre de bom humor e saudosa me encarrego de levantar o som no último com Michael Jackson, Cindy Lauper, Pop e Rock anos 80, Backstreet Boys entre outras cafonagens pra rir e dançar. Mas se baixa alguma melancolia apelo pro reggae, blues, MPB para relaxar…Vai depender muito do dia.
Qual foi o último espetáculo que mexeu com você?
A Primeira Vista, de Enrique Diaz, porque eu simplesmente não conseguia me mexer e ao mesmo tempo me remexia, só que por dentro. Este espetáculo era tão simples, mas ao mesmo tempo profundo. O trabalhão das atrizes [Drica Moraes e Mariana Lima], da direção musical foram impecáveis….e o olhar generosos do encenador foi de matar! Foi um grande evento que assisti mais de uma vez porque, mesmo agora sem palavras concretas, me fez encher os olhos e o coração!
Qual é a cara do seu teatro?
A cara da gargalhada cutucada com vara curta.
Curta nossa página no Facebook!
Leia também:
Fique por dentro do que rola no mundo teatral
Outra atriz negra que eu acho linda é a Grace Passô (acho que esse é o nome dela). E Taís Araújo, que mulher belíssima! Acho Taís até mais bonita do que Beyoncé e a Jada Pinkett-Smith.
Também gosto da Cyndi Lauper e até tenho o CD SHE´S SO UNUSUAL dela. Já quanto ao Backstreet Boys, não apreciava pois nunca me atraiu o formato das “boys bands”. E Michael Jackson, apesar de ser ícone, não construí memória afetiva com o trabalho dele, daí porque reconheço sua genialidade artística porém, para mim, ele me foi indiferente. Só discordo da Aline quanto a dizer que esses artistas são cafonas. Algumas produções dos anos 80 o são hoje (pois na época eram “febre”), mas nem todas. Aliás, atualmente há uma espécie de “revival” da cultura dos anos 80. Vários artistas atuais usam elementos/influências dessa época em seus trabalhos.