Por Miguel Arcanjo Prado
Após o abrupto fechamento da Escola Livre de Teatro (ELT) de Santo André, na última sexta (27), a Prefeitura de Santo André enviou nota ao R7 nesta terça (1°), para se manifestar sobre a atual situação da instituição que tem 23 anos de história de excelência no ensino teatral e é referência em todo o País.
O pronunciamento oficial da Prefeitura acontece após manifestação de mestres e aprendizes da instituição neste domingo (29), em frente ao Paço Municipal, que terminou com artistas agredidos por seguranças.
A nota enviada pela equipe do prefeito Carlos Grana (PT) informa que o político fará reunião nesta quarta (2), às 16h, com representantes da Escola Livre de Teatro, da Cooperativa Paulista de Teatro e de membros de seu governo, como o secretário municipal de Cultura, Raimundo Salles.
Ainda na nota, “a Prefeitura de Santo André reafirma o compromisso de manter a estrutura pedagógica e o projeto artístico Escola Livre de Teatro”.
Segundo o documento, a Prefeitura de Santo André afirma que sua política é “fortalecer o diálogo com a sociedade civil, artistas e produtores culturais” e que “nunca foi determinado o término desse projeto” [o da Escola Livre de Teatro], “que será mantido”.
Na versão da Prefeitura de Santo André, o fechamento sem aviso prévio da escola na última sexta (27) aconteceu “para uma visita técnica” e só na parte matutina.
A Prefeitura de Santo André garante que a ELT está aberta e funcionando normalmente nesta terça-feira (1°). O governo ainda reconhece o “péssimo estado” das instalações da ELT e joga a culpa na administração anterior. A Prefeitura ainda comentou o atraso nos salários da equipe da ELT, dizendo que herdou divida de R$ 115 milhões da gestão anterior.
Fechamento da ELT teve repercussão nacional
Nesta terça-feira (1°), a Secretaria Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou nota de apoio à Escola Livre de Teatro.
O documento foi assinado por Edmilson Souza, secretário nacional de Cultura do PT, e por Tadeu de Souza, secretária estadual de Cultura do PT-SP.
– A Secretaria Nacional de Cultura do PT, bem como a Secretaria Estadual de Cultura do PT-SP manifestam seu total apoio à ELT, projeto de grande importância para todos os artistas e produtores culturais […] Apoiamos sua permanência e seu constante aperfeiçoamento, para que seja respeitado e valorizado esse enorme patrimônio cultural de todos nós.
O fechamento da Escola Livre de Teatro também repercutiu na classe artística. O presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, Rudifran Pompeu, divulgou carta aberta ao prefeito de Santo André, Carlos Grana. Nela, afirma que “querem acabar com a ELT porque ela é uma escola singular nas artes cênicas e que não tem objetivo de formar celebridades”.
O ator Celso Frateschi, que dirige o Teatro da USP, o Tusp, e também atua na minissérie José do Egito (Record), na qual interprete Jacó, também demonstrou sua indignação.
“É inacreditável o que está acontecendo com a ELT”, declarou o ator, que sempre foi ligado ao PT. Ainda de acordo com Frateschi, a “ELT é hoje referência nacional em ensino de teatro”.
— Todos sabem que sou petista, mas não consigo mais não expressar meu espanto e desacordo com atos como esse absurdo que estão fazendo em Santo André com a Escola Livre de Teatro.
Tiche Vianna, do Barracão Teatro de Campinas e vice-presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, também se manifestou em carta aberta. “Peço que esta Secretaria de Cultura, com total respaldo da Prefeitura, reveja sua atitude e reinstaure a dignidade do ensino da arte teatral, assegurando, definitivamente, a permanência do projeto pedagógico da Escola Livre de Teatro em Santo André”.
Kil Abreu, crítico e curador de teatro do Centro Cultural São Paulo, e que trabalhou por quase dez anos na ELT de Santo André, também lamenta tudo o que se passa.
– A ELT é uma referência nacional e internacional em pedagogia teatral em bases autônomas. A escola vem sofrendo sucateamento há um tempo. A Escola não é um negócio de ocasião, moeda de troca nos planos de governabilidade. Tem uma história de mais de 20 anos de contribuição com a cultura brasileira.
Entenda como a escola foi fechada na sexta (27)
Desde o começo do ano, quando assumiu o prefeito Carlos Grana (PT), um novo coordenador administrativo foi indicado para a ELT, Ivan Augusto.
Desde então, o clima na escola é de guerra fria. O R7 apurou que Ivan substituiu boa parte dos funcionários e, com o tempo, o diálogo com a comunidade da escola ficou complicado, gerando um cenário no qual não há conversa entre as partes administrativa e pedagógica.
O coordenador pedagógico da ELT, Luiz Fernando Marques Lubi, diz ao R7 que “está em andamento um plano de desmanche da escola lento e gradual”.
– Desde maio o coordenador administrativo não conversa conosco. A gente tentou diálogo direto com o prefeito, em seu gabinete, já que ele prometeu em campanha manter a Escola Livre de Teatro. Ele sempre diz que nos dá apoio, mas não há ação efetiva.
A reportagem do R7 apurou que a confusão que culminou com o fechamento da escola começou na última quinta (26). Alunos resolveram retomar o espaço de convivência estudantil que havia sido fechado pela administração da escola.
Nervosa com o ocorrido, uma funcionária ligada a Ivan Augusto resolveu trancar a escola na sexta (27), ainda com os pertences de alunos e professores lá dentro, e chamou a guarda municipal para os estudantes. O impasse gerou a manifestação deste domingo (29) no Paço Municipal de Santo André. O R7 procurou Ivan Augusto, tentando ouvir o que ele tem a dizer sobre o que ocorreu na ELT, mas ele não se manifestou.
Curta nossa página no Facebook!
Leia também:
Fique por dentro do que rola no mundo teatral