Destino da Escola Livre de Teatro será definido em reunião entre Prefeitura de Santo André e artistas
Por Miguel Arcanjo Prado
Promete ser tensa a reunião marcada para as 16h desta quarta (2) entre o prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT), e representantes da Escola Livre de Teatro (ELT). O encontro definirá o destino da instituição de ensino teatral com 23 anos de história que a tornou referência em todo País.
Nesta terça (1°), a Prefeitura de Santo André divulgou nota afirmando que manterá a ELT aberta. O posicionamento ocorre após o fechamento abrupto da instituição de ensino teatral na última sexta (27) e um protesto de artistas no domingo (29) que acabou em confusão.
O intitulado Movimento ELT Livre divulgou carta-resposta ao prefeito Carlos Grana.
Nela, afirma que “manter o projeto Escola Livre pressupõe não apenas a afirmação de um acordo, mais do que isso, pressupõe a autonomia de práticas e decisões pedagógicas sistemáticas e diárias, tais como o uso e a intervenção no espaço físico, incapaz de ser realizada sem um diálogo profícuo com a Secretaria de Cultura e com os funcionários da Escola, o oposto do que vem acontecendo com os nossos interlocutores atuais”.
A carta-resposta ainda pede licitação para 2014, que possibilite a permanência dos atuais mestres por meio da Cooperativa Paulista de Teatro, e também “a manutenção de um corpo de funcionários engajado e colaborativo”.
O documento ainda acusa a atual administração da ELT nomeada pela Prefeitura de Santo André de fazer “ações de sabotagem e sucateamento”. E diz que a nota da Prefeitura entra em contradição, já que diz o governo afirmou que a ELT funciona normalmente ao mesmo tempo em que divulgou que o Teatro Conchita de Morais, sede da escola, está interditado, “contradizendo sua fala anterior de que a escola ainda estava aberta”.
Os membros da ELT ainda afirmam que houve cinco atrasos de pagamentos de salários dos funcionários neste ano. “O atraso do mês de maio, um, dentre os cinco que ocorreram no ano, aconteceu não por falta de verba, mas porque o gerente de formação cultural, Ivan Augusto, estabeleceu repentinamente que o pagamento daquele mês só ocorreria com a entrega do planejamento pedagógico de cada professor, aula a aula”. A carta-resposta ainda afirma acusa o prefeito Carlos Grana de só receber os membros da ELT nesta quarta (2) por conta da grande repercussão nacional que teve seu fechamento.
Nesta terça (1°), a Prefeitura de Santo André se manifestou sobre a atual situação da ELT. Na nota, “a Prefeitura de Santo André reafirma o compromisso de manter a estrutura pedagógica e o projeto artístico Escola Livre de Teatro”. Segundo o documento, a Prefeitura de Santo André afirma que sua política é “fortalecer o diálogo com a sociedade civil, artistas e produtores culturais” e que “nunca foi determinado o término desse projeto” [o da Escola Livre de Teatro], “que será mantido”. Na versão da Prefeitura de Santo André, o fechamento sem aviso prévio da escola na última sexta (27) aconteceu “para uma visita técnica” e só na parte matutina.
Além de afirmar que a escola segue aberta, a Prefeitura de Santo André reconheceu o “péssimo estado” das instalações da ELT e jogou a culpa na administração anterior. A Prefeitura ainda comentou o atraso nos salários da equipe da ELT, dizendo que herdou divida de R$ 115 milhões da gestão anterior.
Fechamento da ELT teve repercussão nacional
Nesta terça-feira (1°), a Secretaria Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou nota de apoio à Escola Livre de Teatro.
O documento foi assinado por Edmilson Souza, secretário nacional de Cultura do PT, e por Tadeu de Souza, secretária estadual de Cultura do PT-SP.
– A Secretaria Nacional de Cultura do PT, bem como a Secretaria Estadual de Cultura do PT-SP manifestam seu total apoio à ELT, projeto de grande importância para todos os artistas e produtores culturais […] Apoiamos sua permanência e seu constante aperfeiçoamento, para que seja respeitado e valorizado esse enorme patrimônio cultural de todos nós.
O fechamento da Escola Livre de Teatro também repercutiu na classe artística. O presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, Rudifran Pompeu, divulgou carta aberta ao prefeito de Santo André, Carlos Grana. Nela, afirma que “querem acabar com a ELT porque ela é uma escola singular nas artes cênicas e que não tem objetivo de formar celebridades”.
O ator Celso Frateschi, que dirige o Teatro da USP, o Tusp, e também atua na minissérie José do Egito (Record), na qual interprete Jacó, também demonstrou sua indignação.
“É inacreditável o que está acontecendo com a ELT”, declarou o ator, que sempre foi ligado ao PT. Ainda de acordo com Frateschi, a “ELT é hoje referência nacional em ensino de teatro”.
— Todos sabem que sou petista, mas não consigo mais não expressar meu espanto e desacordo com atos como esse absurdo que estão fazendo em Santo André com a Escola Livre de Teatro.
Tiche Vianna, do Barracão Teatro de Campinas e vice-presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, também se manifestou em carta aberta. “Peço que esta Secretaria de Cultura, com total respaldo da Prefeitura, reveja sua atitude e reinstaure a dignidade do ensino da arte teatral, assegurando, definitivamente, a permanência do projeto pedagógico da Escola Livre de Teatro em Santo André”.
Kil Abreu, crítico e curador de teatro do Centro Cultural São Paulo, e que trabalhou por quase dez anos na ELT de Santo André, também lamenta tudo o que se passa.
– A ELT é uma referência nacional e internacional em pedagogia teatral em bases autônomas. A escola vem sofrendo sucateamento há um tempo. A Escola não é um negócio de ocasião, moeda de troca nos planos de governabilidade. Tem uma história de mais de 20 anos de contribuição com a cultura brasileira.
Entenda como a escola foi fechada na sexta (27)
Desde o começo do ano, quando assumiu o prefeito Carlos Grana (PT), um novo coordenador administrativo foi indicado para a ELT, Ivan Augusto.
Desde então, o clima na escola é de guerra fria. O R7 apurou que Ivan substituiu boa parte dos funcionários e, com o tempo, o diálogo com a comunidade da escola ficou complicado, gerando um cenário no qual não há conversa entre as partes administrativa e pedagógica.
O coordenador pedagógico da ELT, Luiz Fernando Marques Lubi, diz ao R7 que “está em andamento um plano de desmanche da escola lento e gradual”.
– Desde maio o coordenador administrativo não conversa conosco. A gente tentou diálogo direto com o prefeito, em seu gabinete, já que ele prometeu em campanha manter a Escola Livre de Teatro. Ele sempre diz que nos dá apoio, mas não há ação efetiva.
A reportagem do R7 apurou que a confusão que culminou com o fechamento da escola começou na última quinta (26). Alunos resolveram retomar o espaço de convivência estudantil que havia sido fechado pela administração da escola.
Nervosa com o ocorrido, uma funcionária ligada a Ivan Augusto resolveu trancar a escola na sexta (27), ainda com os pertences de alunos e professores lá dentro, e chamou a guarda municipal para os estudantes. O impasse gerou a manifestação deste domingo (29) no Paço Municipal de Santo André. O R7 procurou Ivan Augusto, tentando ouvir o que ele tem a dizer sobre o que ocorreu na ELT, mas ele não se manifestou.
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E boa sorte para a ELT!
Reli a matéria com mais cuidado e, ao final, achei que tudo ficou muito confuso. O mais correto é realmente marcar uma reunião com todos os envolvidos e pôr absolutamente tudo em “pratos limpos”. É preciso ouvir todas as partes para as versões sejam confrontadas, pois aí surgirá realmente a verdade.