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Entrevista de Quinta: Após pornô, Mateus Carrieri dá volta por cima e estrela peça de Antunes Filho

Mateus Carrieri é uma das estrelas da peça Nossa Cidade, de Antunes Filho – Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

O ator paulistano Mateus Carrieri acaba de se reinventar. E conta com ajuda do destino e de um homem chamado Antunes Filho.

Lembrado pelo grande público por ter posado nu quatro vezes e feito filmes pornôs, Carrieri foi chamado por um dos maiores diretores do teatro brasileiro para atuar em sua nova peça, Nossa Cidade, de Thornton Wilder, que tem pré-estreia para convidados nesta sexta (4) e para o público no sábado (5), no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, em São Paulo.

Após seis anos fazendo a comédia O Amante do Meu Marido, vista por 400 mil pessoas, ele agora viverá um sisudo pai de família norte-americano.

Aos 46 anos, com 20 novelas e 22 peças no currículo , Mateus Carrieri agarra essa chance com unhas e dentes.

Ele conversou com o Atores & Bastidores do R7 nesta Entrevista de Quinta sobre este momento em sua vida e carreira e que é, também, um reencontro com seu próprio passado.

Leia com toda a calma do mundo:

Miguel Arcanjo Prado – Mateus, você considera isso uma volta por cima para um ator que já fez pornô e sempre é lembrado por isso?
Mateus Carrieri – Obrigado. É um trabalho de qualidade que eu reconheço que faz tempo que eu não faço. E ainda mais com um cara como o Antunes. Eu estava buscando um trabalho assim há muito tempo. Eu nem sonhava trabalhar com o Antunes, mas quando veio esta oportunidade, achei que era isso que eu tinha de agarrar!

Mateus Carrieri: “Trabalhar com Antunes Filho é um aprendizado” – Divulgação

Trabalhar com o Antunes é um prestígio?
Fora o prestígio que tem, trabalhar com ele é um aprendizado. Estou há quatro meses lá no CPT [Centro de Pesquisa Teatral do Sesc Consolação] e tive um ganho não só profissional como também espiritual lá. As pessoas falavam e eu não acreditava muito. Foi emocionante!

O Antunes me falou que quase trabalhou com você em Ricardo III há quase 40 anos. Que história é essa?
Quando eu tinha oito anos de idade, eu iria fazer esta peça com ele. Eu fiz todo o período de ensaio de Ricardo III, com o Juca de Oliveira, em 1975. Só que pouco antes da estreia, a produção avisou que iria viajar primeiro, antes de fazer São Paulo. Se eu fosse, eu perderia três meses de escola. Aí, minha mãe resolveu me tirar da peça porque não queria que eu perdesse o ano. Então, eu tenho lembranças de infância do Antunes, da gente ensaiando no Teatro Maria Della Costa. Depois, eu nunca mais o vi. E agora, 40 anos depois, temos esse reencontro.

Coisa do destino… E me conta: como você foi parar no elenco de Nossa Cidade?
Estava fazendo [a comédia] O Amante do Meu Marido há seis anos. E a Lara Córdula, que é irmã do Raul Teixeira, que faz a trilha de Nossa Cidade, me falou que o Antunes estava precisando de um ator que tivesse a minha idade. Ai, eu liguei lá no CPT, e ele pediu para eu fazer o teste. Falei duas falas e ele perguntou: “Você pode vir todo dia, de segunda a sábado, de meio-dia às seis?”. Eu topei na hora, mudei toda a minha vida, mas valeu a pena, foram quatro meses maravilhosos!… Sabe o que me passa na cabeça? Como teria sido minha carreira se aos oito anos eu tivesse feito Ricardo III com o Antunes… É uma loucura, né?

A vida é louca, meu caro. Você acha que esta peça vai colocar você de outra forma no mercado?
Estou abastecendo a mídia com outro assunto [risos]. Sim, eu tenho essa esperança. Eu tenho 38 anos de carreira! É cruel só falarem do pornô. Eu fiz muita coisa legal: 20 novelas, 22 peças de teatro, e as pessoas só falam de filme que eu fiz sete anos atrás. É um assunto antigo. É meio latente… Mas, desde então, nunca fiz um trabalho que, não digo apagar o passado, mas que pudesse ser mais forte que os filmes. Este é o primeiro trabalho assim! E também estou mais velho, com 46 anos, é uma outra fase na minha vida. Por ter aprendido já e continuar aprendendo. Por vislumbrar continuar trabalhando com o Antunes em sua próxima peça. Porque eu quero muito ficar com ele.

Currículo extenso: além de posar nu e fazer pornô, Mateus Carrieri fez 22 peças e 20 novelas – Divulgação

E ele sabia que você tinha feito filme pornô?
Não. Ele não sabia! Ficou sabendo na sua entrevista [risos].

E como ele reagiu?
Eu estou apaixonado pelo Antunes! Eu nunca tive um diretor que tivesse tanta preocupação com o ator. O Antunes não está nem aí para o que a gente fez antes. A preocupação dele é o aqui e o agora. O quanto você se dedica ao projeto. Eu até brinquei com ele: “agora que você sabe, você vai me mandar embora?” Ele respondeu: “Imagina, eu não estou nem aí que você rodou bolsinha!” [risos]. No teatro, não tem esse preconceito, não tem julgamento. O próprio O Amante do Meu Marido, ele em nenhum momento desdenhou deste meu trabalho, apesar de não ser a praia dele. Mas ele me deixou fazer até o último sábado.

O Amante do Meu Marido é um grande sucesso de público?
Sim, eu fiz por seis anos para mais de 400 mil pessoas! Claro que não dá para comparar com fazer teatro com o Antunes, porque é outra coisa, é entretenimento. As pessoas vão ao teatro para dar risada e se divertir vendo esta peça. É apenas diferente.

Você acha que esta oportunidade que o Antunes lhe deu pode lhe abrir outras portas, incluindo aí um retorno à TV?
Olha, se eu lhe responder que não, estaria sendo hipócrita. Mas não vejo a televisão como um projeto final. Minha ideia agora é engatar uma nova peça com o Antunes. Acho que as pessoas que forem me ver em Nossa Cidade vão me respeitar mais. Porque o trabalho está lindo, e não estou falando isso por mim, o conjunto todo está maravilhoso. Você vai ver amanhã!

E qual é seu personagem?
Eu faço senhor Webb, que é o pai de uma das famílias da peça. Ele é dono do jornal da cidade, é um americano nacionalista ferrenho do começo do século 20.

Você está nervoso com a estreia?
Sinceramente, não. Eu nunca estive tão bem preparado. Tem o frio na barriga, o nervoso normal, mas tanto eu quanto o elenco estamos muito bem preparados para esta estreia.

Eu uma frase, Mateus, o que você aprendeu nestes quatro meses com o Antunes Filho?
Como o teatro pode entrar na minha vida de um jeito diferente do que eu imaginava.

O Mateus Carrieri (à esq.), com sua família da peça: o teatro entrou em sua vida de uma maneira que ele não poderia sequer imaginar – Foto: Emidio Luisi

Nossa Cidade
Quando: Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. 90 min. Temporada de fim indeterminado
Onde: Teatro Anchieta do Sesc Consolação (r. Dr. Villa Nova, 245, Vila Buarque, Metrô Santa Cecília, São Paulo, tel. 0/xx/11 3234-3000)
Quanto: R$ 32 (inteira); R$ 16 (meia-entrada): e R$ 6,40 (comerciários e dependentes)
Classificação etária: 12 anos

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