Por Miguel Arcanjo Prado
Fazer comédia não é nada fácil. Convencer o público a dar risada de forma espontânea e ainda com certa dose de reflexão é tarefa para poucos.
Pois o humor crítico é a tônica da comédia Divórcio, em cartaz no Teatro Fernando Torres, em São Paulo — já vista por 40 mil pessoas.
O texto de Franz Keppler, dramaturgo que vem se destacando na cena teatral brasileira contemporânea, apresenta o dilema de um ex-casal de advogados que se odeia e acaba se reencontrando profissionalmente em uma ação de divórcio: ele defende uma moça que se define “atriz, modelo, bailarina e personalidade da mídia”, enquanto ela, o jogador de futebol em ascensão com quem a garota foi casada e agora de quem deseja arrancar todo dinheiro possível.
Inteligente, o texto de estreia de Klepper na comédia enfia o dedo na ferida do comportamento atual da sociedade brasileira e da imprensa, mergulhados ambos no frenesi de acontecimentos fabricados das subcelebridades, feitos sob medida para repercussão imediata e “espontânea”.
O diretor Otávio Martins também se faz presente, encontrando soluções que dão leveza e envolvimento maior do público – a cena do flagrante feito por um paparazzi da briga do casal midiático é um grande achado.
José Rubens Chachá, como o advogado, mostra domínio preciso de um bom ator de comédia. Sabe fazer as deixas que provocam gargalhadas no público no tempo certo.
Mesmo assim, é Suzy Rêgo quem traz o público consigo nesta montagem: mais do que técnica, a atriz está crível na pele da advogada, personagem que ela agarra com unhas e dentes. O público não sente só o trabalho de corpo e voz da atriz, como também sua alma – o que é mais importante. Suzy Rêgo está ali naquele palco por inteira. E o espectador a segue, porque não sobra alternativa.
O outro casal da peça, formado por Renata Brás e Pedro Henrique Moutinho, fica atrás do par de advogados. Não porque seus papéis sejam coadjuvantes – muito pelo contrário, a dramaturgia de Klepper dá peso praticamente igual aos quatro personagens –, mas, porque a verdade possível é engolida pela caricatura.
Isso até pode ser enxergado como uma proposta, já que tais tipos na vida real realmente chegam a ser caricatos; contudo, os que povoam a TV e sites ainda conseguem maior verossimilhança em sua construção bizarra do que os tipos apresentados no palco.
Divórcio é uma comédia para divertir a plateia ao mesmo tempo em que busca uma reflexão profunda da maneira como a nossa sociedade – e a grande mídia está embutida aí – valoriza as pessoas pela quantidade de cliques de paparazzi que elas rendem e não pelo seu real talento ou valor. O espetáculo é feito de humor inteligente e está ligado ao seu tempo, e ainda traz o brilho de uma atriz entregue chamada Suzy Rêgo.
Divórcio
Avaliação: Bom
Quando: Sexta, 21h30; sábado, 21; e domingo, 19h. 80 min. Até 17/11/2013
Onde: Teatro Fernando Torres (r. Padre Estevão Pernet, 588, metrô Tatuapé, São Paulo, tel. 0/xx/11 2227-1025)
Quanto: R$ 40 (sexta e domingo) e R$ 50 (sábado)
Classificação etária: 14 anos
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