Polêmica: Grupo de Porto Alegre Ói Nóis Aqui Traveiz dispensa público em SP e gera revolta
Por Rodolfo Lima, em São Paulo
Especial para o Atores & Bastidores*
Não é fácil assistir às montagens da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Grupo mítico de Porto Alegre, tem uma dinâmica de vivência e encenação que torna complexa qualquer deslocamento do grupo.
Eis que a trupe aportou na sede do Teatro Vento Forte, para 12 apresentações de Medeia Vozes em São Paulo.
Um espetáculo de três horas e meia, em cartaz de terça a domingo, durante duas semanas, praticamente apresentando sem pausas.
Semana de cancelamentos
A segunda semana foi tumultuada para um grupo que deu sinais de cansaço e adoeceu e, sendo assim, resolveu ignorar o público que se dispôs a ir vê-los. Explico.
Estive presente na quarta (16), na sexta (18) e no domingo (20). Não, não sou um neurótico aficionado pelo grupo e nem compartilho das diretrizes internas de vivência do grupo. Mas reconheço o trabalho singular que o grupo executa e não podia deixar de apreciar mais um dos seus inúmeros trabalhos.
Quarta chovia torrencialmente, e eles cancelaram. Há cenas externas – segundo amigos que assistiram em sessões sem a lotação máxima, 35 pessoas – que ficam inviabilizadas por causa da chuva. No lugar da apresentação, o grupo resolver falar sobre o processo, já que havia uma turma de escola, e o professor tinha transferido sua aula para o terreiro da trupe.
Sexta, dez minutos antes do inicio da peça, começa uma chuva que faz o grupo cancelar a apresentação às 20h20. Casa lotada, público do lado de fora. Os atuadores vêm a público se desculpar e cumprimentar os presentes. Há vozes pedindo que o grupo espere mais um pouco, “vai que a chuva pare”, mas não são ouvidos.
“Estamos cansados”
Antes da decisão final, um dos integrantes informa: “cancelamos o espetáculo na quarta, na quinta – em função de um mal estar de Tânia Farias – e não gostaríamos de cancelar hoje. Estamos todos cansados e prontos”.
Nunca vi um artista usar a desculpa de “estar cansado”, penso alto.
Não desisto de apreciar o trabalho, retorno no domingo, chego às 18h – a entrega de senhas seria às 19h30 – e eis que o “grupo” informa que: “muitas pessoas que não conseguiram ver nos dias em que as apresentações foram canceladas, ligaram e o “grupo” gentilmente reservou os lugares para tais pessoas, e que as poucas senhas que havia eles já tinha distribuído”.
Oi?
Desde quando se podia ligar para reservar lugar? Em qual número? Em nenhum dos dois dias – cancelados por causa da chuva – o grupo informou ao público em geral, tal opção. Ao serem questionados: cadê essas pessoas que pegaram a senha hoje? A resposta: nós a dispensamos para comer algo, voltam mais tarde. Será?
“Cozido gostoso”
Quando questiono: ah, vocês acham isso correto? O representante do grupo disse que não podia fazer nada.
Inconformado cutuco: Se vocês querem fazer “teatro pra panela” fizesse uma apresentação extra antes.O hostess da trupe debocha: Não sei o que é isso, mas aqui dentro nos fazemos um cozido bem gostoso.
Sou dado a piadas e ironias, mas era impossível rir e compartilhar daquele resposta chinfrim.
O que se via ali, era um desrespeito com o público que se disponibilizou a chegar duas horas antes. Seria mais honesto que o grupo assumisse uma apresentação fechada para os amigos. Mas não… resolveram ignorar a inteligência do público. Atitude totalmente contrária aos ditos ideais do grupo.
Descaso com o público
Nunca vi tanto descaso nas filas paulistas. Sou ator e jornalista, frequentador assíduo de teatro, possuo livros do grupo, e foi decepcionante ver que os famigerados atuadores não estavam interessados em atender a população em geral, e sim, a “própria turma teatral”.
Bom… eu como não gosto de cozido, me retirei. Fiquei sabendo naquele momento que o grupo nada tem a me oferecer.
*Rodolfo Lima é jornalista, ator e mestrando na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Nota do Editor: O R7 fez contato com A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, mas não houve resposta até o momento.
Arte para todos, não é? Por que e para que selecionar o público? Bem triste.
Paulinho, também acho que se for uma apresentação para convidados o público deve ser sempre avisado antes. E acho desrespeitoso de um grupo teatral, uma arte que tanto precisa do público, dispensar espectadores. O ideal seria sempre se dar um jeito ou fazer uma sessão extra e chamar aqueles que não puderam entrar. Seria o mais elegante. Pena que o grupo não se pronuncie sobre o caso, o que é lamentável a meu ver. Porque demonstra descaso para com o debate e o diálogo democrático. Abraços e obrigado pela leitura!
Sr. Rodolfo Lima, estou vingado. Fui assistir sua peça “Bicha Oca” e o senhor interage com uma faca a centimetros no meu olho. Sai da peça no mesmo instante e fui ridicularizado pelo senhor, para aqueles que assistiam. Veja como não é fácil ser plateia de TEATRO AMADOR. Que o senhor tenha TUDO AQUILO que mereça.
Essas apresentações do grupo de Porto Alegre foram bancadas com dinheiro da iniciativa privada? Porque se foram, não há muito o que fazer. Apenas lamentar.
Caro Marcelo, quero esclarecer que eu como artista e como cidadão, acho que você agiu certo ao se retirar da peça(Bicha Oca), quando se sentiu ameaçado. É claro que aquilo se tratava de uma encenação/uma mentira, e isso ocorre em todas as apresentações. Nunca ocorreu um acidente. Não fui “eu” quem ridicularizou o sr, repito – acho que você estava no seu direito – mas o personagem, faz parte da proposta o deboche do Seu Alceu,o improviso. A paga só valeria – no caso do texto acima – se eu tivesse entrado para assistir e me sentindo inseguro, saísse no meio da encenação. Mas, nem isso foi possível. Portanto são questões diferentes. Quanto ao Teatro Amador, bom… hoje em dia é um conceito bem questionável. E espero mesmo que eu tenha tudo o que mereça. Pois assim é a vida. Att.
Seria pertinente saber se esse grupo que desrespeita o público tem apoio do mecenato oficial, seja em encaminhamentos federais, estaduais ou municipais. Se tem, essa conduta leviana é ainda mais grave, pois usa de forma irresponsável o dinheiro do povo ou que seria do povo (renúncia fiscal).
Sim, Alfie e Felipe. Eles tinham o apoio da Petrobras para as duas semanas em SP :/ o logo estampava o banner na entrada do teatro
Rodolfo, obrigado pela informação! Bem, considerando que, ainda que a PETROBRAS seja uma sociedade anônima, o acionista majoritário é a União. Assim, acho lamentável a postura adotada. Não estava lá para saber se foi ou não seleção de público, porém creio que, em respeito ao público de outro Estado da federação (São Paulo), o pessoal deveria prolongar a apresentação – sem onerar orçamentos – e, assim, efetuar uma ação corretiva, permitindo que o público da região possa assistir ao espetáculo.